Modos de irredutibilidade das propriedades emergentes

Autores

  • Charbel Niño El-Hani Universidade Federal da Bahia. Instituto de Biologia
  • João Queiroz Universidade Federal da Bahia. Instituto de Biologia

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-31662005000100002

Palavras-chave:

Propriedades emergentes, Irredutibilidade, Não-analisabilidade, Não-dedutibilidade, Reducionismo, Emergentismo

Resumo

A partir de uma revisão dos postulados centrais das filosofias emergentistas e uma caracterização de algumas variedades de emergentismo, este artigo trata de uma das teses mais controversas relacionadas a esta doutrina filosófica, a tese da irredutibilidade. O argumento principal é que o significado desta tese deve ser refinado, sob pena de não se avançar na discussão sobre os sentidos em que se pode dizer que as propriedades emergentes são "irredutíveis". A partir dos trabalhos de Stephan e colaboradores, distinguem-se dois modos de irredutibilidade das propriedades emergentes, a irredutibilidade como não-analisabilidade e a irredutibilidade como não-dedutibilidade. Uma análise detalhada do conceito de irredutibilidade conduz à seguinte questão: O que significa afirmar que uma dada classe de propriedades emergentes é irredutível? Argumentamos que classes diferentes de propriedades podem ser irredutíveis em sentidos diferentes e, portanto, de acordo com diferentes modos de irredutibilidade. O artigo discute, em particular, o modo de irredutibilidade que se mostra válido para o caso de propriedades de sistemas biológicos, argumentando que as propriedades emergentes de sistemas biológicos são irredutíveis no sentido de que não é possível deduzir sua instanciação em sistemas vivos de uma dada classe a partir do conhecimento somente de sistemas vivos mais simples. Em outras palavras, propriedades emergentes biológicas são irredutíveis por não-dedutibilidade, mas não são irredutíveis por não-analisabilidade. Uma compreensão clara do modo da irredutibilidade válido no caso das propriedades biológicas faz com que os requisitos para a demonstração de sua natureza emergente mostrem-se mais realistas e as discussões sobre as possibilidades e limitações do reducionismo nas ciências biológicas possam avançar de modo mais consistente.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Allen, T. F. H. & Starr, T. B. Hierarchy: perspectives for ecological complexity. In: Keller, D. R. & Golley,

F. B. (Ed.). The philosophy of ecology: from science to synthesis. Athens, The University of Georgia Press, 1982. p. 226-31.

Andersen, P. B.; Emmeche, C.; Finnemann, N. O.; Christiansen, P. V. (Ed.). Downward causation: minds, bodies, and matter. Aarhus, Aarhus University Press, 2000.

Audesirk, T.; Audersirk, G. & Byers, B. E. Biology: life on earth.La Salle, Prentice Hall, 2001.

Bailey, A. Supervenience and physicalism. Synthese, 117, p. 53-73, 1999.

Bechtel, W. & Richardson, R.C. Discovering complexity: decomposition and localization as strategies in scientific research. Princeton, Princeton University Press, 1993.

Beckermann, A.; Flohr, H. & Kim, J. (Ed.). Emergence or reduction? Essays on the prospects of nonreductive physicalism. Berlim/Nova Iorque, Walter de Gruyter, 1992.

Bickhard, M. H. & Campbell, D. T. Emergence. In: Andersen, P. B.; Emmeche, C.; Finnemann, N. O.; Christiansen, P. V. (Ed.). Downward causation: minds, bodies, and matter. Aarhus University Press, Aarhus, 2000. p. 322-48.

Blitz, D. Emergent evolution: qualitative novelty and the levels of reality. Dordrecht, Kluwer, 1992.

Boogerd, F. C.; Bruggeman, F. J.; Richardson, R. C.; Stephan, A. & Westerhoff, H. Emergence and its place in nature: a case study of biochemical networks. Disponível em : Acesso em: 16 mar. 2004.

Boyd, R.; Gasper, P. & Trout, J. D. (Ed.). The philosophy of science. Cambridge, MIT Press, 1991.

Broad, C. D. Mechanical explanation and its alternatives. Proceedings of the Aristotelian Society, 19, p. 86-124, 1919.

Broad, C. D. The mind and its place in nature. Londres, Kegan Paul, Trench, Trubner & Co, 1925.

Bruggeman, F. J.; Westerhoff, H. V. & Boogerd, F. C. Biocomplexity: a pluralist research strategy is necessary for a mechanistic explanation of the “live” state. Philosophical Psychology, 15, 4, p. 411-40, 2002.

