Irmãos na Terra Prometida: crime, igreja e regularização fundiária em São Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v1i85p55-73

Palavras-chave:

Hegemonia compartilhada, Etnografia, Segregação socioespacial

Resumo

A tese que desenvolvemos neste artigo é que crime, igreja, empresas e movimentos sociais operam prolongamentos da violência da urbanização nas periferias de São Paulo. Essa violência é mediada, primeiro, pela propriedade privada como fundamento do habitar na cidade capitalista; segundo, pelo Estado e pelo planejamento urbano como operadores e reprodutores da valorização imobiliária e da segregação socioespacial; terceiro, pelo dano de uma vida cotidiana transpassada pela privação do urbano que se manifesta na proliferação de estratégias do empreendedorismo popular. Nessa mediação, concretiza-se uma hegemonia compartilhada da cotidianidade, articulada pela problemática fundiária no centro das disputas pela ordem. Tal hipótese surge de pesquisa etnográfica realizada desde 2017 em favelas da Zona Leste de São Paulo.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Gustavo Prieto, Universidade Federal de São Paulo

    Gustavo Prieto é professor adjunto do Instituto das Cidades da Universidade Federal de São Paulo (IC/Unifesp) e cocoordenador do Grupo de Pesquisa Transborda – Estudos da Urbanização Crítica (IC/Unifesp/CNPq).

  • Elisa Favaro Verdi, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

    Elisa Favaro Verdi é pós-doutoranda no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e trabalha como professora substituta no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).

Referências

ABÍLIO, L. C. Uberização, autogerenciamento e o governo da viração. Margem Esquerda – Revista da Boitempo, v. 31, 2021, p. 55-69.

ALVAREZ, I. A produção e reprodução da cidade como negócio e segregação. In: CARLOS, A. F. A.; VOLOCHKO, D.; ALVAREZ, I. P. (Org.). A cidade como negócio. São Paulo: Contexto, 2015, p. 65-80.

AMADO, J. Tocaia grande: a face obscura. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

ANTUNES, R. Capitalismo pandêmico. São Paulo: Boitempo, 2022.

BERALDO, A. Negociando a vida e a morte: Estado, igreja e crime nas margens urbanas. São Carlos: Ed. UFSCar, 2022.

BIONDI, K. Proibido roubar na quebrada: território, hierarquia e lei no PCC. São Paulo: Terceiro Nome, 2018.

CANETTIERI, T. A condição periférica. Rio de Janeiro: Consequência, 2020.

CARLOS, A. F. A. Segregação socioespacial e o “Direito à Cidade”. GEOUSP, v. 24, n. 3, 2020, p. 412-424.

COSTA, H. Entre o “home office” e a vida loka: o empreendedorismo popular na pandemia. In: GODOI, R.; MOTTA, E.; MALLART, F. (Org.). Tempos sombrios: reflexões sobre a pandemia. Rio de Janeiro: Funilaria, 2022, p. 295-329.

DAS, V.; POOLE, D. State and its margins: comparative ethnographies. In: DAS, V.; POOLE, D. (Org.). Anthropology in the margins of the State. Santa Fe: School of American Research Press, 2004, p. 3-33.

DE SOTO, H. O mistério do capital. Rio de Janeiro: Record, 2001.

FELTRAN, G. Fronteiras de tensão: política e violência nas periferias de São Paulo. São Paulo: Unesp, 2011.

FELTRAN, G. Irmãos: uma história do PCC. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

FELTRAN, G. Das prisões às periferias: coexistência de regimes normativos na “Era PCC”. Revista Brasileira de Execução Penal, v. 1, n. 2, 2020, p. 45-71.

GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere: Maquiavel. Notas sobre o Estado e a política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

GODOI, R. Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos. São Paulo: Boitempo, 2017.

GRAHAM, S. Cities under siege: the new military urbanism. Londres: Verso, 2010.

