O legado de Thomas Kuhn após cinquenta anos

Autores

  • André Luis de Oliveira Mendonça Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-31662012000300006

Palavras-chave:

Ciência, Sociedade, Fatores racionais, Valores sociais, Kuhn, Programa forte, Science studies

Resumo

Neste artigo, analiso o pensamento de Thomas Kuhn à luz da ideia de que sua obra desencadeou um processo de rediscussão acerca das relações entre ciência e sociedade. De fato, A estrutura das revoluções científicas, publicado em 1962, causou um impacto que deixou marcas indeléveis nos debates arrolados sobre a prática científica. Dois efeitos colaterais decorreram desse acontecimento: um possibilitou o surgimento - talvez a concretização de uma tendência - de questões extremamente técnicas e, em alguma medida, estéreis; o outro acirrou os ânimos da querela acerca do lugar que a ciência ocupa, ou deveria ocupar, na sociedade. O argumento central desenvolvido neste artigo é o de que o segundo efeito foi engendrado por Kuhn de forma inconsciente. Em outras palavras, Kuhn pode ser visto como tendo propiciado uma liberação involuntária, no sentido de ter recolocado o debate em torno da interface entre a ciência e a sociedade, embora a sua revelia. Dessa forma, ele pode ser apontado como a grande fonte de inspiração para o programa forte e os subsequentes science studies. É necessário, portanto, uma reavaliação das suas teses principais, a fim de que se possa lançar luz sobre a questão da interação entre os fatores racionais e os valores sociais.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Barnes, B. T. S. Kuhn and social science. London: Macmillan, 1982.

Biagioli, M. The anthropology of incommensurability. Studies in History and Philosophy of Science, 21, 2, p. 183-209, 1990.

Bird, A. Kuhn’s wrong turning. Studies in History and Philosophy of Science, 33, 3, p. 443-63, 2002.

Brush, S. Thomas Kuhn as a historian of science. Science & Education, 9, p. 39-58, 2000.

Chang, H. History and philosophy of science as a continuation of science by other means. Science & Education, 8, p. 413-25, 1999.

Chen, X. Thomas Kuhn’s latest notion of incommensurability. Journal for General Philosophy of Science, 28, 2, p. 257-73, 1997.

Chen, X. A different kind of revolutionary change: transformation from object to process concepts. Studies in History and Philosophy of Science, 41, p. 182–91, 2010.

Chibeni, S. & Almeida, A. M. Investigando o desconhecido: filosofia da ciência e investigação de fenômenos “anômalos” na psiquiatria. Revista de Psiquiatria Clínica, 34, 1, p. 8-16, 2007.

Davidson, D. The very idea of a conceptual scheme. Proceedings & Adresses of the American Philosofical Association, 47, 5, p. 20, 1974.

Deus, J. D. (Org.). A crítica da ciência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979.

Doppelt, G. Kuhn’s epistemological relativism: an interpretation and defense. Inquiry, 21, 1, p. 33-86, 1978.

Feyerabend, P. Consolando o especialista. In: Lakatos, I. & Musgrave, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1979. p. 244-84.

Forman, P. Weimar culture, causality, and quantum theory: 1918-1927. Historical Studies in the Physical Sciences, 3, 1, p. 1-115, 1971.

Freedman, K. Naturalized epistemology, or what the strong program can’t explain. Studies in History and Philosophy of Science, 36, p. 135-48, 2005.

Friedman, M. On the sociology of scientific knowledge and its philosofical agenda. Studies in History and Philosophy of Science, 29, 2, p. 239-71, 1998.

Friedman, M. Reconsidering logical positivism. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

Friedman, M. A parting of ways: Carnap, Cassirer, and Heidegger. Chicago: Open Court Press, 2000.

Fuller, S. Thomas Kuhn: a philosophical history for our times. Chicago: University of Chicago Press, 2000.

Fuller, S. Kuhn vs Popper: the struggle for the soul of science. Cambridge, UK: Icon, 2003.

Habermas, J. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Tradução F. B. Siebeneichler. 2 ed. São Paulo:

Tempo Brasileiro, 2002.

Kochan, J. Realism, reliabilism, and the “strong program” in the sociology of scientific knowledge. International Studies in the Philosophy of Science, 22, 1, p. 21–38, 2008.

Kochan, J. Contrastive explanation and the ‘strong program’ in the sociology of scientific knowledge. Social Studies of Science, 40, 1, p. 127-44, 2010.

Kuhn, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1978.

Kuhn, T. S. A função do dogma na investigação científica. In: Deus, J. D. (Org.). A crítica da ciência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979. p. 53-80.

