Quem são as mulheres adultas expostas à violência no Brasil?
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059005701Palavras-chave:
Violência de Gênero, Violência Contra as Mulheres, Estudos Transversais, Epidemiologia, BrasilResumo
Objetivo: Estimar a prevalência de subtipos da violência e analisar alguns dos fatores demográficos, socioeconômicos e de saúde associados a Violência Contra as Mulheres (VCM) no Brasil. Métodos: Estudo epidemiológico transversal utilizando base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019. Foram estimadas as prevalências de alguns subtipos da violência (psicológica, física e sexual) nos 12 meses anteriores a entrevista, no Brasil e nas unidades federativas. Analisou-se também algumas das características de cada subtipo. Estimou-se ainda a Razão de Prevalência bruta e ajustada por modelo multivariado segundo potenciais fatores demográficos, socioeconômicos e de saúde associados: faixa etária, escolaridade, cor da pele, local de moradia, renda domiciliar, estado civil, rede social de apoio, autoavaliação em saúde, consumo de álcool, depressão e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Resultados: Em 2019, 19,38% das mulheres brasileiras relataram algum episódio de violência, sendo a violência psicológica o subtipo mais comum, tanto isolada quanto concomitante com outros subtipos. O principal agressor foi um parceiro íntimo e a maioria dos atos violentos ocorreu na residência, com mais da metade das mulheres relatando ao menos uma consequência desses atos. Mulheres mais jovens, com pior autoavaliação em saúde, consumo de álcool, depressão e diagnóstico de ISTs tiveram maior prevalência de todos os subtipos de violência. CONCLUSÃO: Uma em cada cinco mulheres brasileiras relataram algum episódio de violência nos últimos 12 meses. A VCM está positivamente associada a idades mais jovens, baixa escolaridade, cor da pele preta e parda, menor rede de apoio, além de fatores ligados a saúde, como autoavaliação em saúde, consumo de álcool, depressão e ISTs.
Referências
Krug EG, Dahlber LL, Mercy JA, Zwi AB, Lozano R. World report on violence and health. Geneva: World Health Organization; 2002. 380 p. https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42495/9241545615_eng.pdf.
Balbinotti I. A violência contra a mulher como expressão do patriarcado e do machismo. Rev da ESMESC. 2018;25(31):239-64. https://doi.org/10.14295/revistadaesmesc.v25i31.p239.
World Health Organization (WHO). Violence against women prevalence estimates, 2018. Geneva: WHO; 2021. 90p. https://www.who.int/publications/i/item/9789240022256.
Anuário Brasileiro De Segurança Pública 2023. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ano 17; 2023. https://publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/fbsp/57.
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. Serviço Social da Indústria. Guia SESI/FIEMG: enfrentamento à violência contra as mulheres e meninas: guia prático para empresas. Belo Horizonte: SESI DR/MG; 2023.
Souza EG, Tavares R, Lopes JG, Magalhães MAN, Melo EM. Atitudes e opiniões de profissionais envolvidos na atenção à mulher em situação de violência em 10 municípios brasileiros. Saúde Debate. 2018;42(spe4):13-29. https://doi.org/10.1590/0103-11042018S401.
Stopa SR, Szwarcwald CL, Oliveira MM, Gouvea ECDP, Vieira MLFP, Freitas MPS et al. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: histórico, métodos e perspectivas. Epidemiol Serv Saúde. 2020;29(5):e2020315. https://doi.org/10.1590/S1679-49742020000500004.
Brasil. Senado Federal. Instituto de Pesquisa DataSenado. Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: Pesquisa DataSenado. Brasília: Senado Federal, Instituto de Pesquisa DataSenado; 2019. https://www2.senado.gov.br/bdsf/handle/id/603476.
Bott S, Guedes A, Ruiz-Celis AP, Adams JM. La violencia por parte de la pareja íntima en las Américas: una revisión sistemática y reanálisis de las estimaciones nacionales de prevalencia. Rev Panam Salud Publica. 2021;45:e34. https://doi.org/10.26633/RPSP.2021.34.
Brasil. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Diagnóstico dos homicídios no Brasil: subsídios para o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2015.
https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/2311/1/1diagnostico-homicidios%281%29.pdf.
Soares MLM, Guimarães NGM, Bonfada D. Tendência, espacialização e circunstâncias associadas às violências contra populações vulneráveis no Brasil, entre 2009 e 2017. Cien Saúde Colet. 2021;26(11):5751-63. https://doi.org/10.1590/1413-812320212611.25242020.
Pinto IV, Vasconcelos NM, Corassa RB, Naghavi M, Marinho F, Malta DC. Mortality and years of life lost to death or disability by interpersonal violence against women in Brazil: Global Burden of Disease Study, 1990 and 2019. Rev Soc Bras Med Trop. 2022;55:e0287-2021. https://doi.org/10.1590/0037-8682-0287-2021.
