Tendências temporais e agrupamentos regionais dos desfechos da coinfecção tuberculose-HIV no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/s15188787.2025059006736

Palavras-chave:

HIV, Tuberculose, Estudos Ecológicos, Estudos de Séries Temporais, Análise por Conglomerados

Resumo

OBJETIVO: Investigar as tendências temporais e os agrupamentos regionais dos desfechos do tratamento da tuberculose em pessoas com HIV no Brasil, considerando sua relação com indicadores socioeconômicos e programáticos. MÉTODOS: Estudo ecológico com dados de pessoas vivendo com HIV que iniciaram e encerraram o tratamento para tuberculose entre 2015 e 2021 no Brasil. Foram descritas as tendências semestrais das taxas de cura, interrupção do tratamento e óbito nos estados brasileiros, usando-se modelos de regressão joinpoint. Análises de cluster, estratificadas em três portes populacionais, foram realizadas pelo método k-means visando identificar agrupamentos nas 510 regiões geográficas imediatas. Empregaram-se indicadores socioeconômicos e programáticos relacionados à interrupção do tratamento e ao óbito, mediante associação em modelos multivariados de regressão binomial negativa. RESULTADOS: Analisaram-se 54.362 tratamentos de tuberculose em pessoas com HIV, com taxas de cura em 55,51%, interrupção em 23,33% e óbito em 21,16%, para o período. Observou-se estabilidade na cura a nível nacional, enquanto a interrupção do tratamento aumentou semestralmente em 2,54% (variando entre 1,59% e 3,70%) e o óbito em 9,31% (oscilando entre 7,41% e 17,24%). Estados como Ceará e Amapá apresentaram as piores tendências para as taxas de interrupção do tratamento e óbito. Regiões com maiores desigualdades na distribuição de renda, percentuais de trabalhadores com ensino fundamental, percentuais de densidade domiciliar e coberturas da saúde suplementar tiveram elevadas taxas de interrupção do seguimento e óbito. Em contrapartida, aquelas com maiores expectativas de anos de estudo e internações por condições sensíveis à atenção primária apresentaram menores probabilidades desses desfechos. CONCLUSÃO: Nacionalmente, apesar da estabilidade na cura, viu-se aumento nas taxas de interrupção do tratamento e óbito por tuberculose em pessoas com HIV. As disparidades regionais na relação de indicadores socioeconômicos e programáticos com os desfechos sugerem iniquidades no acesso e na adesão ao tratamento da tuberculose nos diferentes territórios do país.

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Publicado

2025-11-05

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Vinícius de Lima, L., Pavinati, G., Lorena Valdivia-Rojas, Y., Nildo de Barros Silva Júnior, J., Paula Sayuri Sato, A. ., Alexander Diaz-Quijano, F. ., Santana Santos, V. ., & Tavares Magnabosco, G. . (2025). Tendências temporais e agrupamentos regionais dos desfechos da coinfecção tuberculose-HIV no Brasil. Revista De Saúde Pública, 59, 39. https://doi.org/10.11606/s15188787.2025059006736

Dados de financiamento