Som-Fôrma: Morton Feldman e uma trajetória do espaço gráfico

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DOI:

https://doi.org/10.11606/rm.v23i2.217949

Palavras-chave:

Morton Feldman, John Cage, Escrita Musical, Material Musical, Forma Musical

Resumo

O objetivo deste artigo é demonstrar o uso da notação musical no período tardio do compositor Morton Feldman. De modo paradoxal, por meio de recursos típicos do plano gráfico - repetições, permutações, parametrizações, transcrições e serializações, o compositor articula como elemento resultante as qualidades inerentes dos materiais sonoros, sem necessariamente ter por matéria composicional aspectos da música espectral e da acusmática. Apoiando-se centralmente em DUFOURT (1997), o presente texto busca traçar uma resumida trajetória da influência do desenvolvimento notacional - sobretudo desde a Ars Nova - na música ocidental escrita, em especial para o paradigma serial, e como este, juntamente à obra de John Cage, cristalizaram o horizonte de problemas de Morton Feldman.

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Biografia do Autor

  • Austeclínio Lopes de Farias, Universidade de São Paulo

    Musicista e pesquisador de Brasília, reside em São Paulo, formado em Composição Musical na Universidade de Brasilia e mestrando em Música da USP. Apresentou-se como solista, compositor, arranjador e improvisador junto a grupos de diversas formações, como orquestras de câmara, e big bands. Desde 2017 participou de treze álbuns lançados, como também foi compositor das trilhas sonoras de três produções do diretor, também brasiliense, Xavier Braun (Jurupari, Conto de Caos no Império dos Sonhos e CHUMBO). Foi bolsista no Musitec 2 - 2o seminário de música e tecnologia: invenção musical e ambientes de programação, com o projeto "O Espaço Ecoa" (2020). Realizou a palestra "Space ecoes like an immense tomb: an ecological approach towards telematic improvisation" com Bruno Cunha no Simpósio internacional Open Wide organizado pela FMT society de 2021. É junto a Edgard Felipe, fundador da gravadora e selo Dobradiça Enferrujada Discos, discutida no último livro "Uncommon Music For the Common Man" do fundador do grupo britânico "AMM", Edwin Prévost. Orientou, em 2022, o Laboratório teórico e prático de improvisação livre, organizado pela LICRID - UFRJ. É proponente e apresentador do programa "Dobradiça Entrevista", contemplado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

  • Silvio Ferraz, Universidade de São Paulo

    Silvio Ferraz (sp-1959), Professor Titular do Departamento de Música da Universidade de São Paulo. Entre 2002 e 2013 atuou como Professor Associado do departamento de música do Instituto de Artes da UNICAMP, no biênio 2009-2010 foi Diretor Pedagógico da Escola de Música do Estado de São Paulo e Diretor do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Professor voluntário do programa de pós-graduação em Música da ECA- USP (2009-2010). Coordenou o Centro de Linguagem Musical (PUCSP), o Instituto virtual MusArtS (musica articulata sciencia), Núcleo de Integração e Difusão Cultural (NIDIC-UNICAMP) e do curso de Pós-Graduação em Música da Unicamp (2013). Atualmente coordena o Convênio ECA-USP/Unvieristée Paris 8 e tem participado anualmente de congressos internacionais como Conferencista. Com intensa produção artística, desde 1985 seus trabalhos tem sido constantes em festivais brasileiros de música contemporânea (Festival Música Nova, Bienal de Música Brasileira Contemporânea FUNARTE), Festival d?Automne à Paris 1994, Sonidos de las Americas (Carnegie Hall-N.York, em 1996), Encuentro de Compositores de Chile (Goethe e PUC-Chile), Desde a década de 1990, colabora com grupos internacionais de música contemporânea como Iktus Ensemble e Het Espectra (B]elgica), Contrechamps (Suiça), Arditti String Quartet e Nash Ensemble (Inglaterra), New York New Music Ensemble e Ensemble Orpheus (EUA), DME (Portugal), Taller de Musica Contemporanea (Chile). Autor dos livros Música e Repetição: aspectos da questão da diferença na música contemporânea (SP: Educ/ Fapesp, 1997), Livro das Sonoridades (Rio: 7 letras, 2004) e organizador de Notas-AtosGestos (Rio: 7 letras, 2007). Bolsista da Fundação Vitae em 2003, pesquisador associado à Fapesp e pesquisador do CNPQ, desenvolve projetos no campo da composição musical contemporânea, com ênfase no estudo das implicações do conceito de tempo na música do final do século X e séc.XXI. Dentre seus principais artigos destacam-se "Musique et Modulation: vers une poètique du vent" e "La formule de la Ritournelle", publicados nos livros referência sobre o pensamento da arte na obra de Gilles Deleuze "Agencer les Multiplicités avec Deleuze" (Anne Querrien e Anne Sauvagnargues, orgs.) e "Gilles Deleuze: la pensé-musique" (Pascale Criton e J.-M. Chouvel, orgs.)

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Publicado

2023-12-16

Como Citar

Som-Fôrma: Morton Feldman e uma trajetória do espaço gráfico. (2023). Revista Música, 23(2), 133-176. https://doi.org/10.11606/rm.v23i2.217949