Modestos avanços, persistentes desigualdades: mortalidade de crianças no Brasil de 2010 a 2022
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059006452Palavras-chave:
Mortalidade Infantil, Mortalidade da Criança, Disparidades Socioeconômicas em Saúde, BrasilResumo
OBJETIVO: Analisar a evolução das desigualdades socioeconômicas e regionais na mortalidade entre menores de cinco anos de idade no Brasil entre 2010 e 2022. MÉTODOS: Foram analisados dados de 37.639.196 nascidos vivos e 563.711 óbitos ocorridos entre crianças menores de cinco anos no período de 2010 a 2022. Calcularam-se taxas de mortalidade infantil entre menores de um ano de idade (TMI) e de mortalidade entre crianças com um a quatro anos. Para análise das desigualdades, os municípios foram agrupados segundo decis do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de 2010 e foram calculados o Slope Index of Inequality (SII) e o Relative Index of Inequality (RII). O excesso de óbitos foi estimado aplicando-se taxas de mortalidade observadas no decil de maior IDH-M aos demais. Realizou-se distribuição espacial dos óbitos segundo microrregiões brasileiras. RESULTADOS: A TMI diminuiu de 13,0 para 12,7 por mil nascidos vivos entre 2010 e 2022, enquanto a mortalidade entre crianças de um a quatro anos foi de 2,5 por mil nascidos vivos nos anos extremos analisados. Houve apenas discreta redução nas desigualdades, com o SII oscilando entre 2010 e 2022 de -5,63 a -4,91 na TMI e -2,42 a -1,71 na mortalidade entre crianças de um a quatro anos. Em 2022, municípios com menor IDH-M apresentaram taxas 49,0% e 93,0% maiores em relação àqueles com maior IDH-M na TMI e na mortalidade entre um e quatro anos, respectivamente. Na TMI, as desigualdades foram mais acentuadas em doenças nutricionais-metabólicas-endócrinas, com a mortalidade sendo quatro vezes maior nos municípios com menor IDH-M. Houve excesso de 76.832 óbitos infantis no Brasil entre 2010 e 2022. Em 2022, 42,2% das microrregiões do Norte estavam entre as 100 com maiores taxas de mortalidade infantil, valor que chegou a apenas 3,2% no Sul. CONCLUSÕES: Houve pequena redução na mortalidade entre crianças e persistiram significativas desigualdades socioeconômicas e regionais no Brasil.
Referências
UN Inter-agency Group for Child Mortality Estimation. Levels and trends in child mortality: Report 2023. New York: United Nations Children’s Fund; 2024.
Dattani S, Spooner F, Ritchie H, Roser M. Child and Infant mortality. [Local desconhecido]: Our World In Data; 2023 [citado 7 abr 2024]. Disponível em: https://ourworldindata.org/child-mortality
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores brasileiros para os objetivos de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2025 [citado 12 maio 2025]. Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/objetivo3/indicador321
Ministério da Saúde (BR). Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Mortalidade Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde; [data desconhecida] [citado 5 abr 2024]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def
Szwarcwald CL, Almeida WD, Teixeira RA, França EB, Miranda MJ, Malta DC. Inequalities in infant mortality in Brazil at subnational levels in Brazil, 1990 to 2015. Popul Health Metr. 2020 Sep;18(S1 Suppl 1):4. https://doi.org/10.1186/s12963-020-00208-1
Bertoldi AD, Barros FC, Hallal PR, Mielke GI, Oliveira PD, Maia MF, et al.; Pelotas Cohorts Study Group. Trends and inequalities in maternal and child health in a Brazilian city: methodology and sociodemographic description of four population-based birth cohort studies, 1982-2015. Int J Epidemiol. 2019 Apr;48 Suppl 1:i4–15. https://doi.org/10.1093/ije/dyy170
Bugelli A, Silva RB, Dowbor L, Sicotte C. The determinants of infant mortality in Brazil, 2010-2020: a scoping review. Int J Environ Res Public Health. 2021 Jun;18(12):6464. https://doi.org/10.3390/ijerph18126464
Rasella D, Basu S, Hone T, Paes-Sousa R, Ocké-Reis CO, Millett C. Child morbidity and mortality associated with alternative policy responses to the economic crisis in Brazil: a nationwide microsimulation study. PLoS Med. 2018 May;15(5):e1002570. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002570
Silva AA. Monitoring trends in socioeconomic, maternal and child health inequalities. Int J Epidemiol. 2019 Apr;48 Suppl 1:i1-3. https://doi.org/10.1093/ije/dyz024
Fabrin C, Boing AC, Garcia LP, Boing AF. Socioeconomic inequality in hospital case fatality rate and care among children and adolescents hospitalized for COVID-19 in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2023 Feb;26:e230015. https://doi.org/10.1590/1980-549720230015
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativa do sub-registro. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2000 [citado 25 abr 2025]. Disponível em: https://www. ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/26176-estimativa-do-sub-registro.html?edicao=39640
