Da crise do cuidado ao cuidado como exploração: quem se importa com as trabalhadoras domésticas?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.238490

Palavras-chave:

Trabalho doméstico; Cuidado; Pandemia; Exploração

Resumo

Se a pandemia renovou o debate sobre a ‘crise dos cuidados’, na prática, pouco mudou para as trabalhadoras que cuidam de forma remunerada. Consideradas essenciais durante o confinamento, as trabalhadoras domésticas sofreram aumento de jornada, cárcere privado nas casas dos empregadores, assédio e violência. No pós-pandemia, suas condições de vida e de trabalho seguem precárias, e as desigualdades de gênero, raça e classe que as tornam mais vulneráveis ainda estão presentes. Este artigo propõe uma reflexão sobre a exploração das trabalhadoras domésticas, analisando as continuidades entre o período pandêmico e o atual. Identifica três dimensões que caracterizam o continuum da exploração: condições de emprego e proteção social, abuso de poder e coerção, e saúde e segurança no trabalho, e mostra como o quotidiano das trabalhadoras domésticas é atravessado por esse continuum, indo de violações do trabalho decente a casos mais graves de escravidão moderna.

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Biografia do Autor

  • Louisa Acciari, Universidade Federal de Santa Catarina; University College of London

    Pesquisadora Sênior e Codiretora do Centre for Gender and Disaster na University College London (UCL), Pós-doutoranda e Coordenadora Pedagógica do Programa “Trabalho Doméstico Cidadão” na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).  E-mail: l.acciari@ucl.ac.uk

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Publicado

2025-12-30

Edição

Seção

Dossiê - Crises, desigualdades e cuidados. Explorando experiências nacionais

Como Citar

Acciari, L. (2025). Da crise do cuidado ao cuidado como exploração: quem se importa com as trabalhadoras domésticas?. Tempo Social, 37(3), 1-22. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2025.238490