O arquiteto é um fingidor
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4506.v15i2p7-26Palavras-chave:
Cidade, Arquitetura, TeatroResumo
A arquitetura não pode ser uma linguagem privada; ela é condenada a ser uma recitação pública. É um tipo particular de recitação, porque os elementos sobre os quais o mundo construído se baseia perderam no tempo seu significado primitivo, seu fundamento mítico e simbólico. O mesmo é verdade para a arte de os compor. Do naufrágio da história até nós, recebemos sistemas de sinais suspensos, como se tivéssemos quase que operar com hieróglifos cuja decifração permanece incerta. É uma condição que é totalmente revelada quando a arquitetura se afasta de um destino específico e de uma definitiva utilidade, e
mostra-se “por si própria”, como um sistema: como nas cenas de teatros antigos, ou nas porte urbiche, ou em certos tipos de fachadas. A linguagem da arquitetura baseia-se nas regras de um jogo muito nobre. Fernando Pessoa, escrevendo, a cada vez fingia ser um escritor diferente no qual se equivalia e se inventava. Sustentava que o poeta é um fingidor. O destino do arquiteto é análogo. Também o arquiteto é um fingidor.
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