Pode haver uma ciência psicanalítica sem uma metapsicologia especulativa?
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-31662013000300003Resumo
Neste artigo pretendo explicitar dois sentidos básicos dados ao termo "metapsicologia" na história da psicanálise: como teoria sobre o desenvolvimento psicoafetivo do ser humano, que considera as determinações inconscientes, e como um conjunto de conceitos auxiliares, que servem como uma superestrutura especulativa teórica da psicanálise. Depois, procurarei mostrar porque é possível afirmar que Winnicott tanto rejeitou como refundou a teoria metapsicológica psicanalítica. Com tal tipo de análise, pode-se esclarecer em que sentido Winnicott usa conceitos abstratos (tais como "necessidade de ser", "tendência inata à integração", "elemento feminino puro", "solidão essencial", dentre outros), mas não conceitos especulativos, uma vez que os primeiros podem ter referentes adequados na realidade fenomênica e os segundos não. Esse tipo de distinção também torna possível recolocar a questão do lugar e da necessidade da teorização metapsicológica no desenvolvimento da psicanálise, colocando, como possibilidade, a construção de uma teoria psicanalítica como sendo uma ciência que não necessita de construções auxiliares especulativas tal como Freud propôs.Downloads
Referências
Andrews, J. C. El concepto de pulsión en Winnicott. In: Andrews, J. C. El oficio en lo invisible. Los derechos del paciente en la prática psicoanalítica. Providencia: Ocho Libros, 2011. p. 587-94.
Armengou, F. G.-C. The death drive: conceptual analysis and relevance in the Spanish psychoanalytic community. The International Journal of Psychoanalysis, 90, 2, p. 263-89, 2009.
Assoun, P.-L. Introduction à l’épistemologie freudienne. Paris: PUF, 1981.
Assoun, P.-L. Freud et les sciences sociales. Paris: Armand Colin, 1993a.
Assoun, P.-L. Introduction à la métapsychologie freudienne. Paris: PUF, 1993b.
Assoun, P.-L. Psychanalyse. Paris: PUF, 1997.
Assoun, P.-L. La métapsychologie. Paris: PUF, 2000.
Assoun, P.-L. Le symptôme humain: Winnicott a-métapsychologue. In: Assoun, P.-L. La nature humaine à l´épreuve de Winnicott. Paris: PUF, 2006. p. 61-78.
Bernardi, R. The role of paradigmatic determinants in psychoanalytic understanding. International Journal of Psychoanalysis, 70, p. 341-55, 1989.
Bernardi, R. The need for true controversies in psychoanalysis: the debates on Melanie Klein and Jacques Lacan in the Río de la Plata. The International Journal of Psychoanalysis, 83, 4, p. 851-73, 2002.
Breger, L. (Ed.). Clinical-cognitive psychology: models and integrations. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1969.
Ellenberger, H. F. Introducción clínica a la fenomenologia psiquiátrica y al análisis existencial. In: May, R.; Angel, E. & Ellenberger, H. F. Existencia. Nueva dimensión en psiquiatría y psicologia. Madrid: Editorial Gredos, 1958. p. 123-60.
Ellenberger, H. F. Existentialisme et psychiatrie. In: Ellenberger, H. F. Médecines de l’âme. Essais d’histoire de la folie et des guérisons psychiques. Mesnil-sur-l’Estrée: Fayard, 1961. p. 391-416.
Ellenberger, H. F. Herméneutique et psychanalyse. In: Ellenberger, H. F. Médecines de l’âme. Essais d’histoire de la folie et des guérisons psychiques. Mesnil-sur-l’Estrée: Fayard, 1966. p. 417-428.
Fédida, P. Préface. Cliniques Méditerranéennes, 41-42, p. 5-8, 1994.
Freud, S. L’intrepretation du rêve. In: Freud, S. Oeuvres complètes de Freud. Paris: PUF, 2003 [1900], v. 4.
Freud, S. Nouvelles suite des leçons d’introdution à la psychanalyse. In: Freud, S. Oeuvres complètes de Freud. Paris: PUF, 2004 [1933]. v. 19, p. 83-268.
Freud, S. Remarques psychanalytiques sur un cas de paranoïa (Dementia paranoides) décrit sous forme autobiografique. In: Freud, S. Oeuvres complètes de Freud. Paris: PUF, 2009 [1911]. v. 10, p. 225-304.
Freud, S. Note sur l’inconscient en psychanalyse. In: Freud, S. Oeuvres complètes de Freud. Paris: PUF, 2009 [1912].
v. 11, p. 169-80.
Freud, S. Autoprésentation. In: Freud, S. Oeuvres complètes de Freud. Paris: PUF, 2009 [1925]. v. 17, p. 51- 122.