Bunge, M. Levels and reduction. American Journal of Physiology, 233, p. R75-R82, 1977.

Campbell, N. A. & Reece, J. B. Biology. San Francisco, The Benjamim/Cummings, 2002.

Carrier, M. & Machamer, P. K. (Ed.). Mindscape: philosophy, science, and the mind. Pittsburgh, University of Pittsburgh Press, 1997.

Castro, T. A. & El-Hani, C. N. O uso do conceito de propriedades emergentes e de conceitos relacionados em livros didáticos de biologia do ensino superior. Atas do III Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Porto Alegre, ABRAPEC, 2003a.

Castro, T. A. & El-Hani, C. N. O uso do conceito de propriedades emergentes e de conceitos relacionados em livros didáticos de biologia do ensino superior: um estudo de caso. Coletânea do I Encontro Regional de Ensino de Biologia do Nordeste. Feira de Santana-BA, UEFS, 2003b. Cunningham, B. The reemergence of “emergence”. Philosophy of Science, 68, p. S62-S75, 2001. (PSA 2000 Proceedings)

El Hani, C. N. Níveis da ciência, níveis da realidade. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.

El Hani, C. N. On the reality of emergents. Principia, 6, 1, p. 51-87, 2002.

El Hani, C. N. Pluralismo metodológico na pesquisa biológica: indo além do reducionismo. No prelo.

El-Hani, C. N. & Emmeche, C. On some theoretical grounds for an organism-centered biology: property emergence, supervenience, and downward causation. Theory in Biosciences, 119, p. 234-75, 2000.

El-Hani, C. N. & Pereira, A. M. Understanding biological causation. In: Hardcastle, V.G. (Ed.). Where biology meets psychology: philosophical essays. Cambridge, MIT Press, 1999. p. 333-56.

El-Hani, C. N. & Pereira, A. M. Higher-level descriptions: why should we preserve them? In: Andersen, P.B.; Emmeche, C.;

Finnemann, N.O.; Christiansen, P.V. (Ed.). Downward causation: minds, bodies, and matter. Aarhus, Aarhus University Press, 2000. p. 118-42.

El-Hani, C. N. & Pihlström, S. Emergence theories and pragmatic realism. Essays in Philosophy, 3, 2, 2002a.

El-Hani, C. N. & Pihlström, S. A pragmatic realist view of emergence. Manuscrito, 25, p. 105-54, 2002b.

El-Hani, C. N. & Pihlström, S. Realismo, pragmatismo e emergência. In: Silva Filho, W. J. (Ed.). Davidson e a filosofia. No prelo.

El-hani, C. N. & Queiroz, J. Semiose como processo emergente. No prelo.

El-Hani, C. N. & Videira, A. A. P. Causação descendente, emergência de propriedades e modos causais aristotélicos. Theoria, 16, 2, p. 301-29, 2001.

Emmeche, C.; Koppe, S. & Stjernfelt, F. Explaining emergence: towards an ontology of levels. Journal for General Philosophy of Science, 28, p. 83-119, 1997.

Emmeche, C.; Koppe, S. & Stjernfelt, F. Levels, emergence and three versions of downward causation. In: Andersen, P.B.; Emmeche, C.; Finnemann, N.O.; Christiansen, P.V. (Ed.). Downward causation: minds, bodies, and matter. Aarhus, Aarhus University Press, 2000. p. 13-34.

Globus, G. G.; Maxwell, G. & Savodnik, I. (Ed.). Consciousness and the brain: a scientific and philosophical inquiry. Nova Iorque, Plenum Press, 1976.

Griffiths, D. Introduction to elementary particles. Nova Iorque, John Wiley & Sons, 1987.

Hardcastle, V.G. (Ed.). Where biology meets psychology: philosophical essays. Cambridge, MIT Press, 1999.

Heil, J. Supervenience deconstructed. European Journal of Philosophy, 6, p. 146-55, 1998.

Hiett, P. J. The place of life in our theories. Biosystems, 47, p. 157-76, 1998.

Honderich, T. (Ed.). The Oxford companion to philosophy. Oxford, Oxford University Press, 1995.

Keller, D. R. & Golley, F. B. (Ed.). The philosophy of ecology: from science to synthesis. Athens, The University of Georgia Press, 1982.

