Onde está o povo? Comunicação digital e populismo nas eleições de 2018

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2023.210794

Palavras-chave:

Populismo, Campanhas digitais, WhatsApp, Eleições de 2018

Resumo

Neste artigo discutimos se e em que medida as informações que circularam no WhatsApp durante as eleições presidenciais de 2018 poderiam caracterizar uma narrativa populista, e as relações desta com a democracia representativa e a ação conectiva. A partir da análise dos conteúdos veiculados nos grupos públicos do mensageiro, mostramos que estes apresentavam elementos que convergem para a caracterização tanto da narrativa populista, quanto das e-campanhas. Contudo, verificamos uma abordagem antissistêmica e odiosa, de caráter antipluralista, na qual o povo é incorpóreo e o líder é evocado, sobretudo nos conteúdos vinculados a Bolsonaro, o que sugere novas nuances do discurso populista autoritário na contemporaneidade.

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Biografia do Autor

  • Natasha Bachini, Universidade de São Paulo (USP)

    Socióloga, pesquisadora de pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj) e mestra em Ciências Sociais pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Coordena o SPG “Midiatização, Plataformização e Discurso Político” da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (anpocs) e o GT “Eleições e Comunicação On-line” da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica). Pesquisa democracia, autoritarismo, discurso político, ciberativismo, identidade coletiva e campanhas eleitorais.

  • Lucy Oliveira, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

    Docente do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPGPOL) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCcar), fez estágio de pós-doutorado no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Fapesp/Cebrap). Doutora em Ciência Política (UFSCar), com mestrado em Sociologia e graduação em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. É líder do Núcleo de Estudos Integrados em Democracia, Comunicação e Sociedade (Decos) e coordenadora do Laboratório de Dados e Técnicas em Ciência Política  (Lab.Pol/PPGPol/UFSCar). Coordena a área temática de “Comunicação Política e Opinião Pública” da Associação Brasileira de Ciência Política e é membro do conselho fiscal da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica). Consultora em métodos computacionais aplicados às Ciências Sociais e Análise de Conteúdo/Texto. Realiza pesquisas na área de Comunicação e Política, com foco em Democracia, Campanhas Eleitorais, Rhetorical Presidency, Jornalismo Político, Agenda-Setting e a relação entre mídia, gênero e raça.

  • Felipe Amador Cará, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

    Cientista social formado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com ênfase em Ciência Política. É membro do Núcleo de Estudos Integrados em Democracia, Comunicação e Sociedade (Decos/UFSCar). Especialista em software de ferramentas de pesquisa em análise de conteúdo, como NVideo, Atlas.ti e MaxQDA, e em linguagem open source para a ciência de dados, como o R e Python.

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Publicado

2023-12-15

Edição

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Artigos

Como Citar

Bachini, N., Oliveira, L., & Cará, F. A. (2023). Onde está o povo? Comunicação digital e populismo nas eleições de 2018. Tempo Social, 35(3), 161-190. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2023.210794