Freud, S. L’analyse finie et l’analyse infinie. In: Freud, S. Oeuvres complètes de Freud. Paris: PUF, 2009 [1937]. v. 17, p. 13-55.
Fulgencio, L. Comentários críticos das referências textuais de Freud a Kant. Psicologia USP, 12, 1, p. 49- 88, 2001.
Fulgencio, L. As especulações metapsicológicas de Freud. Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 5, 1, p. 127-64, 2003.
Fulgencio, L. Freud´s metapsychological especulations. International Journal of Psychoanalysis, 86, 1, p. 99-123, 2005.
Fulgencio, L. O lugar da psicologia empírica no sistema de Kant. Kant e-Prints, série 2, 1, 1, p. 89-118, 2006. Disponível em: <ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/Psicologia%20empirica%20em%20Kant.pdf>. Acesso em: 09 set. 2013.
Fulgencio, L. O kantismo de Freud. Mente, Cérebro & Filosofia, 3, p. 64-74, 2007a.
Fulgencio, L. Paradigmas na história da psicanálise. Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 9, 1, p.97-128, 2007b.
Fulgencio, L. Winnicott’s rejection of the basic concepts of Freud’s metapsychology. The International Journal of Psychoanalysis, 88, 2, p. 443-61, 2007c.
Fulgencio, L. O método especulativo em Freud. São Paulo: EDUC, 2008.
Fulgencio, L. & Simanke, R. T. Freud na filosofia brasileira. São Paulo: Escuta, 2005.
Gill, M. M. Metapsychology is not psychology. Psychological Issues, 9, 4, Monograph 36, p. 71-105, 1976.
Girard, M. L´accueil en pratique institutionnelle. Immaturité, schizophrénies et bruissements du monde. Nimes: Champ Social Éditions, 2006.
Girard, M. Winnicott’s foundation for the basic concepts of Freud’s metapsychology? The International Journal of Psychoanalysis, 91, 2, p. 305-24, 2010.
Green, A. Propédeutique. La métapsychologie revisitée. Seyssel: Champ Vallon, 1995.
Green, A. Idées directrices pour une psychanalyse contemporaine. Paris: PUF, 2002.
Green, A. Winnicott at the start of the third millennium. In: Caldwell, L. (Ed.). Sex and sexuality: Winnicottian perspectives. London: Karnac Books, 2005a. p. 11-31. (Winnicott Studies Monograph Series).
Green, A. Winnicott en transition, entre Freud et Melanie Klein. In: Green, A. Jouer avec Winnicott. Paris: PUF, 2005b. p. 43-66.
Green, A. Origines et vicissitudes de l’être dans l’oeuvre de Winnicott. Revue Française de Psychanalyse, 4, 75, p. 1151-70, 2011.
Grünbaum, A. La psychanalyse à l’épreuve. Paris: L’éclat, 1993.
Grünbaum, A. Les fondements de la psychanalyse. Une critique philosophique. Paris: PUF, 1996.
Imbasciati, A. An explanatory theory for psychoanalysis. The International Journal of Psychoanalysis, 11, 3, p. 173-83, 2002a.
Imbasciati, A. A psychoanalyst’s reflections on rereading a cognitivist: toward an explanatory theory of relationship. Psychoanalytic Review, 89, 5, p. 595-630, 2002b.
Imbasciati, A. Psychanalyse et neurosciences: pour une nouvelle metapsychologie. Revue Française de Psychanalyse, 71, 2, p. 455-77, 2007.
Imbasciati, A. Towards new metapsychologies. Psychoanalytic Review, 97, 1, p. 44-61, 2010.
Klein, G. S. Freud’s two theories of sexuality. In: Breger, L. (Ed.). Clinical-cognitive psychology: models and integrations. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall, 1969. p. 136-81.
Kuhn, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975.
Kuhn, T. S. A tensão essencial. Lisboa: Edições 70, 1977.
Kuhn, T. S. O caminho desde a estrutura. Ensaios filosóficos, 1970-1993, com uma entrevista autobiográfica. São Paulo: Editora Unesp, 2006.
Lacan, J. O seminário. Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
Loparic, Z. Heidegger and Winnicott. Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 1, 1, p. 104-35, 1999a.
Loparic, Z. O conceito de Trieb na filosofia e na psicanálise. In: Machado, J. A. T. (Ed.). Filosofia e psicanálise: um diálogo. Porto Alegre: EDIPCRS, 1999b. p. 97-157.
Loparic, Z. Esboço do paradigma winnicottiano. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 11, 2, p. 7-58, 2001.
