Deuses que riem e o Antropoceno: uma leitura contemporânea de Maíra, de Darcy Ribeiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2316901X.n91.2025.e10750

Palavras-chave:

Antropoceno, Afetos, Darcy Ribeiro

Resumo

O objetivo deste texto é refletir a respeito do romance Maíra, de Darcy Ribeiro, à luz de atuais questões colocadas pelo Antropoceno, mais especificamente, relativas às concepções corporais e à sensibilidade dos modernos. Para isso, a partir dos personagens Maíra e Micura – divindades dos mairuns (povo indígena fictício criado pelo autor) caracterizadas como deuses que riem –, procuramos compreender aspectos, por um lado, da cultura mairum, a do povo que ri, e, por outro, da cultura dos modernos, retratados na obra como os “brancos”, em encontro dissonante com os mairuns. Finalmente, reconhecemos que essas divindades – interessadas no riso – questionam produtivamente nossa moderna noção de corpo e inspiram formas de relação com o Terrestre (LATOUR, 2020b) que não as modernas. Maíra e seus deuses risonhos aparecem como herança fecunda de Darcy Ribeiro no Antropoceno.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Amanda Mirage, Universidade de São Paulo

    é doutoranda em Letras no Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (DL/FFLCH/USP).

Referências

ALBERTI, Verena. O riso e o risível na história do pensamento. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2002.

ALMEIDA, Mauro. Caipora e outros conflitos ontológicos. R@U: Revista de Antropologia da UFSCar, v. 5, n. 1, jan.-jun. 2013, p. 7-28.

Disponível em: https://www.rau.ufscar.br/wp-content/uploads/2015/05/vol5no1_01.MauroAlmeida.pdf. Acesso em: maio 2025.

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 2010.

BLOCH, Marc. La societe feodale. Paris: Albin Michel, 1968.

BOSI, Alfredo. Morte, onde está tua vitória? In: RIBEIRO, Darcy. Maíra: um romance dos índios da Amazônia. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 387-390.

CANDIDO, Antonio. Mundos cruzados. In: RIBEIRO, Darcy. Maíra: um romance dos índios da Amazônia. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 381-385.

DESCARTES, René. Méditations métaphysiques. Edição bilíngue: G. Rodis-Lewis. Paris: J. Vrin, 1944.

FEBVRE, Lucien. Histoire et psychologie. In: CHARTIER, Roger et al. La sensibilite dans l’histoire. Paris: Gérard Monfort, 1987.

FERNANDES, Florestan. (1945). Tiago Marques Aipobureu: um bororo marginal. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 19, n. 2, 2007, p. 293-323. https://doi.org/10.1590/S0103-20702007000200012.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2019.

HACKING, Ian. Ontologia histórica. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2009.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. São Paulo: Editora 34, 2019.

LATOUR, Bruno. Como falar do corpo? A dimensão normativa dos estudos sobre a ciência. In: ARRISCADO, J.; ROQUE, R. N. Objectos impuros: experiências em estudo sobre a ciência. Porto: Edições Afrontamento, 2008, p. 37-62.

LATOUR, Bruno. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza do Antropoceno. São Paulo: Ubu; Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades Editorial, 2020a.

LATOUR, Bruno. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Tradução: Marcela Vieira. Posfácio e revisão técnica: Alyne Costa. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020b.

MARRAS, Stelio. O Brasil e os brasis no Antropoceno: bifurcações à vista. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 77, set.-dez. 2020, p 126-142. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v1i77p126-142.

RIBEIRO, Darcy. Maíra: um romance dos índios da Amazônia. Rio de Janeiro: Record, 2007.

RIBEIRO, Darcy. (1995). O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Global, 2015.

RODRIGUES, José Carlos. O corpo na história. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1999. (Coleção Antropologia e Saúde). https://doi.org/10.7476/9788575415559.

SERRES, Michel. O contrato natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo negro: 2005.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Tradução de Tamás Szmerecsáni. São Paulo: Pioneira, 1967.

Downloads

Publicado

2025-08-25

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Mirage, A. (2025). Deuses que riem e o Antropoceno: uma leitura contemporânea de Maíra, de Darcy Ribeiro. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, 1(91), e10750. https://doi.org/10.11606/2316901X.n91.2025.e10750