Entre Belo Horizonte e Palmas, o des-sertanejar do Brasil pela fundação de cidades novas no século XX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1984-4506.risco.2025.241550

Palavras-chave:

Território, Sertão, Interiorização, Urbanização, Cidades Novas

Resumo

Por uma abordagem renovada, o artigo investiga o processo de interiorização e urbanização do Brasil no século XX por meio da tipologia urbanística Cidades Novas, tendo como marcos a fundação de Belo Horizonte (1893) e Palmas (1989). Nesse intervalo, mais de 330 cidades projetadas foram criadas, configurando um movimento sistemático de ocupação do interior. Tal dinâmica constituiu um mosaico de camadas históricas, sociais e espaciais, com o Sertão como território paradigmático. Tradicional objeto de interesse da literatura e dos estudos brasilianistas, o Sertão experimentou transformações significativas decorrentes da modernização e da ampliação de infraestrutura, resultando na redefinição de sua paisagem. Com base em dados coletados nos últimos quinze anos e ancorado em referencial teórico-operacional, o estudo historiciza essa urbanização e propõe o conceito de des-sertanejar. Nesse processo, coexistem a expansão do progresso e da modernidade com a reconfiguração demográfica, o apagamento de culturas e a emergência de um novo interior.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Ricardo Trevisan, Universidade Nacional de Brasília

    Arquiteto e urbanista, formado pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (1998); mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos (2003); doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (2009), com estágio-doutoral na École dArchitecture Paris-Malaquais (2007-2008) e no Istituto Universitario di Architettura di Venizia (2008), laureado com o Prêmio CAPES de Teses 2010; e pós-doutorados na Columbia University (2014-2015) e na Universidade do Minho (2023-2024). Especialista em Arquivos de Arquitetura pela Universidade Autónoma de Lisboa (2023-2024). Atualmente é Vice-diretor da FAU-UnB, professor associado IV no Departamento de Teoria e História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília e em seu Programa de Pós-Graduação. Pesquisador membro do Lupa - Laboratório de Pesquisa em Acervos e Arquivos de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB), do grupo de pesquisa Topos - Paisagem, Projeto e Planejamento (FAU-UnB), do grupo de pesquisa LEU - Laboratório de Experiências Urbanísticas (IAU-USP) e coordenador local do projeto Cronologia do Pensamento Urbanístico. Pesquisador CNPq com o projeto: Coimbra Bueno Cia. Ltda. - Construtora de cidades (Atlas de Cidades Novas no Brasil Republicano) e coordenador do projeto de ensino: Habitação Contemporânea: Ensino e Pesquisa. Presidente da ANPARQ (gestão 2021-2022), Diretor da ANPARQ (gestão 2019-2020). Coordenador Geral do VI ENANPARQ 2020 (Brasília). Membro da Associação Ibero-americana de História Urbana (AIHU). Membro titular no Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal - CONPLAN (2025-2026). Autor dos livros: Cidades Novas (EdUNB, 2020) e Acervos e Arquivos de Arquitetura e Urbanismo (UnB, 2025). Autor do site: https://atlascidadesnovas.com.br/.

Referências

ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de. A construção historiográfica da cidade e do urbanismo no Brasil: o caso das cidades novas planejadas. In: PINHEIRO, Eloísa Petti; GOMES, Marco Aurélio Andrade de Filgueiras (org.). A cidade como história: os arquitetos e a historiografia da cidade e do urbanismo. Salvador: EDUFBA, 2005. p. 73-90.

ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. A Casaca do Arlequim. Belo Horizonte, uma capital eclética do século XIX. São Paulo: EdUSP, 2020.

BONINI, Isabelle.; PESSOA, Marcos José Gomes; SEABRA JÚNIOR, Santino. Faces da produção agrícola na Amazônia mato-grossense: tipos de formação, origem dos agricultores e impactos na conservação ambiental em Alta Floresta (MT). Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 16, n. 1, jun. 2013. p. 173-190.

BRASIL. Ministério do Interior. Serviço Federal de Habitação e Urbanismo. Planejamento urbano e local e o desenvolvimento das faixas pioneiras. Brasília: SERFHAU, 1972.

CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. Campinas: Instituto de Economia da UNICAMP / Cromosete Gráfica e Editora, 1998.

CERQUEIRA, Humberto. O plano e prática na construção de Palmas. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2008.

CORBOZ, André. Le territoire comme palimpseste (1983). In: Le Territoire comme palimpseste et autres essais. Besançon: Ed. de l'Imprimeur, 2001. p. 209-229.

CUNHA, Euclides da. Os Sertões (1902). São Paulo: Martin Claret, 2017.

DIAS, Clímaco César Siqueira. Os sertões, a ideia de Nordeste e a Bahia. In: BARROS, Joana. PRIETO, Gustavo. MARINHO, Caio. Sertão, Sertões: repensando contradições, reconstruindo veredas. São Paulo: Elefante, 2020. p. 57-66.

