Desencantamento da modernidade e da pós-modernidade: diferenciação, fragmentação e a matriz de entrelaçamento

Autores

  • Terry Shinn Maison des Sciences de l'Homme de Paris

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-31662008000100003

Palavras-chave:

Pós-modernidade, Modernidade, Weber, Lyotard, Latour, Jameson, Beck, Gibbons, Durkheim, Matriz de entrelaçamento

Resumo

Em muitos setores significativos, mudou apreciavelmente o tom e a substância do discurso sociológico sobre o passado, o presente e o futuro da cultura em geral, sobre as instituições, o conteúdo das aspirações e relações individuais, e também sobre a matéria e a organização da ciência, da tecnologia e da epistemologia. O discurso da sociedade pós-moderna e, correspondentemente, os fenômenos de suporte intelectual e social oferecem algum crédito para os argumentos de que o mundo de hoje e os prospectos de amanhã estão em contraste radical, e mesmo em assimetria, com o mundo dos últimos dois séculos e meio. O propósito deste artigo é triplo. Primeiro, é necessário identificar os domínios específicos nos quais as alegações pós-modernas diferem das noções dominantes da representação moderna da sociedade e da ciência. Quais são as maneiras pelas quais a pós-modernidade forja conceitos substitutos e repudia conceitos da modernidade ou, de modo alternativo, até que grau procura-se construí-los em vista das recentes mudanças cognitivas, tecnológicas e sociais, mesmo se situando, todavia, no interior do quadro referencial da modernidade? Segundo, o que constitui a mensagem fundamental, cultural e cognitiva, da pós-modernidade? Em que tal mensagem rompe autenticamente com a modernidade e onde ela procura distintamente destruir os próprios fundamentos do pensamento da modernidade? Quais são as implicações putativas para a ciência, a tecnologia e a própria epistemologia? Finalmente, propor-se-á aqui uma alternativa à análise pós-moderna, uma alternativa que depende de características básicas do pensamento moderno e que, entretanto, incorpora eventos que transformaram inegavelmente o homem, a máquina, o material e a epistemologia nas últimas décadas e que, desse modo, redesenha o mapa da modernidade especificando as componentes e os modos de interação e extensão alternativos. Essa hipótese pode ser vista como uma ponte entre a modernidade clássica e a pós-modernidade, e também como um desvio em relação a estas. Essa linha de pensamento pode ser, por ora, grosseiramente rotulada de "pós-pós-modernidade". A hipótese está baseada em uma "matriz de entrelaçamento", a qual mobiliza três noções fundamentais que são fortemente informadas pela experiência contemporânea na ciência e na tecnologia, embora não exclusivamente por esses domínios. O lugar central atribuído aqui ao conhecimento e à epistemologia não é despropositado, em vista de sua primazia no fluxo da ação hodierna (na inovação, na vida diária, na política).

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Abbott, A. Things of boundaries. Social Research, 62, 4, p. 857-82, 1995.

Beck, U. The theory of reflexive modernization: problematic, hypotheses, and research program. Theory, Culture and Society, 20, 1, p. 1-33, 2003.

Beck, U.; Giddens, A. & Lash, S. (Ed.). Reflexive modernization: politics, tradition and aesthetics in the modern social order. Stanford: Stanford University Press, 1994.

Bourdieu, P. La distinction: critique sociale du jugement de gout. Paris: Minuit, 1979.

Castells, M. The rise of the network society. Oxford: Blackwell, 1996.

Durkheim, É. The elementary forms of religious life. New York: The Free Press, 1912.

Durkheim, É. The division of labor in society. New York: The Free Press, 1993.

Elias, N. La société des individus. Paris: Fayard, 1987.

Espeland, W. & Mitchel, S. Commensuration as a social process. Annual Review of Sociology, 28, p. 313-43, 1998.

Etzkowitz, H. & Leydesdorff, L. Universities and the global knowledge economy: a triple helix of university-industry-government relations. London: Cassell Academic, 1997.

Forman, P. Weimar culture, causality, and quantum theory: adaptation by German physicists and mathematicians to a hostile environment. Historical Studies in the Physical Sciences, 3, p. 1-115, 1971.

Forman, P. The primacy of science in modernity, of technology in post modernity, and of ideology in the history of technology. History of Technology, 23, 1-2, p. 1-152, 2007.

Gibbons, M. et al. The new production of knowledge: the dynamics of science and research in contemporary societies. London: Sage, 1994.

Giddens, A. Modernity and self-identity. Cambridge: Polity, 1991.

Giddens, A. Living in a post-traditional society. In: Beck, U.; Giddens, A. & Lash, S. (Ed.). Reflexive modernization: politics, tradition and aesthetics in the modern social order. Stanford: Stanford University Press, 1994. p. 56-109.

