A ciência e as idas e voltas do senso comum
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-31662003000100002Palavras-chave:
Senso comum, Popularização, Compreensão, Comunicação, Racionalidade, Inteligibilidade, Ética, Física quântica, Teoria da RelatividadeResumo
Não podemos conceber a compreensão e a comunicação de idéias sem fazer referência ao senso comum. Porém, por outro lado, todo conhecimento novo que seja importante precisa ultrapassar o senso comum e, portanto, romper com ele. Essas duas exigências, aparentemente contraditórias, podem ser conciliadas? E, se for o caso, de qual maneira? Devemos, na verdade, reconhecer que, quando conhecimentos novos são adquiridos e bem compreendidos, assimilados, completamente inteligíveis, e até ensinados; quando neles nos baseamos para avançar na direção de conhecimentos ainda mais novos, estes que foram adquiridos participam da constituição de um senso comum, modificado, diferente do precedente, mas que tem tanto direito quanto este à qualificação de " senso comum ", exatamente no mesmo sentido que o antigo. Desta maneira, o senso comum se enriquece pela assimilação dos conhecimentos científicos. Mostraremos como ele beneficia-se, de fato, das "ampliações" da racionalidade que permitem compreender de que maneira o progresso do conhecimento torna-se possível. Vários exemplos examinados na área da física contemporânea (com a teoria da relatividade e a teoria quântica) ajudarão a explicitar concretamente a tese assim resumida. Estas considerações têm implicações éticas, do ponto de vista da comunicação, pela possibilidade de compartilhar o conhecimento em termos inteligíveis com os não-especialistas, através do senso comum submetido à crítica. Uma reflexão epistemológica se faz necessária a respeito dos elementos de significação do conhecimento a serem compartilhados prioritariamente.Downloads
Referências
BACHELARD, G. La formation de l’esprit scientifique. Paris, Vrin, 1938.
BELL, J. S. Speakable and unspeakable in quantum mechanics. Cambridge, Cambridge University Press, 1987.
BENSAUDE-VINCENT, B.; BUSTAMANTE, M. C.; FREIRE, O. & PATY, M. (eds.). Paul Langevin, son œuvre et sa pensée. Science et engagement. In: Epistémologiques, número especial, 2, 1-2, 2002.
BOHM, D. Wholeness and the implicate order. Londres, Routledge and Kegan Paul, 1980.
BOHR, N. Atomic physics and human knowledge. Nova Iorque, Wiley, 1958.
BOHR, N. Physique atomique et connaissance humaine. Paris, Gallimard, 1991.
CHAUI, M. A nervura do real. Imanência e liberdade em Espinosa. Vol. I. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
DESCARTES, R. Discours de la méthode. In: ADAM, Ch. & TANNERY, P. (eds.). Oeuvres de Descartes. Vol. VI. Paris, Vrin, 1996, p. 1-78.
EINSTEIN, A. & BORN, M. Briefwechsel 1916-1955. Munique, Nymphenburger Verlagshandlung, 1969.
EINSTEIN, A. & BORN, M. Correspondance 1916-1955. Trad. de P. Leccia e notas de M. Born. Paris, Seuil, 1972.
ESPAGNAT, B. D’. Le réel voilé. Analyse des concepts quantiques. Paris, Fayard, 1994.
ESPINOSA, B. Ethique. Trad. de Ch. Appuhn. In: Œuvres. Vol. II. Paris, Garnier-Flammarion, 1964.
ESPINOZA, M. (ed.). De la science à la philosophie. Hommage à Jean Largeault. Paris, L’Harmattan, 2001.
FREIRE JR., O. A emergência da totalidade. David Bohm e a controvérsia dos quanta. Tese de doutorado, Departamento de História, Universidade de São Paulo, 1995.
GALILEI, G. Discorsi e dimostrazioni mathematiche intorno di due nuove scienze. Ed. de A. Carugo & L. Geymonat, Boringhieri, 1958.
GALILEI, G. Dialogues sur deux sciences nouvelles. Trad. de M. Clavelin. Paris, Armand Colin, 1970.
GALILEI, G. Dialogue sur les deux grands systèmes du monde. Trad. de R. Fréreux. Paris, Seuil, 1992.
GALILEI, G. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Trad., introd. e notas de P. R. Mariconda. São Paulo, Discurso Editorial e Fapesp, 2001.
GLICK, T. (ed.). The comparative reception of relativity. Dordrecht, Reidel, 1987.
GRIFFIN, A.; SNOKE, D. W. & STRINGARI, S. (eds.). Bose-Einstein condensation. Cambridge, Cambridge University Press, 1995.
HAMBURGER, A. I.; DANTAS, M. A.; PATY, M. & PETITJEAN, P. (eds.). A ciência nas relações Brasil-França (1850-1950). São Paulo, EDUSP , 1996.
HAROCHE, S.; BRUNE, M. & RAIMOND, J. M. “Experiments with single atoms in a cavity: entanglement, Schrödinger’s cats and decoherence”. In: Philosophical Transactions of the Royal Society of London, 355, 1997, p. 2367-80.