FUNDAÇÃO COIMBRA BUENO PELA NOVA CAPITAL DO BRASIL – FCB. Manifesto por uma Civilização Sertaneja (Doc. nº 3) (1956). In: BRASIL. PODER EXECUTIVO. Decreto nº 49.873, de 11 de janeiro de 1961 – Ementa: Declara de utilidade pública a "Fundação Coimbra Bueno Pela Nova Capital do Brasil". Brasília: Departamento de Imprensa Nacional, 1961. p.13.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil (1936). São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

HUOT, Jean-Louis (Dir.). La ville neuve, une idée de l’antiquité? Paris: Errance, 1988.

LEME, Maria Cristina da Silva (Org.). Urbanismo no Brasil, 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel / FAUUSP / FUPAM, 1999.

LEMOS, Clarissa de Melo e. Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil e o Alto Uruguai Gaúcho: Ocupação e urbanização a partir das ferrovias. Projeto de Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2023.

LEONARDI, Victor. Entre árvores e esquecimentos: a modernidade e os povos indígenas no Brasil - História social dos sertões. Brasília: EdUnB, 2016.

LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil. São Paulo: Hucitec, 2013.

MACIEL, Dulce Portilho. Aragarças (1943-1968): a moderna urbe na rota para o oeste. Revista Plurais, Anápolis, v. 1, n. 4, 2006. p. 47-68.

MARX, Murillo. Cidade brasileira. São Paulo: Melhoramentos: EDUSP, 1980.

MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo (1949). São Paulo: Hucitec, 1984.

MORAES, Antonio Carlos Robert Moraes. O Sertão: um “outro” geográfico. Terra Brasilis: Revista da Rede Brasileira de História da Geografia e Geografia Histórica, Primeira Série, n. 4-5, 2003. Link: https://journals.openedition.org/terrabrasilis/230. Acesso em: 10 de março de 2024.

OLIVEIRA, Francisco de. O estado e o urbano no Brasil. Revista Espaço & Debates - Estudos Regionais e Urbanos. São Paulo, n. 6, jun./set. 1982. p. 36-54.

OLIVEIRA, Lucia Lippi. Estado Novo e a conquista de espaços territoriais e simbólicos. Política & Sociedade, n. 12, abr. 2008. p. 13-21.

PENNA, José Osvaldo de Meira. Quando mudam as capitais. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução política do Brasil. Ensaio de interpretação dialética da história brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1947.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense; Publifolha, 2000.

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas (1938). Rio de Janeiro: Record, 2019.

REGO, Renato Leão. As cidades plantadas: os britânicos e a construção da paisagem do norte do Paraná. Londrina: Humanidades, 2009.

REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: CNPq / FAPESP / IPHAN, 2000.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil (1995). São Paulo: Global Editora, 2023.

RICARDO LEITE, Cassiano. Marcha para oeste: a influência da bandeira na formação social e política do Brasil (1940). São Paulo: EdUSP, 1970.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas (1956). São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SAFIER, Michaël. Le rôle des villes nouvelles dans l’urbanisation. Planification habitat information, France, n. 89, nov. 1977. p. 3-12

SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1994.

SCHLEE, Andrey Rosenthal; FICHER, Sylvia. Vera Cruz, futura capital do Brasil, 1955. ln: Anais do IX Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. São Paulo: FAU-USP, 2006.

SILVA, Magdiel. Francisco Prestes Maia e o projeto urbano para Panorama, 1945-1949. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

SINGER, Paul. Economia política da urbanização. São Paulo: Brasiliense / CEBRAP, 1973.

SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA (Sudam). O novo sistema de ação do governo federal na Amazônia: legislação básica. Rio de Janeiro: Spencer, 1967.

TREVISAN, Ricardo. Cidades Novas. Brasília: EdUnB, 2020.

TREVISAN, Ricardo; FICHER, Sylvia; MATTOS, Frederico Maranhão de. Brasil: um século, cinco cidades novas administrativas. In: Anais do XVII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional. São Paulo: ANPUR, 2017.

VARGAS, Getúlio. Problemas e realizações do Estado Novo. Rio de Janeiro: Departamento Nacional de Propaganda - DNP, 1938.

VIDAL, Laurent. De Nova Lisboa a Brasília: a invenção de uma capital (séculos XIX-XX). Brasília: EdUnB, 2009.

VILLAÇA, Flávio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DEÁK, Csaba; SCHIFFER, Sueli Terezinha Ramos (org.). O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1999. p. 169-244.

Downloads

Publicado

2025-11-17

Edição

Seção

Artigos e Ensaios

Como Citar

Trevisan, R. (2025). Entre Belo Horizonte e Palmas, o des-sertanejar do Brasil pela fundação de cidades novas no século XX. Risco Revista De Pesquisa Em Arquitetura E Urbanismo (Online), 23(1), e-241550. https://doi.org/10.11606/1984-4506.risco.2025.241550