“Políticas baseadas em evidência” em três estados da racionalidade econômica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2024.226186

Palavras-chave:

Políticas baseadas em evidência, Racionalidade econômica, Sociologia do conhecimento, Sociologia da quantificação, Filantropia

Resumo

Tomando emprestada a divisão em três estados do capital cultural (incorporado, objetivado e institucionalizado), o artigo propõe que a racionalidade econômica adquire êxito político ao circular entre esses estados. Contrariamente à proposta original de Bourdieu, que remetia o êxito escolar sobretudo à internalização tácita e difusa do capital cultural enquanto disposições de percepção, argumenta-se que a força da racionalidade econômica reside nas suas formas mais exteriorizadas. De um lado, o estado objetivado anima instrumentos microeconômicos de avaliação de impacto e indicadores de resultado e, de outro, o estado institucionalizado forja centros de ensino e pesquisa em gestão e políticas públicas. Em ambos os casos, a racionalidade econômica não aparece como uma convicção proselitista da lógica de mercado, e sim como técnicas neutras de avaliação e  decisão. Baseado sobretudo em entrevistas semiestruturadas (n = 61), busca-se depreender o intercâmbio entre os três estados nos processos de socialização acadêmica e profissional de atores que têm feito das “políticas baseadas em evidência” uma carreira no Brasil.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Pedro Grunewald Louro, Universidade de São Paulo

    Doutorando em sociologia na Universidade de São Paulo e na Université Paris-Saclay, pesquisador no laboratório IDHES ENS Paris-Saclay e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo [Fapesp], à qual agradece o apoio financeiro [Processos 2021/01828-9 e 2022/05206-5]).

  • Hugo Harari-Kermadec, Université d’Orléans

    Professor de sociologia na Université d’Orléans, pesquisador nos laboratórios ERCAE e IDHES ENS Paris-Saclay

Referências

Allison, Graham. (2006), “Emergence of schools of public policy: Reflections by a founding dean”. In: Moran, Michael; Rein, Martin & Goodin, Robert E. (orgs.). The Oxford handbook of public policy. Oxford, Oxford University Press, pp. 58-79.

Altheman, Eduardo; Martins, Alexandre & Camargos, Pedro. (2020), “Entre o homo oeconomicus e o homo criminalis: neoliberalismo, punição e regimes de subjetivação”. Mediações, 25 (2): 339-357.

Américo, Pedro & Rudi, Rocha. (2020), “Subsidizing access to prescription drugs and health outcomes: The case of diabetes”. Journal of Health Economics, 72.

Angeletti, Thomas. (2023), L’invention de l’économie française. Paris, Les Presses Sciences Po, 2023.

Angrist, Joshua D. & Pischke, Jörn-Steffen. (2010), “The credibility revolution in empirical economics: How better research design is taking the con out of econometrics”. Journal of Economic Perspectives, 24 (2): 3-30.

Armatte, Michael. (2010), La Science économique comme ingénierie: quantification et modélisation. Paris, Presses de Mines.

Bachelard, Gaston. (1996), A formação do espírito científico. São Paulo, Contraponto.

Banerjee, Abhijit & Duflo, Esther. (2011), A economia dos pobres: uma nova visão sobre as desigualdades. Rio de Janeiro, Zahar.

Barros, Ricardo Paes de; Coutinho, Diana & Soares, Camila. (2020), “Políticas públicas com base em evidência: por quê e para quê?”. In: Giambiagi, Fernando; Ferreira, Sérgio Guimarães & Ambrózio, Antônio Marcos Holz (orgs.). Reforma do Estado brasileiro: Transformando a atuação do governo. Rio de Janeiro, gen Atlas.

Berman, Elizabeth Popp. (2022), Thinking like an economist: how efficiency replaced equality in U.S. public policy. Princeton, Princeton University Press.

Bezes, Philippe (2009), Réinventer l’État. Les réformes de l’administration française, 1962-2008. Paris, Presses Universitaires de France.

Biderman, Ciro et al. (2018), “Pax monopolista and crime: The case of the emergence of the Primeiro Comando da Capital in São Paulo”. Journal of Quantitative Criminology, 35: 573-605.

