Uma análise do livro Doceira Brasileira
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p245Palavras-chave:
Açúcar, Gênero, Livros de receitas, Século XIX, Rio de JaneiroResumo
O livro Doceira Brasileira, de Constança Oliva de Lima, teve seu primeiro anúncio de publicidade publicado no Jornal do Comércio no sábado, dia 20 de julho de 1850. Foi editado por uma das maiores editoras do país, a Laemmert, sediada no Rio de Janeiro. A história do livro é fundamental para se entender as complexas relações econômicas, sociais e de gênero envolvidas no seu feitio e publicação. A autora que aparece assinando a capa é Constança Oliva de Lima. Mas a autora que realmente escreveu o volume é Anna Maria das Virgens Pereira Rabello e Gavinho, uma senhora de engenho da região noroeste do Rio de Janeiro, na cidade de Macaé. Nesta comunicação, explicito essas complexas relações e a importância do livro para o estudo da História da Alimentação no Brasil.
O estudo dos livros de receita implica em diferentes formas de análise. A primeira, e mais evidente, é a análise das receitas propriamente ditas: se é um livro específico de doces ou licores, como as receitas estão divididas, quantas receitas de salgados, quantas de doces, o nível de dificuldade das receitas, se as receitas vieram de outros livros publicados antes ou se parecem ter sido testadas pelos autores ou autoras.
Mas a análise desses livros também implica em se descobrir outras informações sobre os volumes: qual editora publicou o livro, qual o papel da editora, em que mercado ela se inseria e como distribuía os livros. A maneira como os autores e as autoras se insere dentro do catálogo da editora também é fundamental – era um jornalista ou uma dona de casa? O livro seria vendido em livrarias? Era uma edição caseira ou seria comercializado apenas em eventos de caridade? Esse circuito de leitura e inserção do livro de receitas é fundamental para se entender como e por quem ele era lido.
O livro faz parte de um conjunto de livros de receitas editados no Brasil do século XIX que tem ajudado os historiadores interessados em alimentação a se debruçar sobre o período. Já foram objetos de estudo e de algumas reedições, atualizadas ou não. Dentre os livros de receitas editados no período, o Doceira Brasileira sugere muitas questões: é o único escrito por uma mulher, ainda que sob pseudônimo, que também é de uma mulher, ele tem o gênero – feminino – bem explícito no título, o que nos dá uma ideia para quem ele foi escrito, a relação entre doces, mulheres e regiões produtoras de açúcar é evidente. Esta comunicação se insere na minha mais recente pesquisa para o pós-doutorado na Universidade de São Paulo, que é “Açúcar e Industrialização”.
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