HOFFMANN, B. & PATY, M. L’étrange histoire des quanta. Paris, Seuil, 1981.
JAMMER, M. The philosophy of quantum mechanics. The interpretations of quantum mechanics in historical perspective. Nova Iorque, Wiley and Sons, 1971.
LANGEVIN, P. La physique depuis vingt ans. Paris, Doin, 1923.
LANGEVIN, P. La notion de corpuscules et d’atomes. Paris, Hermann, 1934.
LOPES, J. A. & SILVA, F. L. (orgs.). Filosofia da comunicação. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1990.
MEYERSON, E. Identité et réalité. Paris, Alcan, 1908.
MEYERSON, E. De l’explication dans les sciences. 2 vols. Paris, Payot, 1921.
MEYERSON, E. Du cheminement de la pensée. 3 vols. Paris, Alcan, 1931.
MONOD, J. Le hasard et la nécessité. Paris, Seuil, 1970.
PATY, M. “The scientific reception of relativity in France”. In: GLICK, T. (ed.). The comparative reception of relativity. Dordrecht, Reidel, 1987, p. 113-67.
PATY, M. La matière dérobée. L’appropriation critique de la physique contemporaine. Paris, Archives Contemporaines, 1988.
PATY, M. A matéria roubada. A apropriação crítica do objeto da física contemporânea. Trad. de M. A. L. de Barros. São Paulo, EDUSP, 1995.
PATY, M. “A recepção da relatividade no Brasil e a influência das tradições científicas européias”. Trad. de A. M. Alves. In: HAMBURGER, A. I.; DANTAS, M. A.; PATY, M. & PETITJEAN, P. (eds.). A ciência nas relações Brasil-França (1850-1950). São Paulo, EDUSP, 1996, p. 143-81.
PATY, M. “La réception de la relativité au Brésil et l’influence des traditions scientifiques européennes”. In: Archives Internationales d’Histoire des Sciences, 49, 1999a, p. 331-68.
PATY, M. “Are quantum systems physical objects with physical properties?” In: European Journal of Physics, 20, 1999b, p. 373-88.
PATY, M. “Interprétations et significations en physique quantique”. In: Revue Internationale de Philosophie, 212, 2, 2000a, p. 199-242.
PATY, M. “The quantum and the classical domains as provisional parallel coexistents”. In: Synthese, 125, 1-2, 2000b, p. 179-200.
PATY, M. “La notion de grandeur et la légitimité de la mathématisation en physique”. In: ESPINOZA, M. (ed.). De la science à la philosophie. Hommage à Jean Largeault. Paris, L’Harmattan, 2001a, p. 247-86.
PATY, M. “Intelligibilité et historicité (science, rationalité, histoire)”. In: SALDAÑA, J. J. (ed.). Science and cultural diversity. Filling a gap in the history of science. México, Cadernos de Quipu 5, 2001b, p. 59-95.
PATY, M. “Les concepts de la physique: contenus rationnels et constructions dans l’histoire”. In: Principia, 2002, p. 187-218.
PATY, M. Einstein, les quanta et le réel (critique et construction théorique).(no prelo).
SALDAÑA, J. J. (ed.). Science and cultural diversity. Filling a gap in the history of science. México, Cadernos de Quipu 5, 2001.
SCHRÖDINGER, E. “Die gegenwärtige Situation in der Quantenmechanik”. In: Die Naturwissenschaften, 23, 1935, p. 807-12; 824-8; 844-9.
SCHRÖDINGER, E. “Die gegenwärtige Situation in der Quantenmechanik”. In: Gesammelte Abhand-lungen. Collected papers. 4 vols. Braunschweig/Viena, Verlag der Oesterreichischen Akademie der Wissenschaften/Vieweg und Sohn, Vol. III, 1984, p. 484-501.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus logico-philosophicus. Nova Iorque, Routledge & Kegan Paul, 1961.
WITTGENSTEIN, L. Notebook, 1914-1916. Ed. de G. H. von Wright & G. E. M. Anscombe. Trad. de G. E. M. Anscombe. Nova Iorque/Oxford, Harper and Row/Basil Blackwell, 1961.
WITTGENSTEIN, L. On certainty. Trad. de D. Paul and G. E. M. Anscombe. Nova Iorque, Harper and Row, 1969.
WITTGENSTEIN, L. Carnet, 1914 – 1916. Trad. e notas de G. G. Granger. Paris, Gallimard, 1971.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus logico-philosophicus. Trad. e introd. de L. H. dos Santos. São Paulo, Edusp, 1994.
ZUREK, W. H. “Decoherence and the transition from quantum to classical”. In: Physics Today, 44, 1991, p. 36-44.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2003 Scientiae Studia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
A revista detém os direitos autorais de todos os textos nela publicados. Os autores estão autorizados a republicar seus textos mediante menção da publicação anterior na revista. A revista adota a Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.