Em toda parte, em parte nenhuma: considerações sobre a Torre do Relógio, monumento-símbolo da Universidade de São Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-8354.v14i14p11-51

Palavras-chave:

Arquitetura moderna., História., Monumento., Universidade de São Paulo., Rino Levi., Elisabeth Nobiling.

Resumo

No dia 17 de dezembro de 1968, quatro dias após a promulgação do Ato Institucional n. 5 (AI-5), o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp) amanheceu cercado por tanques de guerra. Mais de mil estudantes foram interrogados; muitos deles presos ou perseguidos, com desdobramentos funestos. O principal núcleo de convívio e resistência da universidade, naquele instante, foi desocupado. Lindeiro aos blocos, um amplo descampado aguardava ser transformado, pela via do projeto, em um palco aberto a manifestações culturais e políticas. Nesta ágora moderna seria implantado um conjunto de edifícios, com finalidades diversas, e um monumento de feições totêmicas, conhecido como Torre do Relógio. Sua inserção na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (Cuaso), sede da Universidade de São Paulo (USP), constitui o objeto de investigação do presente artigo. Em um primeiro bloco são apresentadas as diferentes acepções de sociabilidade propostas para a universidade e, mais particularmente, analisadas as versões de projeto para o núcleo central de convivência. O segundo bloco examina as intenções de projeto do monumento concebido por Rino Levi e Elisabeth Nobiling, levando-se em consideração a apropriação do território universitário pelo Movimento Estudantil (ME) durante o processo de redemocratização política brasileira dos anos 1960-1970. Interessa-nos, neste recorte, examinar os horrores do passado para que possamos evitar retrocessos no futuro.

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Biografia do Autor

  • Helio Herbst, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    Arquiteto e Urbanista (1990), Especialista (1996), Mestre (2002) e Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2007). Bolsista nas etapas de especialização (CNPq) e mestrado (FAPESP). Professor adjunto na Universidade Bandeirante de São Paulo, entre 2001 e 2009. Neste mesmo ano, torna-se professor adjunto no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e, desde 2010, coordena o Grupo de Pesquisas em Expressão, Representação e Análise da Forma em Arquitetura e Urbanismo, no qual desenvolve estudos sobre habitação moderna no Rio de Janeiro, com apoio institucional do CNPq, da FAPERJ e do Instituto Moreira Salles. Participa com regularidade de diversos fóruns científicos e assina diversas publicações, entre as quais se inscrevem os livros Pelos salões das bienais, a arquitetura ausente dos manuais: contribuições para a historiografia brasileira (1951-1959), no qual discute o papel desempenhado pelas bienais de arte paulistanas para a difusão de uma dada concepção sobre a arquitetura moderna brasileira, e Dez anos de arquitetura na Rural: percursos e perspectivas do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no qual documenta o cotidiano do único curso federal de Arquitetura e Urbanismo oferecido fora do município-sede de uma região metropolitana brasileira – no caso, em Seropédica a 75 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. 

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Publicado

2023-07-27

Como Citar

Herbst, H. (2023). Em toda parte, em parte nenhuma: considerações sobre a Torre do Relógio, monumento-símbolo da Universidade de São Paulo. Revista ARA, 14(14), 11-51. https://doi.org/10.11606/issn.2525-8354.v14i14p11-51