O estômago da cidade
alimentação popular no centro de Belo Horizonte
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p107-108Palavras-chave:
Fome oculta, Alimentação urbana, Alimentação popular, Belo Horizonte, Circuito inferior da economia urbanaResumo
O mundo atual é pautado por um contexto de crises, no qual os avanços técnicos constituem uma corrida desenfreada por novas modernizações, criando perversidades (ver a obra de Milton Santos, Por uma outra globalização, de 2000). Estas perversidades são concretizadas no território, ou no seu uso, permitindo uma leitura por meio da pobreza que se manifesta como fome e/ou fome oculta, como já observava Josué de Castro em Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951).
Segundo Milton Santos, em A Natureza do Espaço (1994), as cidades são a confluência entre verticalidades e horizontalidades, ou seja, o espaço banal, onde todos vivem, mesmo que a possibilidade de ação não seja igual para todos. Nesta situação, a comunicação procura abarcar a dinâmica dos processos que englobam o comércio popular de alimentos no centro de Belo Horizonte.
A alimentação é uma das necessidades básicas humanas, afetando diretamente o seu cotidiano. Por isso, o objetivo é compreender como se dão a alimentação dos pobres na metrópole e a formação de um mercado socialmente necessário ou um circuito inferior da economia urbana (formas de organização rudimentares, baixa capitalização e densidade tecnológica), conforme Milton Santos, em O Espaço Dividido (1979), tendo o objetivo de assegurar a alimentação desta população.
Como metodologia de pesquisa, realizamos um recorte espacial de uma área no centro de Belo Horizonte, nas proximidades do Terminal Rodoviário, onde se percebe uma alta presença de trabalhadores e transeuntes, além de linhas de transporte que conectam o centro da urbe à sua periferia e Região Metropolitana. Observam-se, no centro de Belo Horizonte, processos do comércio popular de alimentação semelhantes àqueles notados por Lívia C. Antipon, em O circuito inferior da economia urbana no centro do município de Campinas (2017), como um dinamismo local de comércios e serviços populares, atividades que concretizam um circuito comercial de alimentação necessário aos trabalhadores e consumidores pobres que perpassam o centro.
Como fruto de uma pesquisa em curso, encontrou-se nessa área típicos traços do circuito inferior, como estabelecimentos com preços e publicidades chamativas e com diversas promoções para o consumidor de baixa renda. Além disso, em horários estratégicos, como o de almoço, o comércio ambulante se faz presente com a oferta de marmitas (5 a 10 reais), haja vista que essa área também é composta por um amplo setor de comércios, do qual o trabalhador não pode se fazer ausente e por isso a atuação dos ambulantes se faz essencial. Por fim, além de apresentar a dinâmica de um mercado socialmente necessário da alimentação, observa-se também uma nova fome oculta, sustentada pela ingestão de alimentos ultraprocessados/industrializados e com baixo valor nutricional. Pois, em muitos casos, o alimento ingerido não é resultado do que se deseja consumir e sim do que se pode comprar.
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