A ausência de memória afetiva e a não-conversão de Goriántchikov em Escritos da Casa Morta, de Dostoiévski
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-4765.rus.2025.242196Palavras-chave:
Escritos da Casa Morta, Dostoiévski, Foco narrativo, MemóriaResumo
O artigo analisa o narrador Alexander Pietróvitch Goriántchikov em Escritos da Casa Morta, de Dostoiévski, argumentando que sua incapacidade de redenção espiritual e de união com o povo resulta de uma construção narrativa centrada na esterilidade da memória afetiva. A análise identifica três características interligadas: a imaterialidade do narrador, que observa o cárcere de forma distanciada, sem se encarnar na experiência corporal; a estase temporal, que o prende a um presente cíclico e vazio, refletido na estrutura fragmentária da narrativa; e, essencialmente, a ausência de memórias afetivas pré-carcerárias. Goriántchikov não evoca lembranças positivas de seu passado e silencia completamente sobre seu crime, impedindo qualquer elaboração de culpa ou arrependimento. Esta carência inviabiliza a conversão interior. O artigo contrasta essa condição com a esquete “O Camponês Marei”, na qual o próprio Dostoiévski relata como uma memória afetiva da infância operou uma transformação redentora em sua percepção dos presos. A ausência deliberada desse recurso em Goriántchikov consolida sua tragédia: a razão, divorciada da memória afetiva, torna-se um cárcere interior, condenando-o a uma liberdade estéril e ao isolamento.
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Referências
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