Habermas, J. The political discourse of modernity. Cambridge: MIT Press, 1987.

Inglis, D. Confronting culture: sociological vistas. Cambridge: Polity, 2003.

Inglis, D. Confronting everyday life. London: Routledge, 2005.

Inglis, D. & Bones, J. Boundary maintenance, border crossing and the nature/culture divide. European Journal of Social Theory, 9, 2, p. 272-87, 2006.

Jameson, F. Post modernity: or the cultural logic of late capitalism. London: New Left Review, 1984.

Lash, S. Aesthetic reflexive modernization: the aesthetic dimension. Theory, Culture and Society, 10, 1, p. 1-24, 1993.

Lash, S. Reflexive and its doubles: structure, aesthetics, community. In: Beck, U.; Giddens, A. & Lash, S. (Ed.). Reflexive modernization: politics, tradition and aesthetics in the modern social order. Stanford: Stanford University Press, 1994. p. 110-173.

Lash, S. & Friedman, J. Sociology of post modernity. London: Routledge, 1990

Lash, S. & Friedman, J. Modernity and self-identity. Cambridge: Polity, 1992.

Lash, S. & Friedman, J. (Ed.). Modernity and identity. Oxford: Blackwell, 1992.

Latour, B. Science in action: how to follow scientists and engineers through society. Cambridge: Harvard University Press, 1987.

Latour, B. Nous n’avons jamais été modernes: essai d’anthropologie symétrique. Paris: La Découverte & Syros, 1997.

Latour, B. Is re-modernization occurring – and if so, how to prove it? A commentary on Ulrich Beck. Theory, Culture and Society, 20, 2, p. 35-48, 2003.

Latour, B. & Woolgar, S. Laboratory life: the construction of social scientific facts. Los Angeles/London: Sage, 1979.

Lee, R. In search of second modernity: reinterpreting reflexive modernization in the context of multiple modernities. Social Science Information, 47, p. 47-55, 2008.

Luhman, N. The modernity of science. New German Critique, 61, p. 9-16, 1994.

Lyotard, J. F. La condition postmoderne, rapport sur le savoir. 1979. Paris: Minuit, 1979.

Lyotard, J. F. Le différent. Paris: Minuit, 1983.

Lyotard, J. F. Le postmoderne expliqué aux enfants. Paris, Edition Galilée, 1988.

Marcovich, A. A quoi rêvent les sociétés? Paris: Odile Jacob, 2001.

Nowotny, H. et al. Re-thinking science. Knowledge and the public in an age of uncertainty. Oxford: Polity, 2001.

Pestre, P. Physique et physiciens en France 1918-1940. Paris: Archives Contemporaines, 2001.

Rasch, W. Theories of complexity, complexity of theories: Habermas, Luhman and the study of social systems. German Studies Review, 14, 1, p. 65-83, 1999.

Scott, A. Modernity’s machine metaphor. British Journal of Sociology, 48, 4, p. 561-75, 1997.

Shilling, P. & Mellor, C. Durkheim, morality and modernity: collective effervescence, homo duplex and the sources of moral action. The British Journal of Sociology, 49, 2, p. 193-209, 1998.

Shinn, T. Savoir scientifique et pouvoir social: l’école polytechnique, 1793-1914. Paris: Sciences Politiques, 1980.

Shinn, T. The triple helix and new production of knowledge: prepackaged thinking on science and technology. Social Studies of Science, 32, 4, p. 599-614, 2002.

Shinn, T. When is simulation a research-technology? Practices, markets, and lingua franca. In: Lenhard, J.; Küppers, G. & Shinn, T. (Ed.). Simulation, pragmatic construction of reality. Springer: Dortrecht, 2006. p. 187-203.

Shinn, T. & Lamy, E. Caminhos do conhecimento comercial: formas e conseqüências da sinergia universidade-empresa nas incubadoras tecnológicas. Scientiae Studia, 4, 3, p. 485-508, 2006.

Shinn, T. & Marcovich, A. Cognitive/organisational blocks. Promethean, territorial and porous configurations. Social Science Information, 1, 2009. No prelo.

Shinn, T. & Ragouet, P. Controverses sur la science: pour une sociologie transversaliste des activités scientifiques. Paris: Raison d’Agir, 2005.

Stein, W. The end of what modernity? Theory and Society, 24, 4, p. 471-88, 1995.

Veyne, P. Foucault, sa pensée, sa personne. Paris: Albin Michel, 2008.

Weber, M. The protestant ethic and the spirit of capitalism. London: George Allen and Underwin, 1993.

Weber, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Downloads

Publicado

2008-03-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Desencantamento da modernidade e da pós-modernidade: diferenciação, fragmentação e a matriz de entrelaçamento . (2008). Scientiae Studia, 6(1), 43-81. https://doi.org/10.1590/S1678-31662008000100003