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Fundação João Pinheiro. Atlas de desenvolvimento humano no Brasil. Brasília, DF: PNUD, IPEA, FJP; [citado 25 abr 2025]. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org. br/acervo/atlas
Ministério da Saúde (BR). Plataforma Open DataSUS. Brasília, DF: Ministério da Saúde; [citado 25 abr 2025]. Disponível em: https://opendatasus.saude.gov.br/
Souza AA, Mingoti SA, Paes-Sousa R, Heller L. Combination of conditional cash transfer program and environmental health interventions reduces child mortality: an ecological study of Brazilian municipalities. BMC Public Health. 2021 Mar;21(1):627. https://doi.org/10.1186/s12889-021-10649-4
Morosini MV, Fonseca AF, Lima LD. Política Nacional de Atenção Básica 2017: retrocessos e riscos para o Sistema Único de Saúde. Saude Debate. 2018;42(16):11-24. https://doi.org/10.1590/0103-1104201811601
Freire DE, Freire AR, Lucena EH, Cavalcanti YW. PNAB 2017 and the number of community health agents in primary care in Brazil. Rev Saude Publica. 2021 Dec;55:85. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003005
Seta MH, Ocké-Reis CO, Ramos AL. Previne Brasil Program: the apex of threats to Primary Health Care? Cien Saude Colet. 2021 Aug;26 suppl 2:3781-6. https://doi.org/10.1590/1413-81232021269.2.01072020
Ocké-Reis CO, Marinho A, Funcia, FR. SUS: avaliação da eficiência do gasto público em saúde. Brasília: Ipea, CONASS, OPAS, 2022.
Rasella D, Hone T, Souza LE, Tasca R, Basu S, Millett C. Mortality associated with alternative primary healthcare policies: a nationwide microsimulation modelling study in Brazil. BMC Med. 2019 Apr;17(1):82. https://doi.org/10.1186/s12916-019-1316-7
Vieira FS. Federal spending on social policies and the social determinants of health: where are we going? Saude Debate. 2020;44(127):947-61. https://doi.org/10.1590/0103-1104202012701i.
Bezerra MS, Jacob MC, Ferreira MA, Vale D, Mirabal IR, Lyra CO. Food and nutritional insecurity in Brazil and its correlation with vulnerability markers. Cien Saude Colet. 2020 Oct;25(10):3833-46. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.35882018
Boing AF, Boing AC, Subramanian SV. Inequalities in the access to healthy urban structure and housing: an analysis of the Brazilian census data. Cad Saude Publica. 2021 Jun;37(6):e00233119. https://doi.org/10.1590/0102-311x00233119
Dantas MN, Souza DL, Souza AM, Aiquoc KM, Souza TA, Barbosa IR. Factors associated with poor access to health services in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2020 Dec;24:e210004. https://doi.org/10.1590/1980-549720210004
Macinko J, Mullachery PH. Education-related health inequities in noncommunicable diseases: an analysis of the Brazilian National Health Survey, 2013 and 2019. Cad Saude Publica 2022;Suppl 1(Suppl 1):e00137721. https://doi.org/10.1590/0102-311X00137721
Sousa LRM, Saint Ville A, Segall-Corrêa AM, Melgar-Quiñonez H. Health inequalities and well-being in times of financial and political crisis in Brazil, a case study. Glob Public Health. 2019 Dec;14(12):1815-28. https://doi.org/10.1080/17441692.2019.1616800
Shapira G, Walque D, Friedman J. How many infants may have died in low-income and middle-income countries in 2020 due to the economic contraction accompanying the COVID-19 pandemic? Mortality projections based on forecasted declines in economic growth. BMJ Open. 2021 Aug;11(9):e050551. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2021-050551
Ahmed T, Roberton T, Vergeer P, Hansen PM, Peters MA, Ofosu AA, et al. Healthcare utilization and maternal and child mortality during the COVID-19 pandemic in 18 low- and middle-income countries: an interrupted time-series analysis with mathematical modeling of administrative data. PLoS Med. 2022 Aug;19(8):e1004070. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1004070
Institute of Health Equity. Health inequalities, lives cut short - January 2024. [Place unkmown]: Institute of Health Equity; 2024[citado 4 abr 2024]. https://www.instituteofhealthequity.org/ resources-reports/health-inequalities-lives-cut-short
Dantas MN, Souza DL, Souza AM, Aiquoc KM, Souza TA, Barbosa IR. Factors associated with poor access to health services in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2020 Dec 18;24:e210004. https://doi.org/10.1590/1980-549720210004
Lopes CG, Rocha TA, Thomaz ÉB, Tonello AS, Rocha NC, Duarte KM, et al. Desigualdades macrorregionais na atenção primária ao Diabetes Mellitus: comparação dos três ciclos do PMAQ-AB. Saude Debate. 2022;46(133):376-91. https://doi.org/10.1590/0103-1104202213309i
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Antonio Fernando Boing, Alexandra Crispim Boing

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.