Redes sociotécnicas em movimento: mobilizações em defesa da liberdade da migrante togolesa Falilatou
DOI:
https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.230254Palavras-chave:
Migrações transnacionais, Trabalho ambulante, Punitivismo, Redes sociotécnicas, “Corpos em aliança”Resumo
Este artigo trata das articulações e mobilizações em defesa da trabalhadora ambulante Falilatou, migrante do Togo, acusada por um crime que não cometeu e com a vida enredada em um muito intrincado processo criminal. O caso terminou por mobilizar uma extensa rede sociotécnica sob a bandeira #LiberdadeParaFalilatou, que iria trazer a público as evidências de violação de direitos inscritas nos meandros desse processo, ao mesmo tempo que sinalizava a construção de um campo político articulado em torno de eventos críticos da violência do Estado. Em torno do “caso Falilatou” abre-se um feixe de questões que interessa aqui discutir. De um lado, as linhas de força estruturantes do universo popular se entrecruzam nessa história: a migração transnacional e sua inscrição nas tramas da cidade; a precariedade do trabalho ambulante engendrada entre esse ganho no dia a dia e a agressividade das formas de controle e fiscalização por parte das forças da ordem; o punitivismo inscrito nas operações policiais e nos meandros do processo criminal a que a togolesa responde, tudo isso eivado por agressivas práticas de racialização e preconceito contra migrantes não brancos. Por outro lado, a ampla rede de apoio que se constitui em defesa de Falilatou vai muito além da denúncia de uma injustiça. Trata-se de uma articulação entre coletivos diversos (movimentos negros, associações de migrantes, coletivos anticarcerários), organizações de defesa de direitos humanos, parlamentares, jornalistas e advogados ativistas, também pesquisadores. Em seus modos de atuação, uma rede sociotécnica, mobilizando diversos saberes e competências, recursos técnicos, institucionais e políticos, para produzir informações, construir provas e evidências das injustiças cometidas contra a togolesa, e torná-las públicas em fóruns diversos de debate e embates políticos, passando pelas mídias e redes digitais. O artigo se estrutura em quatro movimentos: (I) a trajetória de Falilatou, seu tempo biográfico em articulação com o tempo social e histórico de sua migração para o Brasil; (II) sua incorporação no trabalho ambulante na cidade de São Paulo; (III) a prisão e as instâncias pelas quais passa o processo criminal pelo qual Falilatou responde; (IV) as redes de apoio que se articularam em defesa de Falilatou, configurando um campo político em suas várias dimensões e desdobramentos.
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