Entre proibição e regulamentação
a via canadense perante a cruzada antialcoolista
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p131-132Palavras-chave:
Antialcoolismo, História das drogas, Canadá, América do NorteResumo
O álcool foi um importante elemento dentro da sociedade colonial que viria formar o Canadá desde seus primórdios – seja como valoroso produto dentro da dinâmica do comércio de peles com os nativos, seja como fonte segura para hidratação – e se fez fortemente presente no Canadá em sua era pré-industrial como um todo, tanto em momentos de lazer como até mesmo nos ambientes de trabalho, podendo ser consumido sem maiores problemas.
No século XIX, entretanto, em conjunto com a ascensão industrial, essa substância vê crescerem exponencialmente questionamentos acerca de seu uso na Europa e na América do Norte por conta de um possível uso problemático, abuso por parcela da população que trazia consigo problemas de ordem pública – como a segurança – bem como de ordem privada – como o bem-estar das famílias –, onde religião e ciência moveram os movimentos e as sociedades pela temperança emergentes nesse período, sendo o cunho religioso predominante dos espaços norte-americano e canadense. O historiador canadense Desmond Morton considerou a luta antialcoólica como a maior cruzada do século XIX no Canadá.
Num primeiro momento, nas primeiras décadas do século XIX, mostrou-se um movimento que visava à moderação, à temperança de fato, condenando os destilados e considerando os fermentados higiênicos, aptos a serem consumidos em moderação; a ideia era, por via educacional e informacional, resolver o problema pela autoindulgência individual. Na década de 1830, porém, começam a emergir grupos denominados teetotallers que visavam à abstinência total acerca do consumo alcoólico; com o crescimento desses grupos, começaram a surgir demandas legais para combater o consumo alcoólico no país, dando origem a medidas como o Scott Act de 1878, o qual permitiu aos municípios decidirem sobre a proibição alcoólica em seus territórios.
Essa grande disputa ideológica acerca do consumo alcoólico leva, em 1898, à realização de um plebiscito nacional sobre proibir ou não a venda e consumo alcoólico; a não implementação da proibição em nível nacional por ele devido à forte oposição franco-católica é um ponto de virada importante para os movimentos pela temperança, que voltarão suas forças às esferas provinciais a partir de então, conseguindo sucessivas vitórias pró-proibição nas duas primeiras décadas do século XX. O Québec, que seria a última província a implementar a proibição, adota via plebiscito realizado em 1919 um modelo regulatório de estatização da distribuição e venda de bebidas alcoólicas que serviu de modelo para outras províncias que viriam a adotá-lo nas décadas seguintes.
A presente pesquisa estrutura-se sobre análise crítica de historiografia em língua inglesa e francesa – sendo Booze: a distilled history (2003) do historiador canadense Craig Heron obra central nessa análise – amparando-se na teoria do deslocamento do psicólogo canadense Bruce Alexander e busca trazer uma contribuição em uma temática pouco trabalhada no cenário historiográfico nacional.
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