A corte sem nobreza: polemistas e anti-intelectualismo na mídia
DOI:
https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2024.225072Palavras-chave:
Polemistas, Anti-intelectualismo, Imprensa, Intelectuais, DireitaResumo
A proposta do artigo é traçar a gênese da posição de “polemista” da imprensa, que mobiliza o anti-intelectualismo como principal estratégia, no Brasil da Nova República. A partir da correlação entre trajetórias sociais, modos de prática intelectual e jornalística, figurações públicas, estratégias das instituições e configuração das linhas de força no espaço de produção e reprodução de opiniões no Brasil do final dos anos 1980 a 2018, busca-se tornar sociologicamente inteligível a difusão de visões anti-intelectuais e antiacadêmicas na mídia. O artigo traça a constituição, a sedimentação e a proliferação de uma posição que garante sua permanência e seu poder coletivo, mas ao mesmo tempo se despersonaliza, se rotiniza e perde prestígio.
Downloads
Referências
Abreu, Alzira Alves. (2017), Desafios da notícia: o jornalismo brasileiro ontem e hoje. Rio de Janeiro, Editora FGV.
Adghirni, Zélia Leal. (2012), “Mudanças estruturais no jornalismo: travessia de uma zona de turbulência”. In: Pereira, Fábio Henrique; Moura, Dione Oliveira & Adghirni, Zélia Leal (orgs.). Jornalismo e sociedade: Teorias e metodologias. Florianópolis, Insular, vol. 1, pp. 61-79.
Bergamo, Alexandre. (maio-ago. 2020), “‘Antigos’ e ‘novos’ no jornalismo brasileiro dos anos 1980 e 1990: uma identidade profissional em disputa”. Política & Sociedade, Florianópolis, 19 (45): 337-368.
Bourdieu, Pierre. (2013), Homo academicus. Florianópolis, Ed. UFSC.
Bourdieu, Pierre. (2015a), “Gênese e estrutura do campo religioso”. In: Bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva.
Bourdieu, Pierre. (1989), La noblesse d’État: grandes écoles et esprit de corps. Paris, Éditions de Minuit.
Bourdieu, Pierre. (2015b), “O mercado de bens simbólicos”. In: Bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva.
Champagne, Patrick. (1995), “La double dépendance”. Hermès, 17-18.
Charle, Christophe. (set. 2003), “Nascimento dos intelectuais contemporâneos”. História da Educação, Pelotas, 14: 141-156.
Chiaramonte, Aline. (2015), Lutas simbólicas e doxa: jornalistas e acadêmicos no caso da “lista dos improdutivos” da usp. 214f. São Paulo, dissertação de mestrado em Sociologia, Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo, USP.
Chiaramonte, Aline & Hey, Ana Paula. (maio/ago. 2018), “Que a USP descanse em paz! Disputas simbólicas entre jornalistas e acadêmicos em fins dos anos de 1980”. Política & Sociedade, Florianópolis, 17 (39): 250-276.
Collovald, Annie. (jun. 1988), “Identité(s) stratégique(s)”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 73: 29-40.
Costa, Cristiane. (2005), Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904-2004. São Paulo, Companhia das Letras.
Dezalay, Yves & Garth, Bryant. (jun. 2000), “A dolarização do conhecimento técnico-profissional e do Estado: processos transnacionais e questões de legitimação na transformação do Estado, 1960-2000”. RBCS, 15 (43).
Elias, Norbert. (2001), A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro, Zahar.
Goffman, Erving. (1985), A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, Vozes.
Guazina, Liziane Soares. (2013), “Jornalismo que tem lado: o caso dos blogueiros brasileiros ‘progressistas’”. Brazilian Journalism Research, 9 (2): 68-87.
Lattman-Weltman, Fernando & Chagas, Viktor. (2016), “Mercado futuro: A economia política da (re)partidarização da imprensa no Brasil”. Dados: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 59 (2): 323-356.
Lattman-Weltman, Fernando & Chagas, Viktor. (maio-ago. 2017), “Insegurança, (re) partidarização e ‘fogo amigo’: a economia política da mídia na Era Lula”. Revista Eptic, 19 (2): 51-74.
Lima, Marcelo. (2013), Jornalismo cultural e crítica: a literatura brasileira no suplemento Mais!. Curitiba, Editora UFPR; Chapecó, Argos.
Marchetti, Dominique. (2005), “Subfields of specialized journalism”. In: Benson, Rodney & Neveu, Erik. Bourdieu and the journalistic field. Cambridge, uk, Polity Press, pp. 64-84.
Meirelles, Allana. (2021), Opiniões à venda: Oposições políticas e divisão do trabalho intelectual na mídia. São Paulo, tese de doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Meirelles, Allana & Fernandes, Dmitri. (2019), “A direita mora do mesmo lado da cidade: Especialistas, polemistas e jornalistas”. Novos Estudos Cebrap, 38 (1): 157-182.
Messenberg, Debora. (2017), “A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros”. Revista Sociedade e Estado, 32 (3): 621-647.
Miceli, Sergio. (2018), “Palestra: Intelectuais, mídias e universidade pública em contexto de peleja”. Plural, 25 (1): 172-177.
Miguel, Luiz Felipe. (2022), “O jornalismo no novo ambiente comunicacional: uma reavaliação da noção do ‘jornalismo como sistema perito’”. Tempo Social, 34 (2): 195-216.
Moraes, Vaniucha. (2017), A elite dos jornalistas brasileiros: estratégias de legitimação e simbolização entre o período ditatorial e os anos pós-redemocratização. 481 p. Florianópolis, tese de doutorado em Sociologia Política, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina.
