Consequências do acometimento grave por covid-19 para a ocorrência dos sonhos

Resumo

Introdução: Embora a origem dos sonhos ainda permaneça uma incógnita, a relação destes com a experiência vivenciada parece ser uma constante. Desta forma, durante o período pandêmico relacionado ao Coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG-CoV-2) que modificou o cotidiano da população de forma súbita e intensa, seria esperado que houvesse repercussão imediata sobre os sonhos, fato este constatado em estudos, sobretudo de base psicanalítica. Objetivos: Analisar as consequências em pacientes portadores da forma grave de COVID-19 sobre os sonhos, por meio da coleta de informações acerca de episódios oníricos relatados, durante, antes e após o acometimento pela doença. Metodologia: O estudo: O estudo predominantemente qualitativo foi realizado mediante o preenchimento de questionários a partir de entrevistas realizadas com os participantes. O grupo de estudo incluiu indivíduos maiores de 18 anos que desenvolveram forma grave ou crítica de acometimento pela SRAG-CoV-2. Os dados coletados foram analisados através de software estatístico e calculadas medidas de frequência para as diferentes respostas objetivas. Resultados: Foram realizadas seis entrevistas com pacientes recuperados. Desses, 66,6% relataram a permanência da frequência dos sonhos após a alta, e 50% observaram maior presença de conteúdos positivos durante a internação. Todos relataram impactos físicos e emocionais, como alopecia, ansiedade, déficit de memória e sintomas depressivos. Metade dos participantes mencionou experiências oníricas com conotações espirituais, e 83,3% buscaram apoio familiar ou social para compreender os conteúdos vivenciados. Emoções como medo e solidão foram comuns em todos os relatos. Discussão: Os resultados deste estudo sugerem que os sonhos parecem expressar representações simbólicas do trauma emocional associado à COVID-19 grave. A ausência de conteúdos negativos após a recuperação pode indicar adaptação emocional. Conclusão: Apesar do número reduzido de participantes, o estudo sugere que a COVID-19 grave influenciou significativamente os sonhos dos pacientes hospitalizados, e evidenciou a importância de suporte psicológico e de novas investigações com um número maior de participantes.