O Impacto do Projeto MadAlegria na Formação Humanizada e no Desenvolvimento de Empatia de Egressos
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v104iesp.e-242593Palavras-chave:
Humanização, Comportamento, Educação Médica, Voluntariado, EmpatiaResumo
Nas últimas décadas, observa-se, concomitantemente a um avanço expressivo no campo técnico-científico da saúde, o distanciamento expressivo nas relações interpessoais no cuidado. Tal cenário contrasta com a definição de Saúde proposta pela Organização Mundial da Saúde — como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade1 — e com os princípios da Política Nacional de Humanização (PNH) do Sistema Único de Saúde, que reconhece a centralidade do sujeito em todas as dimensões do cuidado2.
No Brasil, adicionou-se à definição de Saúde o conceito de “direito fundamental do ser humano”, em 1990, através da Lei Orgânica da Saúde3. Além disso, com o intuito de valorizar os sujeitos envolvidos no cuidado, englobando usuários, profissionais e gestores, surgiu em 2003 a Política Nacional de Humanização, pautada em princípios como: Transversalidade, Indissociabilidade entre atenção e gestão, além de protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos2,4. A Humanização configura-se como um componente essencial tanto na prática clínica quanto na formação de profissionais da área da saúde. No ensino desses profissionais, o desenvolvimento de competências como empatia, escuta ativa e acolhimento é fundamental para garantir uma assistência centrada no paciente5-7. Contudo, observa-se um descompasso entre o avanço técnico-científico e a qualidade das interações humanas na atenção à saúde nas últimas décadas, o que reforça a necessidade de estratégias educativas voltadas à formação humanizada8-12.
Nesse contexto, o Projeto MadAlegria surgiu com o intuito de incentivar práticas humanizadas no aprendizado e no comportamento profissional de seus participantes. Criado em 2011 por estudantes e docentes da Universidade de São Paulo (USP), o MadAlegria é um projeto de Cultura e Extensão Universitária voltado à promoção da humanização na formação de profissionais de saúde, sobretudo na graduação, e melhora do ambiente hospitalar, tornando-o mais acolhedor para pacientes, acompanhantes e profissionais. O projeto utiliza desde 2012 duas linguagens artísticas lúdicas: palhaçaria (palhaços de hospital) e contação de histórias. As linguagens são usadas para o desenvolvimento de competências relacionais, como empatia, escuta ativa, trabalho em equipe e sensibilidade à experiência do outro13-15.
Downloads
Referências
World Health Organization. Constitution of the World Health Organization. Basic Documents. Geneva: World Health Organization; 1946.
Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Saúde. Documento Base. 4a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.
Brasil. Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União; 1990 Set 20.
Pasche DF, Passos E, Hennington ÉA. Cinco anos da política nacional de humanização: trajetória de uma política pública. Ciênc Saúde Coletiva. 2011 Nov;16(11):4541-8.
Calegari Rde C, Massarollo MC, Santos MJ. Humanization of health care in the perception of nurses and physicians of a private hospital. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(4):595–601.
Rios IC. Humanização e ambiente de trabalho na visão de profissionais da saúde. Saude Soc [Internet]. 2008 Oct [citado 2025 Nov 07];17(4):151-60. Doi: https://doi.org/10.1590/S0104-12902008000400015
Rios IC, Sirino CB. A Humanização no Ensino de Graduação em Medicina: o Olhar dos Estudantes. Rev Bras Educ Med [Internet]. 2015;39(3):401-9. Doi: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v39n3e00092015
Rios IC. Humanidades e medicina: razão e sensibilidade na formação médica. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2010;15(Suppl 1):1725-32. Doi: https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000700084
Rios IC. Communication skills in medicine. Rev Med (São Paulo). 2012;91(3):159-62. Doi: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v91i3p159-162
Rios IC. Patient perspective on the good doctor. Med Educ. 2019;53(11):1147-8. Doi: https://doi.org/10.1111/medu.13988.
Pessini L, Bertachini L. Humanização e cuidados paliativos. São Paulo: Loyola; 2004.
Lumish R, Simpkins S, Black J, Whittaker CF. Fostering empathy and self-efficacy in pharmacy students through service learning. Curr Pharm Teach Learn. 2022;14(4):536-46. Doi: https://doi.org/10.1016/j.cptl.2022.03.002.
Utsunomiya KF, Ferreira EAG, Oliveira AM, Arai HT, Basile MA. MadAlegria – Palhaços de hospital: proposta multidisciplinar de humanização em saúde. Rev Med (São Paulo). 2012;91(3):202-8.
Takahagui FM, Moraes ÉN de S, Beraldi GH, Akamine GK, Basile MA, Scivoletto S. MadAlegria - Estudantes de medicina atuando como doutores-palhaços: estratégia útil para humanização do ensino médico? Rev Bras Educ Med. 2014;38(1):120-6.
Utsunomiya KF, Basile MA, Lopes TE, Okajima LT, Ferreira EAG. MadAlegria: a valorização de estratégias de humanização na formação do profissional de saúde. Rev Med. 2015;94(2):87-93. Doi: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v94i2p87-93
Harris PA, Taylor R, Thielke R, Payne J, Gonzalez N, Conde JG. Research electronic data capture (REDCap) – A metadata-driven methodology and workflow process for providing translational research informatics support. J Biomed Inform. 2009;42(2):377-81. Doi: https://doi.org/10.1016/j.jbi.2008.08.010
Harris PA, Taylor R, Minor BL, Elliott V, Fernandez M, O’Neal L, Mc Leod L, Delacqua G, Delacqua F, Kirby J, Duda SN, REDCap Consortium. The REDCap consortium: Building an international community of software partners. J Biomed Inform. 2019;103208. Doi: https://doi.org/10.1016/j.jbi.2019.103208
Paro HB, Daud-Gallotti RM, Tibério IC, Pinto RM, Martins MA. Brazilian version of the Jefferson Scale of Empathy: psychometric properties and factor analysis. BMC Med Educ. 2012;12:73. Doi: https://doi.org/10.1186/1472-6920-12-73
Hojat M, DeSantis J, Shannon SC, Mortensen LH, Speicher MR, Bragan L, LaNoue M, Calabrese LH. The Jefferson Scale of Empathy: a nationwide study of measurement properties, underlying components, latent variable structure, and national norms in medical students. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2018;23(5):899-920. Doi: https://doi.org/10.1007/s10459-018-9839-9
Levett-Jones T, Cant R. The empathy continuum: An evidenced-based teaching model derived from an integrative review of contemporary nursing literature. J Clin Nurs. 2020;29(7-8):1026-40. Doi: https://doi.org/10.1111/jocn.15137
Heyes C. Empathy is not in our genes. Neurosci Biobehav Rev. 2018;95:499-507. Doi: https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2018.11.001
Soares Â. As emoções do care. In: Hirata H, Guimarães NA, organizadores. Cuidado e cuidadoras: as várias faces do trabalho do care. São Paulo: Atlas; 2012. p. 44-60.
Chen L, Zhang J, Zhu Y, Shan J, Zeng L. Exploration and practice of humanistic education fo r medical students based on volunteerism. Med Educ Online. 2023;28(1):2182691. Doi: https://doi.org/10.1080/10872981.2023.2182691
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Santos, JA, Ribeiro, LCSL, Costa, PB, Ferreira, EAG

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.