Trabalho e inclusão social: depoimentos de pessoas com deficiências

Resumo

Trata-se de abordar a temática deficiência e trabalho partindo do eixo inclusão/ exclusão social. Os dados foram coletados a partir de entrevistas semi-estruturadas - depoimentos - de pessoas com deficiências físicas que atuam no comércio ambulante na cidade de São Paulo e da observação direta do trabalho. Foram analisadas as dimensões concretas e simbólicas atribuídas ao trabalho segundo os eixos da sociabilidade e da integração no trabalho usados por Robert Castel na abordagem de situações de precariedade. Os resultados mostram que, do ponto de vista do processo de trabalho, a atuação no comércio ambulante revela traços de degradação moral e política; opõe-se à cidadania, à liberdade de expressão de idéias e interesses, à manutenção e à garantia de direitos. Contraditoriamente, o comércio ambulante proporciona interações sociais com diversos agentes, expressando conflitos, mas também solidariedade e amizade. É também modalidade de integração econômica, ocorrendo nos interstícios da produção capitalista, de forma que os ambulantes inserem-se numa extensa trama de relações de trocas sociais. Inclusão e exclusão social não são pólos antagônicos. O que se coloca em questão são os elementos que concorrem na qualidade da inclusão realizada sob a exclusão social. Os indicadores encontrados revelam que a inclusão realizada é precária, precariedade menos da ordem material do que política e moral. Os entrevistados não podem ser considerados excluídos, tampouco constituem a zona de desfiliação, aproximando-se melhor da zona de vulnerabilidade caracterizada por Robert Castel.