Os impactos da violência sexual vivida na infância e adolescência em universitários

Autores

  • Flávia Calanca da Silva Universidade Federal de São Paulo
  • Aline Monge Universidade Federal de São Paulo
  • Carlos Alberto Landi Universidade Federal de São Paulo
  • Gabriel Amaral Zenardi Universidade Federal de São Paulo
  • Denise Chrysostomo Suzuki Universidade Federal de São Paulo
  • Maria Sylvia de Souza Vitalle Universidade Federal de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002576

Palavras-chave:

Adolescente, Adulto Jovem, Comportamento Sexual, Abuso Sexual na Infância, Delitos Sexuais, Transtornos Mentais, epidemiologia, Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias

Resumo

OBJETIVO: Investigar a prevalência de adolescentes e adultos jovens que foram vítimas de violência sexual em algum momento da vida e comparar a presença de sintomas depressivos e ansiosos, qualidade de vida e uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas entre esta população e a que não sofreu abuso. MÉTODOS: Aplicaram-se questionários e instrumentos validados, em uma população de estudantes universitários, para avaliar: perfil e comportamento sexual, nível socioeconômico, presença ou não de violência sexual (Questionário sobre a Exposição a Eventos Traumatizantes), sintomas depressivos (Inventário de Depressão de Beck) e ansiosos (Inventário de Ansiedade de Beck), qualidade de vida (World Health Organization’s Quality of Life Assessment) e o uso ou abuso de tabaco, álcool e drogas ilícitas (Teste para Triagem do Envolvimento com Fumo, Álcool e Outras Drogas). RESULTADOS: Dos 858 alunos que responderam à pesquisa, 71 (8,3%) foram vítimas de violência sexual, sendo 52 meninas (73,2%). No grupo vítima de abuso havia mais alunos que já tinham tido a coitarca (p = 0,029), alunas que já engravidaram (p = 0,001), estudantes com maiores escores para sintomas depressivos (p < 0,001) e ansiosos (p = 0,001), alunos com pior qualidade de vida (p < 0,001) e que usavam mais tabaco (p = 0,008) e maconha (p = 0,025) bem como abusavam de hipnóticos ou sedativos (p = 0,048) que no grupo não vítima. CONCLUSÃO: Os impactos causados pelo abuso são diversos e afetam, mesmo no longo prazo, a vida dos sobreviventes. Abordar o tema e o discutir, amplamente, em todas as esferas da sociedade é uma forma de mobilizar, sensibilizar e instrumentalizar o coletivo, desmistificando o assunto e chamando atenção para essa importante questão social.

Biografia do Autor

  • Flávia Calanca da Silva, Universidade Federal de São Paulo

    Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Departamento de Pediatria. São Paulo, SP, Brasil
    Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde
    Coletiva. São Paulo, SP, Brasil

  • Aline Monge, Universidade Federal de São Paulo

    Universidade Federal de São Paulo. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde. Guarulhos, SP, Brasil

  • Carlos Alberto Landi, Universidade Federal de São Paulo

    Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Departamento de Atenção Primária. São Paulo, SP, Brasil
    Universidade Nove de Julho. Faculdade de Medicina. Módulo de Pediatria. São Paulo, SP, Brasil

  • Gabriel Amaral Zenardi, Universidade Federal de São Paulo

    Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. São Paulo, SP, Brasil

  • Denise Chrysostomo Suzuki, Universidade Federal de São Paulo

    Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. São Paulo, SP, Brasil

  • Maria Sylvia de Souza Vitalle, Universidade Federal de São Paulo

    Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Departamento de Pediatria. São Paulo, SP, Brasil

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Publicado

2020-12-12

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Silva, F. C. da, Monge, A., Landi, C. A., Zenardi, G. A., Suzuki, D. C., & Vitalle, M. S. de S. (2020). Os impactos da violência sexual vivida na infância e adolescência em universitários. Revista De Saúde Pública, 54, 134. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002576