A “Madona Sistina”: Dostoiévski e o exercício do olhar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-4765.rus.2025.241465

Palavras-chave:

Fiódor Dostoiévski, Madonna Sistina, Olhar, Estética , Écfrase

Resumo

A “Madona Sistina” de Rafael, datada de cerca de 1513-1514 e abrigada na Gemäldegalerie em Dresden, é uma das pinturas que mais impressionaram Dostoiévski, a ponto de ele ter escrito sobre ela em vários de seus romances, desde Crime e Castigo (Преступление и наказание, 1866), até Os Demônios (Бесы, 1873) e O Adolescente (Подросток, 1875). Dostoiévski certamente também conhecia outras pinturas de Rafael. Mas então por que essa insistência na tela de Rafael? Nossa hipótese é que Dostoiévski percebeu, de uma forma totalmente moderna e fora dos esquemas historicistas da arte, a complexidade conceitual e simbólica escondida por trás da aparente simplicidade da imagem e a união harmoniosa entre o ideal de beleza greco-romana e o sentimento religioso cristão. Além disso, com a “Madona Sistina”, Dostoiévski inaugura (ou talvez seja melhor dizer, traz à tona) um mito ecfrástico na literatura. Com seu exercício do olhar, não é apenas a pintura de Rafael que surpreende por sua capacidade de atrair o olhar de diferentes gerações, mas é o próprio Dostoiévski que cria novos palimpsestos interpretativos da obra, que fluirão muitos anos depois para as reflexões dramáticas e amargas de Vassili Grossman, que, como sabemos, retoma a “Madona Sistina” para propor uma reinterpretação histórica que continua a questionar o olhar do observador até hoje.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Biagio D'Angelo, Universidade de Brasília. Instituto de Artes

    Professor Adjunto IV de Teoria e História da Arte no Programa de Pós-Graduação em Arte do Instituto de Arte da Universidade de Brasília. Formado em Língua e Literatura Russa pela Universidade de Veneza Ca› Foscari. Defendeu seu mestrado sobre a narrativa russa de Vladimir Nabókov. Doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade Russa de Estudos Humanísticos (RGGU, Moscou). Ganhou o Prêmio Jabuti na categoria literatura infantil.

Referências

BORI, P. C. La Madonna di S. Sisto di Raffaello. Studi sulla cultura russa. Il Mulino: Bologna 1990.

DE VECCHI, Pierluigi- Cerchiari, Elda. I tempi dell'arte, vol. 2. Milano: Bompiani, 1999.

DOSTOEVSKAJA, Anna Grigor’evna. Dostoevskij, mio marito. Trad. de Anna Milazzo Lipschütz. Milano: Bompiani, 2006, e-book.

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e Castigo. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2009, e-book.

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O Adolescente. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2015, e-book.

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Demônios. Tradução de Paulo Bezerra, São Paulo: Editora 34, 2018, e-book.

FLORIÊNSKI, Pavel. A perspectiva inversa. Trad. Neide Jallageas e Anastassia Bytsenko. São Paulo: Editora 34, 2012.

GAVIGLIO, Bianca. Raffaello, la Madonna Sistina e i russi. Torino, Lindau, 2020.

GAZZOLA, Eugenio. La Madonna Sistina di Raffaello - Storia e destino di un quadro. Macerata: Quodlibet, 2013.

GROSSMAN, V. S. "Sikstinskaia madonna", neskolko petchalnykh dnei. Moskva, "Современник", 1989. Disponível em: https://www.lib.ru/PROZA/GROSSMAN/grossman19.txt Acesso: 20 março de 2025.

NIETZSCHE, Friedrich. Umano troppo umano. Vol. II, Milano, Adelphi, 2016, e-book.

TARKÓVSKI, Andrei. Esculpir o Tempo. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

Downloads

Publicado

2025-11-30

Como Citar

D'Angelo, B. (2025). A “Madona Sistina”: Dostoiévski e o exercício do olhar. RUS (São Paulo), 16(29), 309-325. https://doi.org/10.11606/issn.2317-4765.rus.2025.241465