Incorporando relações
aproximações antropológicas sobre comida e risco
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i1p101-123Palavras-chave:
Comida, Risco, Política, Materialidade, FarinataResumo
O objetivo deste artigo é tratar das relações entre “comida” e “risco” a partir do pressuposto de que a comida carrega com ela, para além de simbolismo, materialidades que são incorporadas, literalmente, através do ato de ingestão. Este texto, além da ambição de contribuir com uma revisão teórica sobre a temática da alimentação na Antropologia, pretende propor uma abordagem metodológica sobre comida que vá mais além de sua definição como linguagem, ou como mediador social, compreendendo-a enquanto objeto promulgador de realidade. A maneira como definimos comida definiria não só a materialidade daqueles que a incorporam, mas as próprias relações que estes estabelecem com o mundo, e o “risco” seria o recorte pelo qual podemos entender como um objeto é definido como comida em um contexto que é muitas vezes concebido como a antítese da cultura: o contexto da pobreza extrema. Para tanto, articularei a discussão mais atual sobre o projeto da “farinata”, do ex-prefeito João Doria Júnior, em relação a cenas etnográficas resultantes de minha pesquisa de campo, em 2013, na cidade de São Paulo.
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