Neurodesenvolvimento infantil aos 36 meses de idade: O papel da análise de exposições a adversidades no início da vida
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v104iesp.e-243236Palavras-chave:
Child development, Early life adversity, Dimensional modelResumo
As adversidades ao início da vida (AIVs) representam um importante problema de saúde pública devido às suas consequências de longo prazo sobre desfechos clínicos e do desenvolvimento1. Compreender como as AIVs influenciam o desenvolvimento infantil é essencial para orientar estratégias de prevenção e intervenção que melhorem os desfechos de desenvolvimento individuais e em nível populacional. O Modelo Dimensional das Adversidades e Psicopatologia (DMAP) oferece um arcabouço neurobiológico para conceituar como experiências ambientais distintas influenciam o neurodesenvolvimento por meio de mecanismos parcialmente específicos2. Além disso, o DMAP possibilita examinar múltiplas adversidades simultâneas às quais crianças são comumente expostas3, especialmente em países menos desenvolvidos, onde certas formas de adversidade permanecem insuficientemente estudadas4.
Aqui, reportamos nossa contribuição para essa discussão ao avaliar como as dimensões de ameaça e privação se relacionam com o neurodesenvolvimento aos 36 meses em um contexto de adversidades sobrepostas. Analisamos dados de participantes de 36 meses da Coorte de Nascimentos da Região Oeste de São Paulo (ROC)5. Variáveis compostas de ameaça e privação foram derivadas de questionários validados preenchidos por cuidadores. A dimensão de ameaça contemplou exposição à violência doméstica e comunitária, enquanto a privação agrupou indicadores de qualidade domiciliar, segurança alimentar e nível educacional do cuidador. Modelos de regressão multivariável ajustados para fatores de confusão foram usados para avaliar associações entre as dimensões de API e desfechos do desenvolvimento, incluindo esforço de controle, desenvolvimento global e problemas internalizantes e externalizantes. Dos 3.619 crianças da coorte, 1.567 atenderam aos critérios de elegibilidade com base na disponibilidade de dados e ausência de comorbidades.
Estimativas obtidas por bootstrap indicaram que a exposição à ameaça foi significativamente associada apenas aos problemas internalizantes (β = 0,43; IC 95% [0,11–0,74]; p = 0,008). Em contraste, a privação mostrou associações amplas e consistentes em todos os domínios avaliados: problemas internalizantes (β = 0,17; IC 95% [0,03–0,29]; p = 0,022), problemas externalizantes (β = 0,29; IC 95% [0,11–0,47]; p = 0,002), menor esforço de controle (β = –1,46; IC 95% [–2,08 a –0,88]; p < 0,001) e pior desenvolvimento global (β = –2,44; IC 95% [–3,11 a –1,80]; p < 0,001).
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