Darwin e o colapso do projeto epistemológico fundacional moderno
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-31662004000300002Palavras-chave:
Epistemologia fundacional, Recuo pragmatista, Pensamento evolutivoResumo
O colapso do projeto epistemológico fundacional do século XVII tem levado alguns autores a declarar que a epistemologia está morta. Tem havido, nas últimas décadas, um recuo em direção a uma abordagem pragmática do conhecimento, segundo a qual nada há a ser dito a respeito do conhecimento exceto o que possa vir a resultar de uma investigação sobre os modos como certas crenças se formam ou, alternativamente, um esforço, inspirado em Kant e em Heidegger, de superar a epistemologia via crítica das premissas antropológicas subjacentes ao anseio cartesiano por conhecimento apodítico. Dificilmente se percebe, entretanto, que Popper iniciou toda essa discussão sobre a pertinência do projeto epistemológico fundacional moderno sem, entretanto, decretar que qualquer projeto epistemológico concebível está necessariamente fadado ao fracasso. Ele vislumbrou uma solução no pensamento evolutivo darwiniano. Argumenta-se aqui que abordar o conhecimento à luz da evolução permite-nos evitar tanto o anseio por fundamentos últimos de validação do conhecimento, peculiar ao projeto epistemológico do século XVII, quanto a insustentável demanda, comum ao recuo pragmatista, tão em voga nos dias atuais, e ao esforço kantiano-heideggeriano de "superar a epistemologia", de que todo corpo de conhecimento seja confinado ao seu próprio tempo - ou, em outras palavras, de que o passado se torne irrelevante para o presente.Downloads
Referências
Bayes, K.; Boham, J. & MacCarthy, T. (Orgs.). After philosophy. Cambridge (Mass.), MIT Press, 1987.
Cassirer, E. El problema del conocimiento. México, Fondo de Cultura Económica, 1948. v. 4, Livro 2.
Dobzhansky, T. Nothing in biology makes sense except in the light of evolution. American Biology Teacher, 35, p. 125-9, may, 1973. Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/evolution/library/10/2/l_102_01.html> ou: <http://www.2think.org/dobzhansky.shtml>
Foucault, M. The order of things. Londres, Tavistock Publications, 1970.
Freitas, R. S. de. Desnaturalizando Kuhn. Estudos Avançados, 33, 12, p. 185-96, 1998.
Freitas, R. S. de. A desforra de Hume. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 42, 15, p. 23-38, 2000.
Freitas, R. S. de. Sociologia do conhecimento, pragmatismo e pensamento evolutivo. Bauru, EDUSC, 2003.
Freitas, R. S. de. A saga do ideal de boa ciência. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 55, 19, p. 91-105, 2004.
Freitas, R. S. de. & Collares, A. C. O modus tollens, o holismo de Duhem-Quine e as ciências sociais. Dados, 44, 2, p. 397-426, 2001.
Gilbert, S. F.; Opitz, J. M. & Raff, R. A. Resynthesizing evolutionary and developmental biology. Developmental Biology, 173, p. 357-72, 1996.
Haeckel, E. Historia da creação natural. Porto, Livraria Chardro Editora, 1911.
Hull, D. The metaphysics of evolution. The British Journal for the History of Science, 3, 12, p. 309-37, 1967.
Koyré, A. Estudos de história do pensamento filosófico. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1991.
Locke, M. (Org.). Major problems in developmental biology. Nova Iorque, Academic Press, 1966.
Mayr, E. The growth of biological thought. Cambridge (Mass.), Belknap Press, 1982.
Mota, M. B. da. (Org.). Ditos & escritos II: Foucault, arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2000.
Raff, R. The shape of life: genes, development and the evolution of animal form. Chicago, University of Chicago Press, 1996.
Raff, R. & Kaufman, T. Embryos, genes and evolution. Nova Iorque, Macmillan, 1983.
Sober, E. From a biological point of view: essays in evolutionary philosophy. Cambridge, Cambridge University Press, 1994.
Smith, J. M. Shaping life: genes, embryos and evolution. New Haven, Yale University Press, 1998.
Taylor, C. Philosophical arguments. Cambridge (Mass.), Harvard University Press, 1995.
Thompson, K. S. Morphogenesis and evolution. Nova Iorque, Oxford University Press, 1988.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2004 Scientiae Studia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
A revista detém os direitos autorais de todos os textos nela publicados. Os autores estão autorizados a republicar seus textos mediante menção da publicação anterior na revista. A revista adota a Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.