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Filantropia e sua relação com as desigualdades

Release de Elisabeth Dudziak – Portal de Revistas USP

O fenômeno do renascimento mundial da filantropia é um dos indicadores mais poderosos da crescente desigualdade social e econômica que vivenciamos.

Mais comumente definida como uma ação que envolve a doação de recursos financeiros e a prática de doar tempo e esforços para promover o bem estar, a filantropia não pode ser vista como um processo destituído de complexidade cujas consequências muitas vezes estão relacionadas à influência ou ao poder do dinheiro e suas relações com a democracia.

Em recente artigo publicado na revista Tempo Social, a questão da filantropia surge juntamente com a insegurança e a desigualdade que vem se espalhando cada vez mais na sociedade.

O artigo intitulado La philanthropie et le gouvernement neoliberaldes inégalités de Nicolas Duvoux, sociólogo francês, discute a tensão entre a filantropia e a governança das desigualdades na era neoliberal, abordando, primeiro, a tensão entre o imperativo igualitário da democracia e a filantropia, originada da riqueza privada e do poder social de seu detentor.

Em seguida, Duvoux aborda a própria noção de riqueza que a consideração da filantropia permite desenvolver, enfatizando o elo entre bem-estar pessoal e controle social. Essa concepção ilumina a relação de captura que emerge entre a filantropia e a ação pública.

O autor afirma que, no contexto das transformações no capitalismo que levaram à ascensão dos setores financeiro e de novas tecnologias, a filantropia desenvolveu-se numa escala tal que as maiores fundações de hoje têm recursos que lhes permitem tomar decisões que têm mais ou menos os mesmos efeitos que os de um Estado para milhões de pessoas, exceto que os seus líderes não foram eleitos e não prestam contas a ninguém.

Ainda de acordo com Duvoux, “A filantropia condensa toda uma gama de recursos e representações sociais; é tão dotada quanto valorizada, até mesmo santificada, para a conciliação dos valores empresariais, da eficiência econômica, da justiça social e do cosmopolitismo que afirma implementar, ainda que, na realidade, atualize uma visão liberal clássica que enfatiza a dimensão moral do capitalismo… A generosidade é cada vez mais socialmente seletiva e dependente de grandes fortunas.

A parte final do texto discute um caso de  aprendizagem mútua, convidando a uma análise processual da reforma. Vale a leitura!

Referência

DUVOUX, Nicolas. Filantropia e governança neoliberal das desigualdades. Tempo Social, São Paulo, Brasil, v. 36, n. 3, p. 25–46, 2024. DOI: 10.11606/0103-2070.ts.2024.226828. Disponível em: https://revistas.usp.br/ts/article/view/226828.. Acesso em: 11 dez. 2024.

Sobre a revista Tempo Social

A revista Tempo Social é uma revista de periodicidade quadrimestral editada no âmbito da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo, aberta à colaboração de pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior.

Sua linha editorial busca dar espaço para a discussão dos temas atuais da sociedade brasileira, em perspectiva comparativa com outros países por meio de um debate que promova constante diálogo com áreas de conhecimento afins como a antropologia, a ciência política, a filosofia e a história, não se caracterizando, portanto, como uma revista departamental.

Sua meta primordial é produzir um debate de ideias a respeito da realidade brasileira e sua inserção como um país da América do Sul em um mundo cada vez mais globalizado e internacionalizado tendo em vista a busca de caminhos e propostas para a transformação de nossa realidade social e cultural.

A revista não cobra taxas para a publicação de artigos.

Saiba mais sobre a Tempo Social: https://revistas.usp.br/ts/about

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