Análise do resultado obstétrico de partos submetidos a anestesia de condução e das repercussões neonatais imediatas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i5p448-455

Palavras-chave:

Gestantes, Maternidades, Anestesia, Trabalho de parto

Resumo

Introdução: A anestesia é um recurso importante no alívio da dor durante o trabalho de parto (TP). Não é um procedimento isento de riscos e sua utilização envolve decisão com base nas condições clínicas e obstétricas, desejo da mulher e disponibilidade do procedimento. O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre essa intervenção com a ocorrência de parto operatório e baixo escore de Apgar. Método: Estudo retrospectivo de base de dados hospitalar contendo 5.282 parturientes com gestação única, de feto em apresentação cefálica nascido vivo e sem malformação, entre os 8.591 nascimentos ocorridos no período de 2014 a 2017, na maternidade do Hospital das Clínicas da UFMG. Desfechos de interesse foram comparados entre partos conduzidos com ou sem anestesia, através de testes de associação. Resultados: A ocorrência de anestesia de condução de TP foi de 29,9%, sendo mais frequente entre adolescentes (33,3% versus 29,1%; p = 0,008), nulíparas (39,7% versus 21,6%; p<0,001), naquelas com parto induzido (40,6% versus 26,5%; p<0,001), portadoras de cardiopatias (53,5% versus 29,6%; p<0,001) e parturientes cujos recém-nascidos pesaram 2500 g ou mais ao nascer (31,3% versus 19,7%; p<0,001). Houve associação entre anestesia e aumento do uso de fórceps (15,7% versus 1,8%; p<0,001) e de vacum extrator (2,0% versus 0,6%; p < 0,001), porém ocorreu redução das taxas de cesariana (7,3% versus 12,9%; p<0,001). O uso da anestesia associou-se à maior ocorrência de Apgar de 1o minuto < 7 (p<0,001), mas não alterou o de 5o (p=0,243). A nuliparidade parece ter influência sobre a ocorrência de parto cesariano (8,6% versus 5,2%; p = 0,013) e uso de fórceps (19,4% versus 9,8%; p<0.001). Conclusão: O uso de anestesia de condução no parto associou-se ao parto vaginal operatório, e à menor taxa de cesariana, sem impacto no Apgar de 5o minuto.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Gabriela Ribeiro Gontijo, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

    Médica graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

  • Marilene Miranda Araújo, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Hospital das Clínicas

    Médica anestesiologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

  • Zilma Silveira Nogueira Reis, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Medicina, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia

    Professora adjunta do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Referências

Dunn PM. Sir James Young Simpson (1811–1870) and obstetric anaesthesia. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2002;86(3):F207-F209. doi: https://doi.org/10.1136/fn.86.3.F207.

Committee on Practice Bulletins - Obstetrics. Practice Bulletin No. 177: Obstetric Analgesia and Anesthesia. Obstet Gynecol. 2017;129(4):e73-e89. doi: https://doi.org/10.1097/AOG.0000000000002018.

Onuoha OC. Epidural analgesia for labor: continuous infusion versus programmed intermittent bolus. Anesthesiol Clin. 2017;35(1):1-14. doi: https://doi.org/10.1016/j.anclin.2016.09.003.

Fernandes ML, Andrade FCJD. Analgesia de parto: bases anatômicas e fisiológicas. Rev Med Minas Gerais. 2008;19(3 supl.1):S3-S6. Disponível em: http://rmmg.org/exportar-pdf/1228/v19n3s1a02.pdf.

Cunha AA. Analgesia e anestesia no trabalho de parto e parto. Femina. 2010;38(11):599-606. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n11/a599-606.pdf.

Macendo Amaral HR, Sarmento Filho ED, Matos Silva D, Xavier Gomes LM, de Andrade Barbosa TL. Repercussões maternas e fetais da analgesia obstétrica: uma revisão integrativa. Av Enferm. 2015;33(2):282-94. doi: http://dx.doi.org/10.15446/av.enferm.v33n2.52176.

Brasil. Ministério da Saúde. Gravidez, parto e nascimento com saúde, qualidade de vida e bem-estar. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2013. p.20. Disponível em: https://mesm.uncisal.edu.br/wp-content/uploads/2017/04/GRAVIDEZ-PARTO-E-NASCIMENTO-COM-SA%C3%9ADE.pdf.

