Insuficiência cardíaca grave e rapidamente progressiva em paciente adulto jovem com cardiomiopatia chagásica crônica: desafio diagnóstico e terapêutico
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i5p512-518Palavras-chave:
Cardiomiopatia Chagásica, Doença de Chagas, Insuficiência CardíacaResumo
A Doença de Chagas é responsável por 12 mil mortes anualmente nas Américas em decorrência da Cardiomiopatia Chagásica crônica (CCC) que ocorre em 20 a 30% dos infectados, após os 60 anos, 30 a 40 anos após a primo-infecção, levando à Insuficiência Cardíaca (IC) biventricular, arritmias, bloqueios e embolias. O diagnóstico é baseado na epidemiologia, quadro clínico, alterações eletrocardiográficas e de exames de imagem associados à sorologia. O presente estudo relata o caso de paciente com evolução atípica para a idade devido à rápida progressão para IC avançada e refratária, associada à alta morbimortalidade, manifestação tipicamente tardia da CCC. Caso clínico: paciente de 37 anos, sexo feminino, internada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital terciário no interior do Estado de São Paulo por IC congestiva descompensada, associada a derrame pleural. O ecocardiograma e sorologia para Trypanossoma Cruzi confirmaram o diagnóstico de CCC e risco de mortalidade estimado em 84%. Foi iniciado tratamento com betabloqueador, espironolactona, diurético, enalapril e paciente recebeu alta. Após 20 meses, reinternou com choque cardiogênico, síndrome cardiorrenal e fibrilação atrial tratados com diuréticos, inotrópicos e amiodarona, evoluindo para óbito após três dias. Não foi possível encaminhamento para terapia de ressincronização ou transplante cardíaco, devido à comorbidade psiquiátrica, má adesão medicamentosa e indisponibilidade no serviço. A precocidade da apresentação da IC avançada e refratária, neste caso, revela a importância da adesão ao tratamento medicamentoso, redução de reinternações e o rápido referenciamento a centro de transplante e suporte ventricular, como tentativa de diminuir a morbimortalidade desses pacientes.
Downloads
Referências
Schmidt A, Filho AP, Neto JAM, Maciel BC. Epidemiologia no século XXI e aspectos clínicos da doença de chagas crônica. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2016;26(4):230-3. Disponível em: http://socesp.org.br/revista/edicoes-anteriores/volume-26-n4-outubro-dezembro-2016/epidemiologia-no-seculo-xxi-e-aspectos-clinicos-da-doenca-de-chagas-cronica-/549/79/.
Bocchi EA, Mendea TM, Issa VC. Novas abordagens terapêuticas na doença de chagas: terapia celular, anticorpos, aférese. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2016;26(4):261-5.
Silva HC, Aras R, Galdame AMA, Martinez-Silveira MS, Grassi MFR, Silva RJ et al. Avaliação clínica na atenção primária e infectologia dos pacientes com doença de Chagas na forma crônica. Rev Baiana Saúde Pública. 2013;37(supl. 1):7-21.
Dias JC, Ramos Jr. NA, Gontijo ED, Luquetti A, Shikanai-Yasuda MA, Coura JR, et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas, 2015. Epidemiol Serv Saúde (Brasília). 2016;25:7-86. doi: 10.5123/s1679-49742016000500002.
Junior ASM, Lopes CC, Cavalcante PF, Martins E. Chronic Chagas cardiomyopathy patients and resynchronization therapy: a survival analysis. Braz J Cardiovasc Surg. 2018;33(1):82-8. doi: https://doi.org/10.21470/1678-9741-2017-0134.
Andrade JA, Marin-Neto JA, Paola AAV, Vilas-Boas F, Oliveira GMM, Bacal F, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 supl.3):1-48.
Nunes MC, Beaton A, Acquatella H, Bern C, Bolger AF, Echeverria LE, Dutra WO, et al. Chagas cardiomyopathy: an update of current clinical knowledge and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2018;138:169-209. doi: https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000599.
World Health Organization. Chagas disease in Latin America: an epidemiological update based on 2010 estimates. Wkly Epidemiol Rec hebdomadaire, 2015;90(6):33-44. https://apps.who.int/iris/handle/10665/242316.
Rassi Jr A, Rassi A, Marin-Neto JA. Chagas heart disease: pathophysiologic mechanisms, prognostic factors and risk stratification. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2009;104(Suppl 1):152-8. doi: https://doi.org/10.1590/S0074-02762009000900021
Brasil. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas doença de Chagas, n.397. Brasília, DF; 2018.
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018;111(3):436-539. doi: https://doi.org/10.5935/abc.20180190.
Simões MV, Romano MMD, Schmidt A, Martins KSM, Marin-Neto JA. Cardiomiopatia da Doença de Chagas. Int J Cardiovasc Sci. 2018;31(2):173-89. doi: https://doi.org/10.5935/2359-4802.20180011.
Morillo CA, Marin-Neto JA, Avezum A, Sosa-Estani S, Rassi A, Jr., Rosas F, Vellena E, Quiroz R, Bonilla R, Britto C, Guhl J, Mattos A, Lazdins J, Rassi A, Connoly SJ, Yusuf S, BENEFIT Investigators. Randomized Trial of Benznidazole for Chronic Chagas’ Cardiomyopathy. N Engl J Med. 2015;373:1295-306. doi: https://doi.org/10.1056/NEJMoa1507574
Bestetti RB. Cardiomiopatia chagásica crônica: diagnóstico e tratamento. Rev Soc Cardiol Est São Paulo. 2016;26(4):246-52.
Bacal F, Marcondes-Braga FG, Rohde LEP, Júnior JLX, Brito FS, Moura LZ, et al. 3ª Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco. Arq Bras Cardiol. 2018;111 (2):230-89. doi: https://doi.org/10.5935/abc. 20180153.
Vilas-Boas F, Feitosa G, Soares M, Pinho-Filho J, Mota A, Almeida A, et al. Transplante de células da medula óssea na insuficiência cardíaca chagásica: relato da primeira experiência humana. Arq Bras Cardiol São Paulo. 2011;.96. doi: https://doi.org/10.1590/S0066-782X2011005000028.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Ana Flávia Pereira de Morais, Dandara Freitas da Silveira e Souza, Murilo Henrique Fabri Tomazini, Cynthia Kallás Bachur, Rui Pereira Caparelli de Oliveira

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.