HALL, S. Gramsci e nós. Tradução: Vila Vudu. Jacobin Brasil, 10 fev. 2022. Disponível em: https://jacobin.com.br/2022/02/gramsci-e-nos. Acesso em: abr. 2023.

HART, G. Geography and development: critical ethnographies. Progress in Human Geography, v. 28, n. 1, 2004, p. 91-100.

HIRATA, D. Sobrevivendo na adversidade: mercados e forma de vida. São Carlos: UFSCAR, 2022.

LEVENSON, Z. Make “articulation” Gramscian again. In: CHARI, S.; HUNTER, M.; SAMSON, M. (Ed.). Ethnographies of power: working radical concepts with Gillian Hart. Johannesburg: Wits University Press, 2022, p. 187-215.

MARQUES, A. Crime e proceder: um experimento antropológico. São Paulo: Alameda, 2014.

MILANO, G.; PETRELLA, G.; PULHEZ, M. O anjo caído na terra prometida. Novos Estudos Cebrap, v. 40, n. 1, jan.-abr. 2021, p. 80-100. https://doi.org/10.25091/s01013300202100010003.

MILANO, G. B.; SÁ, J. do N. de. Propriedade e violência: uma análise das remoções forçadas na Zona Leste de São Paulo (2017-2020) In: MOREIRA, F. A.; ROLNIK, R.; SANTORO, P. F. (Org.). Cartografias da produção, transitoriedade e despossessão dos territórios populares. São Paulo: LabCidades/USP, 2020, p. 365-388.

OLIVEIRA, F. Crítica à razão dualista: o ornitorrinco. São Paulo, Boitempo, 2003.

REDE PENSSAN – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert/Rede PENSSAN, 2022.

RIZEK, C. Periferias – revisitando fraturas e crises. In: CARLOS, A. F. A.; RIZEK, C. (Org.). Direito à cidade e direito à vida: perspectivas críticas sobre o urbano na contemporaneidade. São Paulo: IEA/USP, 2022, p. 44-71.

SAMPAIO, R. A violência do processo de urbanização. In: CARLOS, A. F. A. (Org.) Crise urbana. São Paulo: Contexto, 2015, p. 55-84.

SANTOS, C. S. Espaços penhorados e gestão militarizada da fronteira urbana. In: BARROS, Ana M. L. de; ZANOTELLI, C. L.; ALBANI, V. (Org.). Geografia urbana: cidades, revoluções e injustiças: entre espaços privados, públicos, direito à cidade e comuns urbanos. Rio de Janeiro: Consequência, 2020, p. 273-304.

SILVA, L. A. M. da. Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano. In: RIBEIRO, L. C. de Q. (Org.). Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o conflito. São Paulo: Perseu Abramo, 2004, p. 291-351.

SILVA, L. A. M. da “Violência urbana”, segurança pública e favelas: o caso do Rio de Janeiro atual. Caderno CRH, v. 23, n. 59, 2010, p. 283-300.

SILVA, L. A. M. da; LEITE, M. Violência, crime e polícia: o que favelados dizem quando falam desses temas?. In: SILVA, L. A. M. da. (Org.). Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 47-76.

TELLES, V. Mutações do trabalho e experiência urbana. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 18, n. 1, 2006, p. 173-195.

TELLES, V.; HIRATA, D. Cidades e práticas urbanas: nas fronteiras incertas entre o ilegal, o informal e o ilícito. Estudos Avançados, v. 21, n. 61, 2007, p. 173-191.

VERDI, E. F. A privação tem rosto de mulher: gestão da pobreza e segregação socioespacial na periferia de São Paulo. Tese (Doutorado em Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2022, 238f.

WILLIAMS, R. Base and superstructure in marxist cultural theory. New Left Review, n. 82, 1973, p. 3-16.

YUNUS, M. O banqueiro dos pobres. São Paulo: Ática, 2000.

Downloads

Publicado

2023-08-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Prieto, G., & Verdi, E. F. . (2023). Irmãos na Terra Prometida: crime, igreja e regularização fundiária em São Paulo. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, 1(85), 55-73. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v1i85p55-73