Neveu, Erik. (2006), Sociologia do jornalismo. São Paulo, Edições Loyola.
Ortellado, Pablo & Solano, Esther. (2016), “Nova direita nas ruas?”. Perseu, 11 (7): 169-180.
Passiani, Enio. (jan./abr. 2018), “Figuras do intelectual: gênese e devir”. Sociologias, Porto Alegre, 20 (47): 16-47.
Pinheiro, Fernando. (2011), “Intelectuais: perfil de grupo e esboço de definição”. In: Botelho, André & Schwarcz, Lilia Moritz. Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. São Paulo, Companhia das Letras, pp. 268-277.
Pinheiro, Fernando. (2024), O mago, o santo, a esfinge. São Paulo, Todavia.
Pinto, Louis. (2009), Le café du commerce des penseurs: à propos de la doxa intellectuelle. Broissieux, Éditions du Croquant,.
Pontes, Felipe & Mick, Jacques. (2018), “Crise e mercado de trabalho: trajetórias profissionais de jornalistas no Brasil”. Anais Compós, Belo Horizonte.
Reis, Eliana Tavares dos. (jul./dez. 2020), “‘Confissões políticas’ de mulheres parlamentares”. Repocs, 17 (34).
Ribeiro, Ana Paula Goulart. (2003), “Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos anos 1950”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 31: 147-160.
Rocha, Camila. (2018),“Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira. 232f. São Paulo, tese de doutorado em Ciência Política, Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo.
Sapiro, Gisèle. (2012), “Modelos de intervenção política dos intelectuais: o caso francês”. Revista Pós Ciências Sociais, 9 (17): 19-50.
Silva, Leonardo Nóbrega. (dez. 2018), “O mercado editorial e a nova direita brasileira”. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 13 (2): 73-84.
Szwaco, José. (2023), “Négationnisme, antimondialisme et défense de la liberté dans le ‘réactionnarisme’ brésilien contemporain”. Brésil(s), 23.
Weber, Max. (2015), Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, Editora Universidade de Brasília.
Material analisado e citado
Alcântara, AlexSander. (mar. 2007), “Estilista da esculhambação”. Revista Imprensa, 221: 84-86.
Borges, Rodolfo. (1º ago. 2015), “A direita brasileira que saiu do armário não para de vender livros”. El País, São Paulo.
Carvalho, Olavo. (30 jun. 2001), “Lógicas paradoxais”. Revista Época.
Coelho, Marcelo. (18 set. 1996), “Paulo Francis é a Carmem Miranda do caos”. Folha de S.Paulo, São Paulo.
Costa, Caio Túlio. (26 nov. 1989), “Petismo, Paulo Francis e o mito de Narciso”. Folha de S.Paulo, São Paulo.
Demario, Camilla. (dez. 2013), “Ímpar entre seus pares”. Revista Imprensa: 28-32.
Francis, Paulo. (21 fev. 1988), “Nos eua, acadêmico que não publica está morto”. Folha de S.Paulo, São Paulo.
Francis, Paulo. (2012), “O guerreiro Roberto Campos”. In: Diário da Corte. São Paulo, Três Estrelas.
Francis, Paulo. (25 fev. 1990), “Um episódio melancólico”. Folha de S.Paulo, São Paulo.
Frias Filho, Otavio. (21 ago. 1997), “A vitória de Merquior”. Folha de S.Paulo, São Paulo.
Gonçalves, Marcos Augusto. (2008), Pós-tudo: 50 anos de cultura na Ilustrada. São Paulo, Publifolha.
Gonçalves, Marcos Augusto. (23 set. 2006), “‘usp é templo da vigarice’, diz Olavo”. Folha de S.Paulo, São Paulo.
Haddad, Naief. (16 fev. 2022), “Jornalista feito para a TV, foi um provocador nato, incisivo e teatral”. Folha de S. Paulo, São Paulo.
Mainardi, Diogo. (20 ago. 2012), “Entrevista ao Roda Viva”. Roda Viva. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=UJcT3vT40hk, consultado em 18/09/2023.
Merten, Luiz Carlos. (18 dez. 2003), “Caetano solta o verbo na volta de ‘Cinema falado’”. O Estado de S. Paulo.
Moraes, Renato. (set. 2004), “A arte do polemista”. Revista Imprensa: 10-14.
Nogueira, Paulo Eduardo. (2010), Paulo Francis: polemista profissional. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Orsini, Elizabeth. (27 jan. 1994), “Um parecer errado acaba em escândalo”. O Globo, Rio de Janeiro.
Pilagallo, Oscar. (2012), História da imprensa paulista: jornalismo e poder de d. Pedro I a Dilma. São Paulo, Três Estrelas.
Pinto, Ana Estela de Souza. (2012), Folha explica Folha. São Paulo, Publifolha.
Revista Imprensa. (jan. 1991), “Bateu, levou”. Revista Imprensa: 20-26.
Revista Imprensa. (jul. 1996), “Entrevista com Arnaldo Jabor”. Revista Imprensa: 49-57.
Revista Imprensa. (mar. 1990), “Lord Francis no caldeirão dos nativos”. Revista Imprensa: 28-36.
Silva, Edgar. (4 fev. 2017), “Há 20 anos, morria Paulo Francis, protagonista de debate com o primeiro ombudsman da Folha”. Folha de S.Paulo, São Paulo. Disponível em https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/02/04/ha-20-anos-morria-paulo-francis-protagonista-de-debate-com-o-primeiro-ombudsman-da-folha/, consultado em 18/09/2023.
Venceslau, Pedro. (jul. 2005), “O amado algoz da nova esquerda”. Revista Imprensa, 203: 10-14.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Allana Meirelles
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