Kuhn, T. S. A tensão essencial. Lisboa: Edições 70, 1989.

Kuhn, T. S. The road since structure: philosophical essays, 1970-1993, with an autobiographical interview. Chicago: University of Chicago Press, 2000.

Kuhn, T. S. Possible worlds in history of science. In: Kuhn, T. S. The road since structure: philosophical essays, 1970-1993, with an autobiographical interview. Chicago: University of Chicago Press, 2000a. cap. 3, p. 77-114.

Kuhn, T. S. The trouble with the historical philosophy of science. In: Kuhn, T. S. The road since structure: philosophical essays, 1970-1993, with an autobiographical interview. Chicago: University of Chicago Press, 2000b. cap. 5, p. 133-51.

Lacey, H. Valores e atividade científica 1. 2 ed. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia/Editora 34, 2008.

Lacey, H. Valores e atividade científica 2. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia/Editora 34, 2010.

Lakatos, I. O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica. In: Lakatos, I. &

Musgrave, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1979. p. 109-243.

Musgrave, A. História da ciência e suas reconstruções racionais. Lisboa: Edições 70, 1987.

Lakatos, I. & Musgrave, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1979.

Larvor, B. Why did Kuhn’s SSR cause a fuss? Studies in History and Philosophy of Science, 34, p. 369-90, 2003.

Lewens, T. Realism and the strong program. British Journal for the Philosophy of Science, 56, p. 559-77, 2005.

Mastermann, M. A natureza do paradigma. In: Lakatos, I. & Musgrave, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1979. p. 77-80.

Mello Filho, D. A epidemiologia, os valores e o significado de paradigma. Cadernos de Saúde Pública do Rio de Janeiro, 13, 4, p. 761-6, 1997.

Mendonça, A. O progresso científico segundo Thomas Kuhn: especialização e incomensurabilidade. Rio de Janeiro, 2003. Dissertação (Mestrado em Filosofia). Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Mendonça, A. & Videira, A. A. P. Progresso científico e incomensurabilidade em Thomas Kuhn. Scientiae Studia, 5, 2, p. 169-83, 2007.

Mendonça, A.; Araújo, P. & Videira, A. A. P. Primazia da democracia e autonomia da ciência: o pensamento de Feyerabend no contexto dos science studies. Filosofia Unisinos, 11, 1, p. 44-61, 2010.

Minhot, L. La mirada psicoanalítica: un análisis kuhniano del psicoanálisis de Freud. Córdoba: Brujas, 2003.

Nickles, T. Philosophy of science and history of science. Osiris, 10, p. 139-63, 1995.

Nola, R. Saving Kuhn from the sociologists of science. Science & Education, 9, p. 77-90, 2000.

Popper, K. Conjecturas e refutações. Brasília: Editora UnB, 1972.

Popper, K. A ciência normal e seus perigos. In: Lakatos, I. & Musgrave, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1979.p. 115-41.

Putnam, H. Razão, verdade e história. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.

Radder, H. Philosophy and history of science: beyond the kuhnian paradigm. Studies in History and Philosophy of Science, 28, 4, p. 633-55, 1997.

Rorty, R. A filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

Rorty, R. Objetivismo, relativismo e verdade. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1997.

Rorty, R. Thomas Kuhn, as pedras e as leis da física. Cadernos de Tradução da F.F.C., 1, p. 21-42, 1998.

Rouse, J. Engaging science: how to understand its practices philosophically. Ithaca: Cornell University Press, 1996.

Sankey, H. Kuhn’s ontological relativism. Science & Education, 9, p. 59-75, 2000.

Sankey, H. Scientific realism and the semantic incommensurability thesis. Studies in History and Philosophy of Science, 40, p. 196–202, 2009.

Scheffler, I. Science and subjectivity. New York: Bobbs-Merrill, 1967.

Sellars, W. Empiricism and the philosophy of mind. Cambridge: Harvard University Press, 1997.

Shapere, D. Reason and the search for knowledge: investigations in the philosophy of science. Dordrecht: Reidel Press, 1984.

Tosh, N. Science, truth and history, Part I. Historiography, relativism and the sociology of scientific knowledge. Studies in History and Philosophy of Science, 37, 4, p. 675-701, 2006.

Watkins, J. Contra a “ciência normal”. In: Lakatos, I. & Musgrave, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1979. p. 33-48.

Downloads

Publicado

2012-01-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

O legado de Thomas Kuhn após cinquenta anos. (2012). Scientiae Studia, 10(3), 535-560. https://doi.org/10.1590/S1678-31662012000300006