Lisboa afropolita: geografias emergentes do cosmopolitismo afrodescendente
DOI:
https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.219853Palavras-chave:
afropolitismo, afrodescendente, semiperiferia, Kalaf Epalanga, Djaimilia Pereira de AlmeidaResumo
Este artigo explora as articulações do afropolitismo na literatura afrodescendente contemporânea publicada em Portugal, nos planos identitário, estético, ético e político. No célebre ensaio que popularizou o termo ‘afropolita,’ Taiye Selasi coloca este novo ‘africano do mundo’ em movimento entre África e invariavelmente pelo menos uma cidade do G7 (SELASI, 2005). Este artigo pretende trazer a noção de afropolitismo desenvolvida por Selasi e pouco depois aprofundada por Achille Mbembe para o contexto da semiperiferia europeia e da literatura afrodescendente em português (MBEMBE, 2007). Mostrarei, por um lado, a forma como escritores afro-descendentes no Portugal contemporâneo (Djaimilia Pereira de Almeida e Kalaf Epalanga) têm reclamado recentemente formas de identidade afropolita afirmativamente a partir de Lisboa, descentrando os trajetos celebrados por Selasi e, consequentemente, trazendo novas geografias para o cosmopolitismo africano. Por outro lado, argumentarei que o afropolitismo articulado por este conjunto de escritores, reformulado e situável no contexto pós-colonial lusófono, tem também respondido a algumas das críticas feitas à própria noção de identidade afropolita proposta por Selasi, contribuindo de forma relevante para o debate contemporâneo sobre as dimensões éticas, estéticas e políticas do afropolitismo.
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