Vasconcelos NM, Bernal RTI, Souza J, Bordoni PHC, Stein C, Coll CVN et al. Subnotificação de violência contra as mulheres: uma análise de duas fontes de dados. Cien Saúde Colet. 2024;29(10):e07732023. https://doi.org/10.1590/1413-812320242910.07732023.
Schraiber LB, d’Oliveira AFPL, França-Junior I, Diniz S, Portella AP, Ludermir AB et al. Prevalência da violência contra a mulher por parceiro íntimo em regiões do Brasil. Rev Saúde Púb. 2007;41(5):797-807. https:// doi.org/10.1590/S0034-89102007000500014.
Brasil. Senado Federal. Instituto de Pesquisa DataSenado. Pesquisa DataSenado de Violência contra a Mulher 2023. Brasília: Observatório da Mulher contra a Violência, 2023. https://www.senado.leg.br/institucional/datasenado/paineis_dados/#/?pesquisa=violencia_domestica_familiar.
Bourdieu P. A dominação masculina. 2a ed. Kuhner TM. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2002. 160p.
Damonti P, Leache PA. Las situaciones de exclusión social como factor de vulnerabilidad a la violencia de género en la pareja: Desigualdades estructurales y relaciones de poder de género. Empiria Rev Metodol Ciências Soc. 2020;48:205-30. https://doi.org/10.5944/empiria.48.2020.28076.
Amador AE, Marques MV, Souza MR, Souza DLB, Barbosa IR. Mortalidade de jovens por violência no Brasil: desigualdade espacial e socioeconômica. Rev Bras Promoc Saúde. 2018;31(3). https://doi.org/10.5020/18061230.2018.7992.
Mascarenhas MDM, Tomaz GR, Meneses GMS, Rodrigues MTP, Pereira VOM, Corassa RB. Análise das notificações de violência por parceiro íntimo contra mulheres, Brasil, 2020. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2020;23(suppl 1):e200007. https://doi.org/10.1590/1980-549720200007.supl.1.
Wanzinack C, Signorelli MC, Reis C. Homicides and socio-environmental determinants of health in Brazil: a systematic literature review. Cad Saúde Pública. 2018;34(12):e00012818. https://doi.org/10.1590/0102-311X00012818.
Gedrat DC, Silveira EF, Almeida Neto H. Perfil dos parceiros íntimos de violência doméstica: uma expressão da questão social brasileira. Serviço Soc Soc. 2020;(138):342-58. https://doi.org/10.1590/0101-6628.216.
Campello T, Gentili P, Rodrigues M, Hoewell GR. Faces da desigualdade no Brasil: um olhar sobre os que ficam para trás. Saúde Debate. 2018;42(spe3):54-66. https://doi.org/10.1590/0103-11042018S305.
Stochero L, Pinto LW. Violência contra as mulheres que vivem em contextos rurais: uma revisão integrativa. Saúde Soc. 2023;32(3):e210595pt. https://doi.org/10.1590/S0104-12902023210595pt.
Cruz MS, Irffi G. Qual o efeito da violência contra a mulher brasileira na autopercepção da saúde? Ciênc Saúde Colet. 2019;24(7):2531-42. https://doi.org/10.1590/1413-81232018247.23162017.
World Health Organization. Injuries and violence: the facts 2014. Geneva: WHO; 2014. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/149798.
Institute for Health Metrics and Evaluation. GBD Compare. Seattle: University of Washington; 2024. http://vizhub.healthdata.org/gbd-compare.
Aguiar CMD, Menezes JA. Vivências sexuais de mulheres jovens usuárias de crack. Barbarói. 2017;(49):214-38. https://doi.org/10.17058/barbaroi.v0i49.8943.
Governo corta verba de pasta que combate violência doméstica. Confederação Nacional dos trabalhadores na saúde. 2020 fev. 10. https://cnts.org.br/noticias/governo-corta-verba-de-pasta-que-combate-violencia-domestica/
Cerqueira D, Bueno S, Alves PP, Lima RS De, Silva ERA da, Ferreira H et al. Atlas da Violência 2020. Brasília: IPEA; 2020. https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020.
Bueno S, Bohnenberger M, Sobral I. A violência contra meninas e mulheres no ano pandêmico. In: Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; 2021. p. 93-100. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021/07/6-a-violencia-contra-meninas-e-mulheres-no-ano-pandemico.pdf.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Nádia Machado de Vasconcelos, Crizian Saar Gomes, Juliana Bottoni de Souza, Fabiana Martins Dias de Andrade, egina Tomie Ivata Bernal, Elaine Leandro Machado, Adalgisa Peixoto Ribeiro, Deborah Carvalho Malta

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.