Compaixão canábica
as dimensões simbólicas e políticas no manejo da dor e do sofrimento no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i1p41-52Palavras-chave:
Maconha, Compaixão, Terapêutica, PolíticaResumo
Neste artigo, pretendo discutir um aspecto do controle das drogas que é secundário nos debates públicos que giram em torno da proibição. Da mesma forma que as convenções da ONU destacam que as drogas provocam dor e sofrimento por conta “toxicomania”, da “dependência química”, gerando o comércio ilícito e a violência do “tráfico”, as mesmas convenções admitem que as drogas também continuam “indispensáveis para o alívio da dor e do sofrimento”. Vou utilizar dados etnográficos que produzi nos Estados Unidos e no Brasil para discutir o uso terapêutico da maconha para o manejo do “alívio da dor e sofrimento”. Tendo em vista que os conceitos médicos e legais são construções políticas, utilizo os regulamentos normativos sobre o uso terapêutico da maconha – o brasileiro e o estadunidense – com o objetivo de vislumbrar o clima político e moral do momento histórico em que são atualizadas. Espero, assim, contribuir para a elaboração de uma “farmacopeia política”, em torno da maconha, considerando os textos normativos como uma maneira de observar como são instaurados os vínculos morais, biológicos, comerciais, etc, entre os seres humanos e a planta.
Downloads
Referências
BRANDÃO, Marcílio. O “problema público” da maconha no Brasil: anotações sobre quatro ciclos de atores, interesses e controvérsias. Revista Dilemas, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, pp. 703-740, 2014.
CARNEIRO, Henrique. Autonomia ou heteronomia nos estados alterados de consciência. In: LABATE, Beatriz et al. (Orgs.). Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: Edufba, 2008.
DEANGELO, Steve. The Cannabis Manifesto: a new paradigm for wellness. Berkeley: North Atlantic Books, 2015.
DELMANTO, Júlio. Camaradas caretas: drogas e esquerda no Brasil. São Paulo: Alameda Editorial, 2015.
DUARTE, Luiz Fernando Dias. Pessoa e dor no Ocidente (o “holismo metodológico” na Antropologia da Saúde e Doença). Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, pp. 13-28, 1998.
FIGUEIREDO, Emilio; POLICARPO, Frederico; VERÍSSIMO, Marcos. Planta, droga ilegal e remédio: notas sobre o uso medicinal da maconha no Rio de Janeiro. In: LABATE, Beatriz; RODRIGUES, Thiago (Orgs.). Política de drogas no Brasil: conflitos e alternativas. Campinas: Mercado de Letras; São Paulo, Núcleo Interdisciplinares de Estudos sobre Psicoativos (NEIP), 2018.
FIGUEIREDO, Emilio; POLICARPO, Frederico; VERÍSSIMO, Marcos. A “fumaça do bom direito”: demandas pelo acesso legal à maconha na cidade do Rio de Janeiro. Platô: Drogas e Políticas, São Paulo, v. 1, n. 1, pp. 13-37, 2017.
FIORE, Maurício. Uso de “drogas”: controvérsias médicas e debate público. Campinas: Mercado de Letras/Fapesp, 2007.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2004.
GÓNGORA, Andrés. Farmacopeia política: una etnografía del antiprohibicionismo y de la lucha por la liberación de la marihuana en Colombia. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2018.
GÓNGORA, Andrés. Facebook, maconha e a libertação das drogas na Colômbia. In: LABATE, Beatriz; POLICARPO, Frederico (Orgs.). Drogas: perspectivas em Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Gramma Editora/Terceiro Nome/NEIP, 2018.
MACRAE, Edward; SIMÕES, Júlio Assis. Rodas de Fumo: o uso da maconha entre camadas médias urbanas. Salvador: Edufba, 2000.
MALOTT, Michael. Medical marijuana: the story of Dennis Peron, the San Francisco Cannabis Buyers Club and the ensuing road to legalization. Scotts Valley: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2009.
MUSTO, David. The American disease: origins of narcotic control. Oxford: Oxford University Press, 1999.
OLIVEIRA, Monique Batista. O medicamento proibido: como um derivado da maconha foi regulamentado no Brasil. Dissertação (Mestrado em Divulgação Científica e Cultural) – Instituto de Estudos da Linguagem e Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2016.
RIBEIRO, Tiago. Governo ético-político de usuário de maconha. Curitiba: Editora Prismas, 2016.
RODRIGUES, Thiago. Tráfico, guerra, proibição. In: LABATE, Beatriz et al. (Orgs.). Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: Edufba, 2008.
SARTI, Cynthia. A dor, o indivíduo e a cultura. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 10, n.1, pp. 3-13, 2001.
SCHEERER, S. Comentários de Sebastian Scheerer; estabelecendo o controle sobre a cocaína (1910-1920). In: BASTOS, Francisco I.; GONÇALVES, Odair (Orgs.). Drogas: é legal? – Um debate autorizado. Rio de Janeiro: Imago/Instituto Goethe, 1993.
SILVA, Maria de Lourdes. Drogas – da medicina à repressão policial: a cidade do Rio de Janeiro entre 1921 e 1945. Tese (Doutorado em História) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.
VARGAS, Eduardo Viana. Fármacos e outros objetos sócio-técnicos: notas para uma genealogia das drogas. In: LABATE, Beatriz et al (Orgs.). Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: Edufba, 2008.
VARGAS, Eduardo Viana. Uso de drogas: a alter-ação como evento. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 2, pp. 581-623, 2006.
VELHO, Gilberto. Nobres e anjos: um estudo de tóxicos e hierarquia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.
ZANATTO, Rafael. Maconha e Associativismo: modelo para o Brasil? In: COLETIVO DAR. Dichavando o poder: drogas e autonomia. São Paulo: Autonomia Literária, 2016.
ZINBERG, Norman. Drug, set and setting. The basis for controlled intoxicant use. New Haven: Yale University Press, 1984.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).