Comer e cozinhar nas feiras do Guará e da Torre de TV
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p211-212Palavras-chave:
Alimentação, Representação, Identidade, Patrimônio cultural, BrasíliaResumo
Esta comunicação apresenta os resultados expostos no segundo capítulo de minha dissertação de mestrado, concluída em 2018 no programa de pós-graduação em História da Universidade de Brasília (UnB): Comer e cozinhar: revelando tramas e práticas alimentares como possibilidades de representação e identidades nas feiras do Guará e da Torre de TV, em Brasília. O capítulo analisa as falas obtidas com o uso da História Oral – entrevistas realizadas com feirantes e frequentadores das duas feiras.
A comunicação tem a intenção, portanto, de descrever e analisar as representações e identidades encontradas nas entrevistas realizadas, a partir das práticas alimentares como patrimônio cultural nesses espaços.
Dentre os resultados obtidos, destaco a apresentação das representações de tipicidade, tradição e de identidades dos alimentos comercializados. É frequente nas falas dos entrevistados termos como “comida típica”, especialmente na Feira da Torre. Ali, há várias bancas de comidas chamadas de típicas, como o acarajé baiano, o tacacá paraense, o pastel de queijo mineiro e o churrasco gaúcho. Os feirantes entrevistados buscam alcançar a legitimidade do típico e do tradicional de seus produtos de várias formas: na indumentária, nas placas e fotos afixadas às paredes, e nas próprias falas.
A partir das representações de identidades encontradas, dialogo, entre outros autores, com Eric Hobsbawm, Carlos Dória, Câmara Cascudo, Néstor Canclini, Stuart Hall e Norbert Elias. Utilizo os três primeiros para questionar as possibilidades de existência dos conceitos de tipicidade e tradição nas comidas ali preparadas. Ao considerar a alimentação como cultura, como Massimo Montanari, é possível perceber a complexidade das relações que a envolvem. Deste modo, as ideias elaboradas pelos três autores realçam as ressignificações simbólicas e a constante transformação pelas quais os pratos chamados de típicos passam, o que problematiza a ideia de pureza e originalidade intocada pretendida nas falas.
O acarajé, descrito nas entrevistas como “tipicamente” baiano, é objeto de destaque e maior análise no capítulo devido à presença marcante nas citações e às formas em que o encontrei sendo vendido: no prato – desconstruído e acompanhado de talheres – e na barca de sushi (na qual todas as partes que compõem o acarajé são servidas para serem montadas pelo comensal). O artigo analisa também as fotografias que ilustram esses aspectos e corroboram a argumentação, feitas durante as entrevistas.
A pesquisa pretende contribuir para a historiografia da cidade de Brasília (não havia ainda estudos sobre as práticas alimentares forjadas nesses espaços sob a perspectiva do patrimônio cultural além do Inventário Nacional de Referências Culturais, INRC, documento analisado e criticado no primeiro capítulo da dissertação. Todavia, este parece falhar em seu objetivo – inventariar as referências culturais desses espaços), bem como para a história da alimentação brasileira em caráter local, dados os registros de falas, as imagens anexas e a análise das identidades e representações ali presentes.
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