Quem são as mulheres adultas expostas à violência no Brasil?

Autores

  • Nádia Machado de Vasconcelos Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-2323-3064
  • Crizian Saar Gomes Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0001-6586-4561
  • Juliana Bottoni de Souza Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem. Observatório de Doenças e Agravos Não Transmissíveis. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9308-7445
  • Fabiana Martins Dias de Andrade Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0001-8277-6061
  • Regina Tomie Ivata Bernal Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-7917-3857
  • Elaine Leandro Machado Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva e Social. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-3226-3476
  • Adalgisa Peixoto Ribeiro Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva e Social. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0001-9415-8068
  • Deborah Carvalho Malta Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem. Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-8214-5734

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059005701

Palavras-chave:

Violência de Gênero, Violência Contra as Mulheres, Estudos Transversais, Epidemiologia, Brasil

Resumo

Objetivo: Estimar a prevalência de subtipos da violência e analisar alguns dos fatores demográficos, socioeconômicos e de saúde associados a Violência Contra as Mulheres (VCM) no Brasil. Métodos: Estudo epidemiológico transversal utilizando base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019. Foram estimadas as prevalências de alguns subtipos da violência (psicológica, física e sexual) nos 12 meses anteriores a entrevista, no Brasil e nas unidades federativas. Analisou-se também algumas das características de cada subtipo. Estimou-se ainda a Razão de Prevalência bruta e ajustada por modelo multivariado segundo potenciais fatores demográficos, socioeconômicos e de saúde associados: faixa etária, escolaridade, cor da pele, local de moradia, renda domiciliar, estado civil, rede social de apoio, autoavaliação em saúde, consumo de álcool, depressão e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Resultados: Em 2019, 19,38% das mulheres brasileiras relataram algum episódio de violência, sendo a violência psicológica o subtipo mais comum, tanto isolada quanto concomitante com outros subtipos. O principal agressor foi um parceiro íntimo e a maioria dos atos violentos ocorreu na residência, com mais da metade das mulheres relatando ao menos uma consequência desses atos. Mulheres mais jovens, com pior autoavaliação em saúde, consumo de álcool, depressão e diagnóstico de ISTs tiveram maior prevalência de todos os subtipos de violência. CONCLUSÃO: Uma em cada cinco mulheres brasileiras relataram algum episódio de violência nos últimos 12 meses. A VCM está positivamente associada a idades mais jovens, baixa escolaridade, cor da pele preta e parda, menor rede de apoio, além de fatores ligados a saúde, como autoavaliação em saúde, consumo de álcool, depressão e ISTs.

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Publicado

2025-04-07

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Vasconcelos, N. M. de, Gomes, C. S., Souza, J. B. de, Andrade, F. M. D. de, Bernal, R. T. I., Machado, E. L., Ribeiro, A. P., & Malta, D. C. (2025). Quem são as mulheres adultas expostas à violência no Brasil?. Revista De Saúde Pública, 59, 8. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059005701

Dados de financiamento