Pintores por profissão. Condições de exercício da arte no Brasil da década de 1980

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.233952

Palavras-chave:

Artes visuais, Geração 80, Sociologia da Arte, Sociologia da Cultura

Resumo

Este artigo trata das condições sociais de produção artística no campo da arte brasileiro no início dos anos 1980, analisando tanto a gênese da controversa categoria Geração 80, quanto o estado do campo de então. Primeiro, reconstituímos a emergência dessa categoria em relação aos produtores recém-chegados ao campo que ela classificava, estabelecendo contrastes entre as tomadas de posição dos jovens artistas a ela associados e os modos de atuação dos artistas que ingressaram no campo anteriormente. Para não nos restringirmos ao espaço nacional, reconstituímos também a circulação internacional da voga artística do período no Brasil, o suposto retorno à pintura, que, por sua vez, se dá de diferentes maneiras devido às especificidades dos campos da arte carioca e
paulista. Argumentamos que a gênese e o sentido da Geração 80 são produto dessa circulação internacional, condicionante das tomadas de posição de artistas e críticos no espaço nacional. Em seguida, analisamos uma das mudanças estruturais do campo que viabiliza o início das carreiras de artistas da tal Geração 80, a saber, a emergência de outros novos agentes: os galeristas de arte contemporânea. São esses outros recém-chegados ao campo que contribuem com a inserção e o sucesso precoces dos jovens artistas que iniciaram suas trajetórias durante o início da abertura política e econômica que se consolidaria no país no decorrer da década.

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Biografia do Autor

  • Gabriel Cardoso Gonzaga, Universidade de São Paulo

    Mestrando em Sociologia na Universidade de São Paulo com bolsa da Fundaç˜ao de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (processo nº 2024/04189-5). 

  • German Alfonso Nunez, Universidade Estadual de Campinas

    German Alfonso Nunez é doutor em História da Arte pela University of the Arts London e pós-doutor pelo Departamento de Sociologia da FFLCH-USP e pela Universidade de Stanford, com projetos financiados pela FAPESP. Atualmente é pós-doutorando e professor no Instituto de Artes da Unicamp. Sua pesquisa concentra-se no campo artístico brasileiro do segundo pós-guerra, com ênfase na história social das práticas e instituições emergentes. Desenvolveu projeto recente no Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde também organizou o livro comemorativo dos 75 anos da instituição. É coeditor de Barbarian Currents: Documents, Inventories and Ideas from Brazilian Media Arts (Open Humanities Press, no prelo) e membro do coletivo +zero, tendo sido indicado ao Prêmio PIPA de arte contemporânea.

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Publicado

2025-12-30

Como Citar

Gonzaga, G. C., & Alfonso Nunez, G. (2025). Pintores por profissão. Condições de exercício da arte no Brasil da década de 1980. Tempo Social, 37(3). https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.233952