Do ideal à concretude
o abastecimento alimentar nos primeiros anos após a criação de Belo Horizonte
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p159-160Palavras-chave:
Abastecimento alimentar, Belo Horizonte, Política públicaResumo
Para o presente estudo, estabelecemos como abastecimento alimentar todas as ações que permeiam o ato de comer na cidade. As estruturas cotidianas que viabilizam a comensalidade, ou a partilha dos alimentos, constituem-se atividades relacionadas à vida material. De acordo com o historiador Massimo Montanari, os processos que envolvem a alimentação são mais complexos do que uma necessidade elementar do corpo, sobretudo carregam forte conteúdo social. Esta pesquisa busca compreender o abastecimento para além de simples fenômeno biológico ou de uma atividade econômica. Nosso objetivo é compreender o lugar do abastecimento alimentar em Belo Horizonte a partir da administração pública. Ou seja, é de nosso interesse examinar os processos de organização dos serviços que a municipalidade entendeu como responsabilidade pública, e a alimentação é uma dessas demandas presente na estrutura organizacional da prefeitura desde o nascimento da nova capital mineira.
Belo Horizonte é uma cidade planejada e não foi criada de forma espontânea, o poder público municipal sempre esteve presente nos processos de produção, comércio e acesso dos gêneros alimentícios. A Coleção Relatórios Anuais de Atividades da Prefeitura de Belo Horizonte (1899-2005) e a legislação aprovada pertinente ao tema são fontes históricas que nos permitem afirmar que a prefeitura teve papel importante na definição dos lugares do abastecimento na cidade. A alimentação revela organizações sociais desde o núcleo mais íntimo e se expande às relações políticas visando a interesses econômicos que se estabeleceram ao longo da história.
Considerando a República como sistema político vigente no Brasil quando a nova capital mineira foi criada, nossa análise se apoia na busca pela compreensão do abastecimento alimentar como bem comum. Entendemos que a regulamentação da produção e do comércio de gêneros alimentícios, feita pela administração pública, pode ser considerada uma ação em prol da ordem social. Tal afirmativa carrega muitas nuances e interesses, afinal é imprescindível questionarmos qual República foi essa e para quem se governava. Para uma reflexão teórica acerca das estruturas da cidade – econômicas, culturais, políticas etc. –, compreendemos a alimentação como necessidade social inerente à sociedade urbana. Nesse sentido, é pertinente identificar como as ideias republicanas inspiraram a experiência de organização do espaço urbano para receber os habitantes da primeira cidade planejada do Brasil moderno. Compreender o contexto histórico de criação da nova capital mineira auxilia-nos a entender como e porque o poder público municipal controlou seu abastecimento, sobretudo a partir de quais parâmetros os prefeitos que estiveram à frente do município realizaram reformas administrativas, as quais estabeleceram diretrizes para as políticas públicas alimentares.
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