Blistein, Pablo & Lemieux, Cyril. (2018), “Comment rouvrir la question de la modernité? Quelques propositions”. Politix, 123: 7-33.

Boltanski, Luc. (2015), “Situation de la critique”. In: Frère, Bruno (org.). Le tournant de la théorie critique. Paris, Desclée de Brouwer.

Boltanski, Luc & Chiapello, Ève (2009), O novo espírito do capitalismo. São Paulo, Martins Fontes.

Bourdieu, Pierre. (1998), “Os três estados do capital cultural”. In: Catani, Afrânio & Nogueira, Maria Alice (orgs.). Escritos de educação. Petrópolis, Vozes, pp. 71-80.

Boueri, Rogério; Rocha, Fabiana & Rodopoulos, Fabiana (orgs.). (2015), Avaliação da qualidade do gasto público e mensuração da eficiência. Brasília, Secretaria do Tesouro Nacional.

Brasil. (2016), Senado Federal. Proposta de Emenda Complementar n. 55 de 2016. Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Brasília.

Brasil. (2021), Câmara dos Deputados. Projeto de lei n. 54 de 2021. Altera a Lei n° 10.386. Brasília.

Brasil. (2023), Senado Federal. Lei complementar n. 300 de 2023. Brasília.

Bruno, Isabelle. (2008), A vos marques, prêts... cherchez! La stratégie européenne de Lisbonne vers um marché de la recherche. Paris, Éditions du Croquant.

Cantu, Rodrigo. (2021), “Os valores da intransigência: premissas normativas e controvérsias econômicas no Brasil”, Norus, 9 (16): 12-51.

Carneiro, Diego et al. (2022), Mecanismo de indução de políticas para educação básica: análise das experiências dos estados brasileiros com a cota parte do ICMS. Brasília, Enap.

Carvalho, Danielle Chrstine. (2020), Abrindo os portões do Pátio Digital: a experiência de governo aberto da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. São Paulo, Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação), Programa Avançado em Gestão Pública, Insper.

Castro, Heloísa Pinheiro. (2022), Chicago Oldies?: um estudo comparativo sobre a institucionalização, socialização e atuação de economistas brasileiros e chilenos treinados na Universidade de Chicago. São Paulo, dissertação de mestrado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Cunha, Flávio; Heckman, James J. & Schennach, Susanne S. (2010), “Estimating the technology of cognitive and non-cognitive skill formation”. Econometrica, 73 (3): 883-931.

Cunha, Márcia Pereira. (2012), Do planejamento à ação focalizada: Ipea e a construção de uma abordagem de tipo econômica da pobreza. São Paulo, tese de doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Daston, Lorraine. (2017), Historicidade e objetividade. São Paulo, LiberArs.

Eyal, Gil & Leão, Luciana Souza. (2019), “The rise of randomized controlled trials (RCTS) in international development in historical perspective”. Theory and Society, 48: 383-418.

Fundação Itaú Social. (2015), Relatório de atividades 2014. São Paulo.

Foucault, Michael. (2008), O nascimento da biopolítica. São Paulo, Martins Fontes.

Fourcade, Marion (2006), “The construction of a global profession: The transnationalization of economics”. American Journal of Sociology, 112, 1: 145-194.

Gautié, Jéromê. (2007), “L’économie à ses frontières (sociologie, psychologie)”. Revue Économique, 58 (4): 927-939.

Geraldo, Bruno Luis Simões. (2020), Proposta de implementação da gestão de pessoas baseada em competências na Prefeitura de São Paulo. São Paulo, Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação), Programa Avançado em Gestão Pública, Insper.

Ginsber, Rick & Plank, David N. (orgs.). (1995), Commissions, reports, reforms, and educational policy. Westport, Praeger.

Griffen, Zachary & Panofsky, Aaron. (2020), “Ambivalent economizations: the case of value-added modeling in teacher evaluation”. Theory and Society, 50: 515-519.

Hacking, Ian. (1992), “Style’ for historians and philosophers”. Studies in History and Philosophy of Science, 23 (1): 1-20.