Gaspar J, Chagas J, Osanan GC, Cruz-Correa R, Reis ZSN. Maternal and Neonatal Healthcare Information System: Development of an Obstetric Electronic Health Record and Healthcare Indicators Dashboard. In: Bursa M, Khuri S, Renda ME, editors. Information Technology in Bio- and Medical Informatics: 4th International Conference, ITBAM 2013, Prague, Czech Republic, August 28, 2013. Proceedings. Berlin: Springer; 2013. p.62-76. doi: https://doi.org/10.1007/978-3-642-40093-3_5.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF); 2012. p.56. (Série A. Normas e Manuais Técnicos Cadernos de Atenção Básica, n° 32). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf.

Aguiar RALPD, et al. Protocolo de condutas da Maternidade Otto Cirne do Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte; 2014.

WHO Study Group on Young People and ‘Health for All by the Year 2000’ & World Health Organization. (‎1986)‎. Young people’s health - a challenge for society: report of a WHO Study Group on Young People and “Health for All by the Year 2000” [‎meeting held in Geneva from 4 to 8 June 1984]‎. World Health Organization. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/41720.

Anim-Somuah M, Smyth RM, Cyna AM, Cuthbert A. Epidural versus non-epidural or no analgesia for pain management in labour. Cochrane Database Syst Rev. 2018;5:Cd000331. doi: https://doi.org/10.1002/14651858.CD000331.pub4.

World Health Organization. WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Web annex. Evidence base. Geneva; 2018 (WHO/RHR/18.04). Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/260215/WHO-RHR-18.04-eng.pdf;jsessionid=0BE165C34D9E96199E8801A18070177C?sequence=1

Antonakou A, Papoutsis D. The effect of epidural analgesia on the delivery outcome of induced labour: a retrospective case series. Obstetr Gynecol Int. 2016;2016:5. http://dx.doi.org/10.1155/2016/5740534.

Pereira RIC, Cecatti JG, Oliveira ASD. Dor no trabalho de parto: fisiologia e o papel da analgesia peridural. Rev Ciênc Méd (Campinas). 1998;7(3):79-84. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-70942007000100005.

França MA, Araujo SA, Abreu EMF, Jorge JC. Anestesia peridural: vantagens e desvantagens na prática anestésica atual. Rev Méd Minas Gerais. 2015;25(S4):S36-S47. doi: https://doi.org/10.5935/2238-3182.20150060.

Yamashita AM, Falcão LFDR. Anestesia para gestante cardiopata. Rev Soc Cardiol Est Sao Paulo. 2010;20(4):469-80. ID: lil-574398 19(4 Supl 1):S21-S62

Regitz-Zagrosek V, Roos-Hesselink JW, Bauersachs J, et al. 2018 ESC Guidelines for the management of cardiovascular diseases during pregnancy: the task force for the management of cardiovascular diseases during pregnancy of the European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2018;39(34):3165-241. doi: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehy340.

Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal. Brasília; 2017. p.53. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Gestação de alto risco: manual técnico. Série A Normas e Manuais Técnicos. Brasília; 2012. p.301. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf.

Guerra GV, Cecatti JG, Souza JP, et al. Elective induction versus spontaneous labour in Latin America. Bull World Health Organ. 2011;89(9):657-65. doi: https://doi.org/ 10.2471/BLT.08.061226.

Bittar RE. Parto pré-termo. Rev Med (São Paulo). 2018;97(2):195-207. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v97i2p195-207.

Johanson R, Menon V. WITHDRAWN: Vacuum extraction versus forceps for assisted vaginal delivery. Cochrane Database Syst Rev. 2010(11):CD000224. doi: https://doi.org/ 10.1002/14651858.CD000224.

Publicado

2020-12-10

Edição

Seção

Artigos/Articles

Como Citar

Gontijo, G. R., Araújo, M. M., & Reis, Z. S. N. (2020). Análise do resultado obstétrico de partos submetidos a anestesia de condução e das repercussões neonatais imediatas. Revista De Medicina, 99(5), 448-455. https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i5p448-455