Etnografando a norma: sobre lutas por direitos em contextos de violência
DOI:
https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.234631Palavras-chave:
etnografia; norma; sem-terra; direitos.Resumo
Com este ensaio, procuro jogar luz sobre o enfrentamento etnográfico da norma. Para tanto, parto do universo empírico da luta por reforma agrária no Brasil. Descrevo, de início, a trajetória do conflito judicial em torno dos engenhos São João, São Francisco e Felicidade, localizados na Zona da Mata pernambucana. Em seguida, delineio as intensas disputas sobre a aplicação das decisões judiciais (e das normas ali engendradas, portanto) no caso dos engenhos. A explicitação dessas disputas me permite então: a) divisar analiticamente as instabilidades, maleabilidades e transformações das normas que operam em nossos campos de pesquisa e são diversamente manejadas e incitadas pelos agentes em meio aos conflitos que experienciam; e b) perscrutar os limites e tempos da norma, tendo em vista a ameaça de sua desobediência em meio a uma atmosfera de violência.
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