Harari-Kermadec, Hugo. (2019), Le classement de Shanghai. L’université Marchandisée. Lormont, Le Bord de l’Eau.

Heckman, James J. (2000), “Microdata, heterogeneity and evaluation of public policy”. Prize Lecture: 255-322.

Hirschman, Daniel & Berman, Elizabeth Popp. (2014), “Do economists make policies? On the political effects of economics”. Socio-Economic Review, 12: 779-811.

Hey, Ana Paula. (2008), Esboço de uma sociologia do campo acadêmico. São Carlos, Edufscar.

Holanda, Marcos Costa et al. (2007), Proposta de mudança no rateio da cota parte do ICMS entre municípios cearenses. Fortaleza, Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.

Hugrée, Cédric & Poullaoeuc, Tristan. (2022), L’université qui vient: un nouveau régime de selection scolaire. Paris, Raisons d’Agir.

Instituto Natura (2016), Análise dos modelos de Escola em Tempo Integral, Instituto Natura.

Jatteau, Arthur. (2020), Faire preuve par le chiffre? Le cas des expérimentations aléatoires en économie. Paris, Collection Gestion Publique.

Koga, Natália Masaco et al. (2022), Políticas públicas e usos de evidência no Brasil: conceitos, métodos, contextos e práticas. Brasília, Ipea.

Lamont, Michèle & Swidler, Ann. (2014), “Methodological pluralism and the possibilities and limits of interviewing”. Qualitative Sociology, 37 (2): 153-171.

Lebaron, Frédéric. (2010), La crise de la croyance économique, Éditions du Croquant.

Lisboa, Marcos. (25 set. 2020), “A indústria de informática no Brasil deu certo?”. In: Bem-Estar Capital, YouTube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=TDzCSCBRwgU, consultado em 18/02/2022.

Louzano, Paula & Simielli, Lara. (2020), “Chater school: A u.s. Case study and implications for Brazil”. Education Policy Analysis Archives, 28 (38): 1-19.

Martins, André. (2018), Do planejamento educacional à gestão por incentivos: percursos da Economia da Educação e os seus rastros neoliberais. Dissertação de mestrado, Faculdade de Educação da Universidade São Paulo.

Murphy, Michelle. (2017), The economization of life. Durham, Duke University Press. Normand, Romuald. (2016), The changing epistemic governance of European Education. Scotland, Springer Press.

Ogien, Albert. (2020), “La Valeur sociale du chiffre: La quantification de l’action publique entre performance et démocratie”. Revue Française de Socio-Économie. Hors-série, 5 (1): 99-120.

Paulani, Leda. (2008), Brasil delivery: Servidão financeira e estado de emergência econômica. São Paulo, Boitempo.

Rocha, Camila. (2021), Menos Marx, mais Mises: o liberalismo e a nova direita. São Paulo, Todavia.

Rosa, Leonardo et al. (2022a), “The effects of public high school subsidies on student test scores: The case of a full-day high school in Pernambuco, Brazil”. Economics of Education Review, 87: 1-15.

Rosa, Leonardo; Bruce, Raphael & Sarellas, Natália. (2022b), Efeitos da escola de tempo integral em homicídios: o caso do Programa de Ensino Médio Integral de Pernambuco. Instituto Natura.

Silva, Mariana Batista. (2019), “Políticas baseadas em evidência: mapeamento e direções”. Cadernos Enap, Brasília, 106: 1-135.

Souza, Jessé. (2017), A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro, Leya.

Supiot, Allain. (2015), La gouvernance par les nombres. Paris, Fayard.

Tomei, Francesco Andrade. (2018), Entre consultores e experts, empresariado e Estado: os professores da Eaesp-FGV. Dissertação de mestrado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Downloads

Publicado

2024-12-10

Edição

Seção

Dossiê - Sociologia das reformas

Como Citar

Louro, P. G., & Harari-Kermadec, H. (2024). “Políticas baseadas em evidência” em três estados da racionalidade econômica. Tempo Social, 36(3), 97-121. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2024.226186