A quem afetou o desabastecimento de penicilina para sífilis no Rio de Janeiro, 2013–2017?

Autores

  • Rachel Sarmeiro Araujo Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • Ana Sara Semeão de Souza Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • José Ueleres Braga Universidade do Estado do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002196

Palavras-chave:

Penicilina G Benzatina, provisão & distribuição, Análise Espaço-Temporal, Sífilis, tratamento farmacológico, Disparidades nos Níveis de Saúde, Estudos Ecológicos

Resumo

OBJETIVO: Analisar o desabastecimento da penicilina benzatina (PB), caracterizando sua evolução temporal e distribuição espacial no município do Rio de Janeiro de 2013 a 2017. MÉTODOS: Trata-se de estudo ecológico misto realizado com notificações de sífilis gestacional e congênita, registros de distribuição de PB e de dados sociodemográficos da população dos bairros do município do Rio de Janeiro. Para mensurar o desabastecimento foi calculado por trimestre um indicador de abastecimento de PB para cada bairro, entre 2013 e 2017. Mapas temáticos foram produzidos para identificar áreas e períodos com maior desabastecimento de PB, o qual foi descrito segundo condições sociodemográficas, rede de serviços de saúde e aspectos epidemiológicos da incidência de sífilis por bairro. RESULTADOS: O desabastecimento de PB no município do Rio de Janeiro, no período de 2013 a 2017, não foi homogêneo no espaço ou no tempo. A evolução temporal e a distribuição espacial da escassez de PB revelam que o desabastecimento afetou de formas distintas os habitantes do município, sendo menor em 2013 e 2016 e mais intenso em 2014, 2015 e 2017, principalmente nos bairros das áreas programáticas AP3 e AP5, mais pobres e com maiores taxas de sífilis gestacional e congênita. CONCLUSÕES: Analisar o desabastecimento de PB e sua evolução temporal e distribuição espacial no município do Rio de Janeiro permitiu reconhecer que os habitantes do município são afetados de diferentes modos. Compreender esse processo ajuda a planejar ações para enfrentar crises de desabastecimento, minimizando possíveis impactos no controle da sífilis, além de reduzir a desigualdade no acesso ao tratamento.

Biografia do Autor

  • Rachel Sarmeiro Araujo, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Ana Sara Semeão de Souza, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • José Ueleres Braga, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social. Departamento de Epidemiologia. Rio de Janeiro, RJ, Brasil
    Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Departamento de Epidemiologia. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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Publicado

2020-12-14

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Araujo, R. S., Souza, A. S. S. de, & Braga, J. U. (2020). A quem afetou o desabastecimento de penicilina para sífilis no Rio de Janeiro, 2013–2017?. Revista De Saúde Pública, 54, 109. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002196