A guerra das scatolettas: cultura material e comidas enlatadas entre os soldados da Força Expedicionária Brasileira na Itália
DOI:
https://doi.org/10.1590/1982-02672020v28e47Palavras-chave:
Enlatados, Brasil, Estados Unidos, Segunda Guerra Mundial, AlimentaçãoResumo
Este artigo busca, sobretudo através de uma revisão bibliográfica e do uso de obras memorialísticas, discutir o uso dos alimentos enlatados entre os brasileiros, em particular os soldados da Força Expedicionária Brasileira, em campanha na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Mais do que isso, procura mostrar que o objeto em si, a lata, recebeu novos e diferentes usos pelas tropas, atestando o seu poder de agenciamento material. Para tanto, este texto faz uso principalmente – embora não apenas – do trabalho da arqueóloga Nicole Boivin acerca da fisicalidade das coisas e da teoria do agenciamento da matéria, buscando demonstrar que os objetos podem exercer influências sobre a sociedade e a evolução humana. Ele ainda tenciona historicizar o cotidiano alimentar desses homens, mostrando a abrangência dos enlatados em sua dieta – quando esse tipo de alimento era ainda pouco difundido no Brasil –, bem como os usos que eram dados a tais objetos, por vezes diferentes do intuito original. Nesse sentido, é apresentado um panorama breve da trajetória dos enlatados, com foco no Brasil e nos Estados Unidos, onde eles simbolizaram, em parte, a abundância alimentar e o poderio industrial deste último país. O recorte temporal utilizado foi predominantemente curto, dentro da noção de evento pensada por Braudel. Finalmente, empregou-se considerável iconografia relacionada aos enlatados norte-americanos utilizados pelos brasileiros durante a guerra.
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