Plataformas digitais de cuidado no Brasil

Acesso e controle do trabalho no entrecruzamento de múltiplas crises

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2023.218376

Palavras-chave:

Plataformas de trabalho, Cuidado, Intermediação, Brasil

Resumo

As empresas-plataforma voltadas ao trabalho de cuidado expandiram-se velozmente nos últimos anos no Brasil, em especial após a recente crise sanitária. Tal expansão trouxe para a ordem do dia o tema deste artigo, a saber, os possíveis efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a digitalização da intermediação do trabalho nos cuidados, um segmento para o qual a literatura brasileira sobre plataformização do trabalho tem estado pouco atenta. Para acompanhar o ritmo desse crescimento várias estratégias foram adotadas diante do desafio da falta de dados desagregados para o setor. Assim, mapeamos os aplicativos e plataformas de cuidado, construindo um banco a partir de dados da principal loja de apps no país; bem assim, analisamos os sites, os Termos de Serviços e Condições de Uso de três plataformas de cuidado direto e indireto. Conduzimos, ainda, entrevistas com trabalhadoras nessas plataformas e analisamos suas denúncias postadas no site Reclame Aqui. Concluímos que a governança das plataformas afetou o cotidiano das trabalhadoras sob diferentes formas e com efeitos variados conforme cada plataforma. Entre eles, destacamos o diálogo com os clientes, o controle via sistema de notas prescritivas e punitivas, a inclusão de tarefas que iam além da atividade contratada, bem como a sobreposição de diferentes formas de cuidado.  Ter documentado a intensificação do trabalho de cuidado e a capacidade manifesta pela empresa-plataforma de ir além do mero pareamento entre demandantes e ofertantes, passando a intervir no modo como o próprio trabalho se exerce, é a contribuição desta pesquisa para uma análise das formas assumidas pelo amplo e recente processo de digitalização do trabalho de cuidado no Brasil.

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Biografia do Autor

  • Ana Carolina Andrada, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap)

    Pesquisadora no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), integrada à Rede Cuidados, Direitos e Desigualdades (CuiDDe).

  • Ana Claudia Moreira Cardoso, Rede Cuidde – Cuidados, Direitos e Desigualdades

    Pesquisadora, integrante do Grupo de Trabalho sobre trabalho digital da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (REMIR) e da Rede Cuidados, Direitos e Desigualdades (CuiDDe) e consultora no Ministério das Mulheres.

  • Nadya Araújo Guimarães, Universidade de São Paulo (USP)

    Professora titular sênior do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), integrada à Rede Cuidados, Direitos e Desigualdades (Cuidde).

  • Renata Moreno, Sempreviva Organização Feminista (SOF)

    Pesquisadora, integrada à Sempreviva Organização Feminista (SOF) e à Rede Cuidados, Direitos e Desigualdades (Cuidde).

  • Maria Julia Tavares Pereira, Universidade Estadual de Campinas

    Pesquisadora da Rede Cuidados, Direitos e Desigualdades (CuiDDe), doutoranda em Sociologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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Publicado

2023-12-15

Edição

Seção

Artigos

Dados de financiamento

Como Citar

Andrada, A. C., Cardoso, A. C. M., Guimarães, N. A., Moreno, R., & Pereira, M. J. T. (2023). Plataformas digitais de cuidado no Brasil : Acesso e controle do trabalho no entrecruzamento de múltiplas crises. Tempo Social, 35(3), 5-31. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2023.218376