“Tá achando que nós é escravo? Tô fora!”: classificação, autonomia e trabalho plataformizado no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.233284Palavras-chave:
Trabalho, Plataformas digitais, Informalidade, Dispositivo de racialidade, Capitalismo racialResumo
A partir de recorrentes menções à escravidão feitas por motoristas e entregadores por aplicativo, o artigo discute percepções de trabalhadores frente aos regimes de trabalho no Brasil contemporâneo. Do escravismo colonial ao neoliberalismo, a exploração do trabalho e a acumulação capitalista dependeram de mecanismos de classificação social e racial. Considerar o trabalho em plataformas nesse enquadramento permite sugerir que as menções à escravidão apontam não apenas para as longas jornadas, baixos rendimentos e ausência de garantias, mas também a mecanismos e performances de classificação e hierarquização; à vigilância e à criminalização de grupos subalternizados; e à valorização de atividades percebidas como autônomas.
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