Terapia ocupacional e a armadilha neoliberal progressista: desafios para uma práxis antiopressiva
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v33i1pe209610Palavras-chave:
Terapia Ocupacional/tendêcias, Identificação SocialResumo
Compreendendo as contradições que envolvem o neoliberalismo, e suas pretensões progressistas, é preciso se interrogar sobre as possíveis armadilhas que essas configurações sociais podem “construir” para disfarçar a sua malvadez, inviabilizando uma práxis terapêutico-ocupacional radicalmente antiopressiva, que não se deixe enganar pelas narrativas hegemônicas que tudo tentam cooptar. Parte dessas armadilhas, para nós, se desenha em relação com o fenômeno do identitarismo. De forma mais explícita, esses movimentos articulados – neoliberalismo progressista e identitarismo – representam um risco para a ação profissional contemporânea, reduzindo a compreensão dos sujeitos ao imediato, ao visível, ao individual e ao subjetivismo, por uma ação que lê o caminho do reconhecimento da identidade (colocada como fixa e separada das dinâmicas sociais) via, exclusivamente, o empoderamento individual/vazio/simbólico, podendo reafirmar um discurso meritocrata. Logo, é urgente empreender as lutas pelo reconhecimento das identidades em diálogo com a leitura do sujeito social em uma estrutura desigual e conjuntamente às lutas por redistribuição. Assim, a dimensão social objetiva e concreta, que se consolida na estrutura social, toma lugar na práxis terapêutico-ocupacional e vai de encontro aos movimentos que tentam negar (pela força ou pelo consenso) nossa ação comprometida com a antiopressão e com a transformação social.
Downloads
Referências
Farias MN, Lopes RE. Terapia ocupacional social, antiopressão e liberdade: considerações sobre a revolução da/na vida cotidiana. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 2022; 30(spe): e3100. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoEN234531001
Lopes RE, Borba PLO. A inclusão radical como diretriz para terapeutas ocupacionais na educação. Revista Ocupación Humana. 2022; 22(2): 202–214. https://doi.org/10.25214/25907816.1402
Freire P. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D’água, 1995.
Freire P. Globalização ética e solidariedade. In; Dawbor L, Ianni O, Resende PA(Orgs.). Desafios da globalização. Petrópolis: Vozes, 1997.
Farias MN, Lopes RE. Pensar/fazer como prática da liberdade: a terapia ocupacional e o centenário de Paulo Freire. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 2021; 29: e3027. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoED292021
Haider A. Armadilha da identidade: raça e classe nos dias de hoje. São Paulo: Veneta, 2019.
Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Fraser N. From Redistribution to Recognition? Dilemmas of Justice in a 'Post-Socialist' Age. New Left Review. 1995; 212:68-93.
Fraser N. Do neoliberalismo progressista a Trump – e além. Política & Sociedade. 2018; 17 (40): 43-64. https://doi.org/10.5007/2175-7984.2018v17n40p43
Fraser N. O velho está morrendo e o novo não pode nascer. São Paulo: Autonomia Literária, 2020.
Barros DR. Lugar de negro, Lugar de branco? Esboço para uma crítica à metafísica racial. São Paulo: Hedra, 2019.
Costa MAN. A polarização identitária e a pulverização programática no Brasil. Passagens - Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica. 2020; 12(3): 404-429. https://doi.org/10.15175/1984-2503-202012304
Fernandes S. Se quiser mudar o mundo: um guia político para quem se importa. São Paulo: Planeta, 2020.
Mohandesi S. Identity Crisis. Viewpoint, 2017.
Freire P. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: UNESP, 2001.
Gramsci A. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Marx K. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
Freire P. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
Freire P, Oliveira WF. Solidariedade e esperança como sonhos políticos. In: Freire P, Freire N, Oliveira WF (Org). Pedagogia da Solidariedade. São Paulo: Paz e Terra, 2014, p. 70- 110.
Nascimento BA. O mito da atividade terapêutica. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. 1990; 1 (1): 17-21.
Malfitano APS. Contexto social e atuação social: generalizações e especialidades na terapia ocupacional. In: Lopes RE, Malfitano APS. (Org.). Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos. São Carlos: EdUFSCar, 2016, p. 117-133.
Barros DD, Ghirardi MIG, Lopes RE. Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. 2002; 13(3): 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103
Silva ACC, Oliver FC. Participação social em terapia ocupacional: sobre o que estamos falando? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 2019; 27 (4): 858-872. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAR1883.
Lopes R. Cidadania, direitos e terapia ocupacional. In: Lopes RE, Malfitano APS. (Org.). Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos. São Carlos: EdUFSCar, 2016, p. 29-48.
Barros DD. Operadores de saúde na área social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. 1990; 1(1); 11-16.
Pinto JM. De terapeuta ocupacional para terapeuta ocupacional: os métodos de terapia ocupacional e suas elaborações na UFSCar (1983-1987). São Carlos: UFSCar, 1987.
Pinto JM. As correntes metodológicas em terapia ocupacional no Estado de São Paulo (1970-1985). São Carlos: UFSCar, 1990.
Francisco, B. (1988). Terapia Ocupacional. Campinas, SP: Papirus.
Farias MN, Lopes RE. Terapia ocupacional social: formulações à luz de referenciais freireanos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 2020; 28(4): 1346-1356. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoEN1970.
Kerstenetzky CAL. Como causas identitárias podem ser demandas universais. Folha de São Paulo. Ilustríssima. 2022. 06 de setembro de 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/debate-identitario-e-vitima-do-extremismo-no-brasil.shtml
Basaglia F, Ongaro Basaglia F. (2010). A utopia da realidade. In: Basaglia F (Org.). Escritos selecionados em saúde mental e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Garamond, 2010, p. 225-236.
Lorde A. Irmã Outsider. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Magno Nunes Farias, Roseli Esquerdo Lopes
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.