Kim, J. “Downward causation” in emergentism and non-reductive materialism. In: Beckermann, A.; Flohr, H. & Kim, J. (Ed.). Emergence or reduction? Essays on the prospects of nonreductive physicalism. Berlim/Nova Iorque, Walter de Gruyter, 1992. p. 119-38.

Kim, J. (Ed.). Supervenience and mind. Cambridge, Cambridge University Press, 1993.

Kim, J. Supervenience as a philosophical concept. In: Kim, J. (Ed.). Supervenience and mind. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. p.131-60.

Kim, J. Philosophy of mind. Boulder, Westview Press, 1996.

Kim, J. Supervenience, emergence, and realization in the philosophy of mind. In: Carrier, M.&

Machamer, P. K. (Ed.). Mindscape: philosophy, science, and the mind. Pittsburgh, University of Pittsburgh Press, 1997. p. 271-93.

Machamer, P. K. Mind in a physical world: an essay on the mind-body problem and mental causation. Cambridge/Londres, The MIT Press, 1998.

Machamer, P. K. Making sense of emergence. Philosophical Studies, 95, p. 3-36, 1999.

Levine, J. Materialism and qualia: the explanatory gap. Pacific Philosophical Quarterly, 64, p. 354-61, 1983.

Loehle, C. & Pechmann, J. H. K. Evolution: the missing ingredient in systems ecology. American Naturalist, 132, p. 884-99, 1988.

Mclaughlin, B. P. The rise and fall of british emergentism. In: Beckermann, A.; Flohr, H. & Kim, J. (Ed.). Emergence or reduction? Essays on the prospects of nonreductive physicalism. Berlin, Walter de Gruyter, 1992. p. 49-93.

O’Connor, T. Emergent properties. American Philosophical Quarterly, 31, p. 91-104, 1994.

Odum, E. P. The emergence of ecology as a new integrative discipline. Science, 195, p. 1289-93, 1977.

Odum, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro, Guanabara, 1988.

Oppenheim, P. & Putnam, H. Unity of science as a working hypothesis. In: Boyd, R.; Gasper, P. & Trout, J. D. (Ed.). The philosophy of science. Cambridge, MIT Press, 1991 [1958]. p. 405-27.

Pihlström, S. The re-emergence of the emergence debate. Principia, 6, 1, p. 133-81, 2002.

Popper, K.R. & Eccles, J.C. The self and its brain. Londres, Routledge and Kegan Paul, 1986 [1977].

Queiroz, J. & El-Hani, C. N. Semiosis as an emergent process. Transactions of the Charles S. Peirce Society. No prelo.

Rescher, N. Process metaphysics: an introduction to process philosophy. Nova Iorque, SUNY Press, 1996.

Ruppert, E. E. & Barnes, R. D. Zoologia dos invertebrados. São Paulo, Roca, 1996.

Ruse, M. Reductionism. In: Honderich, T. (Ed.). The Oxford companion to philosophy. Oxford, Oxford University Press, 1995. p. 750-1.

Salthe, S. N. Evolving hierarchical systems: their structure and representation. Nova Iorque, Columbia University Press, 1985.

Schoener, T. W. Mechanistic approaches to ecology: a new reductionism? American Zoologist, 26, p. 81-106, 1986.

Schröder, J. Emergence: non-deducibility or downwards causation? Philosophical Quarterly, 48, p. 433-52, 1998.

Silva Filho, W. J. (Ed.). Davidson e a filosofia. No prelo.

Simon, H. The sciences of the artificial. Cambridge, MIT Press, 1969.

Stephan, A. Varieties of emergence in artificial and natural systems. Zeitschrift für Naturforschung, 53c, p. 639-56, 1998.

Stephan, A. Emergenz: von der Unvorhersagbarkeit zur Selbstorganisation. Dresden/München, Dresden University Press, 1999a.

Stephan, A. Varieties of emergentism. Evolution and Cognition, 5, p. 49-59, 1999b.

Wimsatt, W. C. Reductionism, levels of organization and the mind-body problem. In: Globus, G. G.; Maxwell, G. & Savodnik, I. (Ed.). Consciousness and the brain: a scientific and philosophical inquiry. Nova Iorque, Plenum Press, 1976. p. 199-267.

Wimsatt, W. C. Aggregativity: reductive heuristics for finding emergence. Philosophy of Science,64, p. S373–S384, 1997.

Downloads

Publicado

2005-03-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Modos de irredutibilidade das propriedades emergentes . (2005). Scientiae Studia, 3(1), 9-41. https://doi.org/10.1590/S1678-31662005000100002