Comida como patrimônio
consumo, soberania e identidade na Indicação Geográfica da Farinha de Bragança, no Pará (2013-2018)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p180Palavras-chave:
Farinha, Bragança (Pará), Patrimônio culturalResumo
Esta comunicação tem por objetivo apresentar resultados de uma pesquisa em curso sobre o processo de Indicação Geográfica (IG) e certificação como produto artesanal da farinha de mandioca produzida na região bragantina, situada no nordeste do estado do Pará, parte da Amazônia brasileira. Através de pesquisas com fontes arquivísticas e trabalho de campo com agricultores familiares e gestores públicos localizados nas cidades de Augusto Corrêa, Tracuateua e Bragança, o trabalho dimensiona aspectos dos debates sobre o selo de certificação da farinha bragantina. Analisamos as concepções de “farinha boa” para a ciência e para as populações tradicionais da região (sobretudo indígenas, quilombolas e ribeirinhas), observando o discurso construído pelos entes públicos que acompanham o processo, onde a pureza do produto é questionada pela meritocracia acadêmica das comunidades científicas. Debatemos ainda à luz da teoria antropológica e da historiografia, tendo Néstor Canclini e Pierre Bourdieu como referências, de que maneira a sociedade capitalista ocidental demanda uma fuga da padronização das escolhas, empreendendo uma distinção simbólica. Ou seja, o consumo tem também dimensões políticas e cidadãs, os desejos viram demandas em atos que são socialmente regulados. Para efeito do nosso estudo, o produto com IG certifica a procedência e o “bom gosto”, o que justifica a sua aceitação especialmente nos núcleos urbanos, afastando a associação histórica entre o ato de comer farinha e a condição de pobreza e miséria. É possível observar que o processo de IG e a posterior criação de um selo higiênico para farinha bragantina representam complexas medidas de transferência de um produto tradicional, do patrimônio alimentar de populações amazônidas, para o status de capital simbólico. Dessa maneira, o processo de IG está inserido em regras de mercado e consumo externas e alheias aos anseios das comunidades produtoras de um item da cultura alimentar amazônida que configura identidade e pertencimento.
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