Relação entre representação e hábitos alimentares
alimentos e bebidas como atributos identitários em imagens da colonização europeia (notas de pesquisa)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p148Palavras-chave:
Gravuras, Alimentos, Atributos, Identidade, ColonizaçãoResumo
Durante a conquista do Novo Mundo, a arte europeia da gravura encontrava-se em seu apogeu. E do mesmo modo que as gravuras chegavam à América, a América ganhava espaço nas pranchas dos gravadores europeus. Os territórios então colonizados forneceram um rico repertório de temáticas aos gravadores. No entanto, obviamente, não só as regiões das Américas foram representadas. Os livros que investigaremos tratam de outras regiões que foram alcançadas na expansão ultramarina europeia na Ásia e na África. Nesse sentido, nossa pesquisa está inserida numa perspectiva do fazer historiográfico que conecta territórios que em geral são estudados de forma isolada. Partimos do pressuposto de que imagens conectavam espaços geográficos, tanto quanto as próprias embarcações.
No livro Um mundo em movimento, Russel-Wood escreveu uma síntese da expansão marítima portuguesa privilegiando o fluxo constante de pessoas, mercadorias, exemplares da fauna e da flora. A historiadora Patricia Seed destacou de forma comparativa a ocupação territorial no Novo Mundo e suas cerimônias de posse como atos identitários, casos como o da leitura do “requerimento” entre os espanhóis, a missa entre os portugueses e o levantar de cercas entre os ingleses. Pesquisas como a de Russel-Wood, Boxer, Seed e, mais recentemente, Diogo Ramada Curto e Serge Gruzinski mostram que a partir de uma perspectiva comparativa as dinâmicas do Mundo Atlântico podem ser melhor compreendidas.
As “quatro partes do mundo” foram iconograficamente representadas sob a forma de alegorias femininas. Em nossa comunicação, analisaremos, em gravuras europeias, os atributos em forma de alimentos que eram relacionados com as respectivas alegorias da Ásia, África e América. Será que se pudessem exercer a autorrepresentação, os nativos do Novo Mundo escolheriam o cacau como um atributo identitário? E os habitantes das “índias orientais”, por sua vez, escolheriam o chá para identificá-los? Em outras palavras, nos interessa identificar os principais alimentos que compunham um vocabulário visual que ajudou a forjar “identidades mundializadas”, e que eram, na verdade, fruto do imaginário colonizador. Para tal, partiremos das reflexões empreendidas por Stuart Hall sobre as relações entre “representação e identidade”, e das proposições de François Hartog sobre enunciados de viajantes e operações de alteridade. O acervo de gravuras que utilizaremos será o Archive of Early American Images da John Carter Brown Library.
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