A doçaria paulista no início do século XX
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p188Palavras-chave:
Doçaria, Caipira, Cultura, Belle Époque paulistanaResumo
Esta pesquisa discute a mudança de hábitos alimentares voltados ao consumo de doces no processo de urbanização da cidade de São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XX.
Através de uma abordagem qualitativa, o estudo faz um levantamento bibliográfico teórico-reflexivo tanto dos autores basilares sobre a alimentação no Brasil, bem como acompanha historicamente a formação da doçaria nacional e seu desenvolvimento. Esse esforço culmina com um aprofundamento sobre a doçaria caipira com suas raízes já não mais comuns na cidade de São Paulo.
Por fim, através de uma abordagem quantitativa e também qualitativa, foram focalizados cinco livros de receitas publicados entre 1910 e 1930, como fontes para os estudos da alimentação com o objetivo de compreender a doçaria paulista no início do século XX. O resultado foi uma base de dados de 700 receitas para identificação dos principais ingredientes utilizados. Os livros selecionados foram: A sciencia no lar moderno (1912), Delícias das sinhás: receitas culinárias da segunda metade do século XIX e início do século XX (2007), Culinária tradicional do Vale do Paraíba (1992), A doceira paulista (1916), Guia prático da doceira (1930).
De acordo com a análise realizada é possível perceber uma forte influência da confeitaria tradicional portuguesa. A partir do levantamento de receitas realizado, foi possível perceber a predominância de ingredientes como a farinha de trigo, os ovos, a manteiga, a canela, o cravo e a amêndoa. Todos estes ingredientes são muito utilizados na doçaria tradicional portuguesa.
Poucas foram as referências encontradas nos livros que remetem aos ingredientes reconhecidos como base da alimentação caipira, como o milho, o amendoim, a mandioca, a abóbora, entre outros. Os estudos sobre o caipira são muito mais aprofundados em relação a seus hábitos culturais, sua formação étnica, peculiaridades sobre a sua linguagem do que sobre os hábitos alimentares propriamente ditos. Há uma carência de material específico sobre a doçaria caipira e isto está diretamente relacionado à perda de referências e tradições.
Mais do que definir quais as principais influências na culinária paulista do início do século XX, este trabalho traz a conclusão de que outros caminhos de pesquisa podem ser utilizados para estudos sobre cultura material e cultura alimentar brasileiras ainda pouco explorados. A busca por novas fontes de pesquisa pode trazer resultados diferentes do esperado e propiciar um novo entendimento sobre a formação cultural da sociedade paulistana.
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