Loparic, Z. Binswanger, leitor de Heidegger: um equívoco produtivo? Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 4, 2, 2002.
Loparic, Z. De Freud a Winnicott: aspectos de uma mudança paradigmática. Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 8 (Especial 1), p. 21-47, 2006.
Loparic, Z. Elementos da teoria winnicottiana da sexualidade. Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 7, 2, p. 311-58, 2007.
Loparic, Z. From Freud to Winnicott: aspects of a paradigm change. In: Abram, J. (Ed.). Donald Winnicott today. London/New York: Routledge, 2012. p. 113-56.
Mezan, R. Existem paradigmas na psicanálise? Percurso, 4, p. 43-53, 1990.
Mezan, R. Sobre a epistemologia da psicanálise. In: Mezan, R. Interfaces da psicanálise. São Paulo: Companhia dasLetras, 2002. p. 436-519.
Mezan, R. Paradigmas em psicanálise. Revista de Filosofia e Psicanálsie Natureza Humana, 8 (Especial 1), p. 49-62, 2006.
Monzani, L. R. O movimento de um pensamento. Campinas: Edunicamp, 1989.
Peirce, C. S. A ética da terminologia. In: Peirce, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1997. p. 39-43.
Phillips, A. Winnicott. London: Fontana Press, 1988.
Phillips, A. Beijo, cócegas e tédio. O inexplorado da vida à luz da psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Ricoeur, P. De l’interpretation. Essai sur Freud. Paris: Seuil, 1965.
Roudinesco, E. & Plon, M. Dictionnaire de la psychanalyse. Paris: Fayard, 1997.
Roussillon, R. Transitionnel et réflexivité. Les Lettres de la Société de Psychanalyse Freudiene. Winnicott, un psychanalyste dans notre temps, 21, p. 123-40, 2009.
Simanke, R. T. Metapsicologia lacaniana: os anos de formação. São Paulo/Curitiba: Discurso Editorial/Editora UFPR, 2003.
Simanke, R. T. A psicanálise freudiana e a dualidade entre ciências naturais e ciências humanas. Scientiæ Studia, 7, 2, p. 221-35, 2009a.
Simanke, R. T. Realismo e anti-realismo na interpretação da metapsicologia freudiana. Revista de Filosofia e Psicanálise Natureza Humana, 11, 2, p. 97-152, 2009b.
Simanke, R. T. O que a filosofia da psicanálise é e o que ela não é. ETD: Educação Temática Digital, 11, p. 189-214, 2010.
Simanke, R. T. & Caropreso, F. A metáfora psicológica de Sigmund Freud: neurologia, psicologia e metapsicologia na fundamentação da psicanálise. Scientiæ Studia, 9, 1, p. 51-78, 2011.
Winnicott, D. W. A localização da experiência cultural. In: Winnicott, D. W O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975a. p. 133-43.
Winnicott, D. W. O lugar em que vivemos. In: Winnicott, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975b. p. 145-52.
Winnicott, D. W. Formas clínicas da transferência. In: Winnicott, D. W. Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978a. p. 393-8.
Winnicott, D. W. A preocupação materna primária. In: Winnicott, D. W. Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978b. p. 399-405.
Winnicott, D. W. A capacidade para estar só. In: Winnicott, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artmed, 1983a. p. 31-7.
Winnicott, D. W. Os objetivos do tratamento psicanalítico. In: Winnicott, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artmed, 1983b. p. 152-5.
Winnicott, D. W. Comunicação e falta de comunicação levando ao estudo de certos opostos. In: Winnicott, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983c. p. 163-74.
Winnicott, D. W. Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self. In: Winnicott, D. W.. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas,1983d. p. 128-39.
Winnicott, D. W. A integração do ego no desenvolvimento da criança In: Winnicott, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artmed, 1983e. p. 55-61.
Winnicott, D. W. O gesto espontâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1990a.
Winnicott, D. W. Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990b.
Winnicott, D. W. Os elementos masculinos e femininos cindidos encontrados em homens e mulheres In: Winnicott, D. W. Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artmed, 1994a. p. 134-44.
Winnicott, D. W. Comentários sobre “On the concept of the superego” de Joseph Sandler. In: Winnicott, D. W. Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994b. p. 353-58.
Winnicott, D. W. Crescimento e desenvolvimento na fase imatura In: Winnicott, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 1999a. p. 29-41.
Winnicott, D. W. O conceito de indivíduo saudável. In: Winnicott, D. W. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1999b. p. 3-22.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2013 Scientiae Studia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
A revista detém os direitos autorais de todos os textos nela publicados. Os autores estão autorizados a republicar seus textos mediante menção da publicação anterior na revista. A revista adota a Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.