O elogio à cachaça
o discurso médico-naval sobre os benefícios do consumo de aguardente a bordo dos navios da Marinha Brasileira no século XIX
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p135-136Palavras-chave:
Aguardente, Marinha, Medicina, Século XIXResumo
Na segunda metade do século XIX alguns médicos do Corpo de Saúde da Armada brasileira redigiram relatórios a respeito das viagens que haviam participado em navios da Marinha do Brasil. Além de apresentar a descrição dos aspectos nosológicos das tripulações durante as viagens, os cirurgiões da Armada – nome pelo qual os médicos a serviço da Marinha eram chamados – expunham suas convicções médicas a respeito do modo ideal de manutenção da saúde dos militares diante das variadas adversidades impostas aos homens do mar quando em viagem. Tal atuação punha em destaque a importância e legitimava o saber médico na instituição, tornando os cirurgiões da Armada mais que sujeitos que se devotavam à cura, pois também possuiriam em seu repertório o controle dos corpos do pessoal da Marinha com vias à maximização de seu desempenho a bordo. Dentre os diversos aspectos tratados em tais relatórios médicos a respeito de práticas e comportamentos que possibilitariam saúde física e moral aos tripulantes, estava o consumo de bebidas alcoólicas por parte dos marinheiros, em especial a aguardente. Advogava-se que o moderado consumo da cachaça pelos homens do mar ante o trabalho exaustivo a que estavam expostos seria salutar, na medida em que sua composição era estimulante e reanimadora, além de necessária para o organismo em climas mais frios. Não obstante, tal elogio à cachaça não se tratava de uma ode ao prazer ou à sociabilidade que tal prática poderia proporcionar, mas sim um discurso que dava ao médico do navio o controle a respeito de tal consumo, o qual prescreveria a quantidade e o momento em que a “bebida espirituosa” deveria ser usada, de modo a ser útil à manutenção de corpos sãos, potencializando os benefícios à saúde humana. Tendo por mote teórico as abordagens da normatização dos corpos dos indivíduos e da ascensão do saber médico em Michel Foucault, tal comunicação discutirá o enfoque dado por cirurgiões da Armada brasileira ao consumo da aguardente pelos militares da Marinha no século XIX, especificamente nos relatórios das viagens: às nações banhadas pelo Oceano Pacífico, na Corveta Vital de Oliveira em 1876 pelos médicos Luiz Agapito da Veiga e Guilherme de Paiva Magalhães Calvet; de circum-navegação, na Corveta Vital de Oliveira entre 1879 e 1881 pelo médico Galdino Cícero de Magalhães; e às nações banhadas pelo Oceano Atlântico, no Cruzador Almirante Barroso em 1886 pelo médico Prudêncio Augusto Suzano Brandão.
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