Reabordagem Cirúrgica em Valva Mitral por Múltiplas Disfunções Protéticas: Relato de Caso

Resumo

Introdução: A implantação de válvula em válvula (v-in-v) tornou-se comum nos últimos anos. Entretanto, podem ocorrer complicações como leak paravalvar, endocardite infecciosa ou até mesmo desinserção da prótese. Descrevemos um caso raro de deslocamento de bioprótese mitral em direção ao átrio esquerdo três anos após uma segunda v-in-v.

Relato de caso: Homem de 56 anos foi admitido no pronto-socorro por insuficiência cardíaca descompensada perfil B. Apresentava história de hepatopatia e múltiplas trocas valvares mitrais (1985, 2005 e 2011), além de v-in -v em 2020, e novamente em 2021 (por trombose da prótese mitral implantada) Ao exame físico apresentava ritmo cardíaco irregular, sopro holossistólico 4+/6+ em foco mitral, estertores em bases pulmonares, ascite e edema de membros inferiores 2+/4+. Ecocardiograma transesofágico (ETE) mostrou fração de ejeção de ventrículo esquerdo de 67%, bioprótese mitral deslocada em direção ao átrio, com deiscência parcial e vazamento paraprotético importante (Figura 1), associado a gradiente de pico átrio esquerdo-ventrículo esquerdo = 28 mmHg e gradiente médio = 7 mmHg (Figura 2). Além disso, foram observadas insuficiência significativa e pressão sistólica da artéria pulmonar estimada em 105 mmHg. O paciente evoluiu com piora clínica e choque cardiogênico. Apesar do elevado risco cirúrgico (Euroscore II = 14), foi realizada cirurgia de urgência em valva mitral,  com implante de nova bioprótese mitral e plastia da valva tricúspide. Não foram observados sinais de endocardite infecciosa no exame anatomopatológico e o paciente recebeu alta com melhora clínica significativa. Conclusões: Pacientes com endopróteses mitrais podem apresentar complicações precoces ou tardias. O acompanhamento clínico e ecocardiográfico cuidadoso, associado à intervenção cirúrgica imediata, permitiu boa evolução clínica do paciente.